Minha chegada no Brasil foi deveras chocante digamos assim. Já no aeroporto troquei uns euros que me sobraram da viagem num guichê do safra. Taxa ruim que dói! Saindo dali fui abordado por um sujeito falando baixinho meio que escondido, me oferecendo uma taxa 10% maior! Oh blz, a informalidade que tanto amamos. Me senti um trouxa pois acabara de deixar 10% na mesa, ou melhor na mão do Safra, ajudando-os a ficarem mais ricos.
Bom eis que encontro um amigo que mora no Canadá, feliz da vida, apenas de passeio no Brasil para visitar sua família. Perguntei se ele não tinha saudade do Brasil e ele me disse: nenhuma!! Achei forte, mas aí ele me explicou como sua vida era melhor lá e deu pra entender.
Ouvindo nossa conversa, uma senhora que estava sentada perto também começou a expressar seu negativismo com o Brasil, o qual a fez ir morar em Miami a há 20 anos atrás.
Como se não bastasse pego o ônibus do Galeão para o Santos Dumont, onde embarcaria para Vitória. Um cara muito estranho entra no ônibus e óbvio que já fiquei meio tenso, junto a isso o caminho GIG-SDU não é o RJ bonito que todos gostamos. Ver favelas e viciados em crack é um choque de realidade interessante.
Enfim, em 3 horas no Brasil tomei um banho gelado de realidade, mas enfim, ainda acredito nesse país. Nunca a afirmação “sou brasileiro e não desisto nunca” me pareceu fazer tanto sentido!
Enfim, indo a macroeconomia, o que vejo é que o mergulho dos juros foi bastante forte. Inflação cada vez mais em queda e isso abre espaço para cortes intensivos de juros, mesmo com um cenário fiscal ainda em desequilíbrio. Essa é a turbina que segue ligada e movendo nossa bolsa. Esse é um driver que não pode nem deve ser desprezado.
Junto a isso o recente movimento de commodities também nos foi positivo, logo não me admira que nossa bolsa tenha reagido bem nos últimos dias.
Afinal esses 2 guardam alguma correlação não é mesmo? (em lilás o Ibovespa)
Dólar ficou comportado em meio a esse estresse político todo. E temos visto algum fluxo para nossa bolsa (fonte @LucasGneve), ainda que o saldo recente ainda seja negativo.
E hoje pela manha tivemos um dado que reforçou meu viés menos negativo em comparação a realidade que me circunda. O dado de produção industrial mostra que sim, estamos num caminho de recuperação econômica. Com ou sem Temer, Geddel e etc, a economia segue existindo. As coisas seguem acontecendo!
O olhar mensal também não é nada horroroso e foi melhor que o esperado…
Abrindo o dado nesse olhar mensal (sei que a figura não ficou boa, peço desculpas), chama atenção a boa performance de veículos (setor relevante), o que basicamente corrobora a tese de recomposição de estoques que é o call de recuperação macro desse ano. Informática, artigos de couro, fumo e artigos de vestuário, entre outros também se destacam na ponta positiva. Na ponta negativa eu diria que combustíveis e produtos farmacêuticos não foram bem.
Um resumo até aqui:
Em meio a um turbilhão de notícias políticas as quais não me atrevo escrever, até porque não gosto de comentar, nossa bolsa veio se recuperando minimamente com a entrada de fluxo estrangeiro com um cenário externo favorável – commodities se recuperando e calmaria internacional. Dólar está comportado, juros seguem “on track” e nossa economia se recupera, nos seus passos de tartaruga, mas ok. NotBad não é mesmo?
Mas óbvio o que nem tudo são flores e essa história que relatei no início é simplesmente uma fotografia da realidade. A de que não há confiança na retomada do Brasil. De que ainda estamos em uma situação complicada e os fatos novos da política (a partir do dia 18/05) não foram bem recebidos pelos agentes. Na última semana de junho tivemos os dados de confiança que mostraram isso que comentei com vocês no início deste post.
Vejamos:
O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) da Fundação Getúlio Vargas recuou 1,9 ponto em junho.
“A piora das expectativas em junho foi fortemente influenciada pelo aumento da incerteza após os eventos de maio e dos riscos de que estes possam impactar negativamente a economia. A Sondagem apurou piora das expectativas para o emprego e para as finanças familiares, o que, como em um efeito cascata, também reduzem o ímpeto para compras de bens duráveis nos próximos meses.“, afirma Viviane Seda Bittencourt, Coordenadora da Sondagem do Consumidor.
O Índice de Confiança da Indústria (ICI) da Fundação Getulio Vargas recuou 2,8 pontos em junho de 2017.
“Após alcançar, no mês passado, o maior patamar desde o início da recessão, em 2014, a confiança da indústria voltou a ceder em junho. As expectativas, que têm sido protagonistas na dinâmica da confiança, foram atingidas com o aumento da incerteza após a deflagração da nova crise política, em maio (…)”, afirma Tabi Thuler Santos, coordenadora da Sondagem da Indústria da FGV/IBRE.
Isso realmente preocupa. Junte a isso alguns economistas e gestores preocupados com o Brasil e ponto. Voltamos ao mau humor outrora vigente. A ideia da Ponte para o Futuro parece ter desmoronado e o ministro Meirelles tenta segurar no gogó alguma positividade com a economia.
Minha conclusão é: mais do que nunca um olhar micro apurado será necessário para se conseguir ganhar algum dinheiro na bolsa. Catalisador mor para mim são os juros que seguem caindo e isso me deixa otimista, mas daqui para frente foco é no micro!