O mercado de açúcar em NY fechou a semana como se nunca houvesse aberto. Depois de fazer novas mínimas no meio da semana, deixando furiosos aqueles que usam stops para disciplinarmente monitorar suas posições de hedge, a variação semanal foi de apenas 6 pontos de queda em relação ao fechamento da semana anterior. Isso para o vencimento maio/2013 que encerrou a sexta-feira cotado a 17,97 centavos de dólar por libra-peso. Os demais meses fecharam entre 1 ponto de baixa e 7 pontos de alta. Teria sido melhor ter ficado em casa assistindo House of Cards.
O começo mais lento na moagem de uma safra direcionada ao etanol diminui a possibilidade de entrega física de açúcar contra o vencimento maio na bolsa de NY, cuja expiração ocorre daqui a sete dias úteis. O spread maio/julho chegou a negociar com um prêmio de quase 5 dólares por tonelada refletindo essa preocupação.
Um respeitadíssimo analista do mercado de combustíveis observou essa semana em evento ocorrido no interior de São Paulo que "depois do apagão logístico, vem aí o apagão dos combustíveis". O crescimento do consumo de combustíveis não é acompanhado por melhorias na logística de importação de gasolina nem pela oferta de etanol que, apesar de uma safra que deve entregar mais de 25 bilhões de litros, ainda é insuficiente para atender à demanda potencial total de combustíveis. E a frota cresceu 7% nos últimos 12 meses. Um apagão dos combustíveis seria a “coroação” da eficiente administração Dilma que - parafraseando a capa da edição passada da revista semanal Veja - não está apenas "pisando nos tomates".
Escrevo esse relatório na estrada que liga São Paulo a Santos. Observo os letreiros luminosos na rodovia que informam aos motoristas que o tráfego de caminhões em direção ao porto está pesado e que existe congestionamento de 5 km. Esse é o custo Brasil que corrói boa parte da receita dos produtores, que pagam essa conta via frete abusivo ou via diminuição do basis (prêmio ou desconto comercial contra a bolsa) na hora de negociar os contratos FOB de seus produtos. O custo de produção médio do açúcar no Centro-Sul, por exemplo, é de 15,55 centavos de dólar por libra-peso posto usina.
O produtor paga mais de 200 pontos em média para levar seu produto até o porto. Compare isso com o custo logístico de outros países para ver como o Brasil é caro. Enquanto isso o governo queima dinheiro para patrocinar a Copa do Mundo e as Olimpíadas, “essenciais” para a vida do brasileiro. Brasília nos faz de palhaços, com todo o respeito que merece a classe dos alegres profissionais de entretenimento.
A dívida do setor sucroalcooleiro segundo diversas fontes do mercado é equivalente a R$85 por tonelada de cana moída. Se o Centro Sul vai moer 585 milhões de toneladas, podemos estimar então que a divida total é de R$49,7 bilhões. Usando como base a estimativa de produção da Archer divulgada no inicio desse mês, de 35,6 milhões de toneladas de açúcar e de 25,2 bilhões de litros de etanol, aos preços de fechamento dessa semana, o faturamento do setor deve ser de R$66,2 bilhões.
O desempenho das commodities esse ano provoca enxaqueca. Milho caiu 6,6%, açúcar 8,4% de queda, trigo derreteu quase 9% e os metais cobre, ouro e prata caíram 14%, 16% e 24% respectivamente.
Muito embora os fundamentos do açúcar apontem para baixo e continuem garantindo a felicidade geral dos baixistas, os fundos estão sobrevendidos e essa pode ser uma situação desconfortável. No pregão de sexta um volume de compra que totalizou 7,000 lotes elevou o mercado para níveis mais altos num piscar de olhos. Estima-se que os fundos tenham reduzido a posição para “apenas” 85.000 lotes vendidos (4,3 milhões de toneladas de açúcar).
As exportações brasileiras de açúcar em março de 2013 tiveram o melhor desempenho num mês de março de todos os tempos, com um volume de 1.940.373 toneladas. As exportações acumuladas de doze meses (abril/2012 até março/2013) alcançaram 26,8 milhões de toneladas, um acréscimo de 7,4% em relação ao mesmo período do ano passado. O valor das exportações de açúcar atingiu 13,589 bilhões de dólares.
No etanol, as exportações acumuladas de doze meses atingiram 3,48 bilhões de litros, crescimento de 84,1% em relação ao mesmo período anterior, e arrecadaram 2,4 bilhões de dólares (preço médio de 690 dólares por metro cúbico).
Tem coisa que não dá para entender e confunde os analistas mais atentos dos mercados de commodities e financeiro. Nessa sexta-feira ocorreu a oferta pública inicial de ações de uma empresa produtora de açúcar. O preço inicial era de R$15,00 por ação mais R$0,25 pagos por uma put (opção de venda) com preço de exercício de R$16,57 vencendo em 15 meses. A inclusão da put foi necessária para atrair os cautelosos investidores. Bem, o mercado iniciou a negociação a R$ 13,00, com baixa de 13%. Independentemente da sofisticada engenharia financeira criando uma call sintética com retorno de 7% ao ano, causa espanto que durante a semana um trader sênior do grupo, numa conferência na Europa, declarou que o preço do açúcar em NY deveria ir para 15 centavos de dólar por libra peso seguindo a paridade do etanol. A menos que o bônus da empresa seja pago hoje em puts, vai entender uma declaração dessas.
Uma boa semana para todos.