Câmbio: Reação Excessiva. Apreciação do Real é Incompatível

Publicado 26.06.2014, 08:00
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Apreciação excessiva do mercado imposta ao real tendo como justificativa à prorrogação do programa de oferta diária de 5.000 contratos novos de “swaps cambiais” até o final do ano, considerando-se que o contexto prospectivo indica sinais perturbadores para o mercado de câmbio, com diminuição da demanda por estes instrumentos próprios para “hedge” e intensificação da demanda no segmento à vista, que requisitará oferta em moeda estrangeira efetiva para atender à saída de recursos estrangeiros do país.

É verdade que o programa também estabelece a possibilidade do BC ofertar linhas de financiamentos aos bancos para que atendam ao aumento de liquidez, mas isto implica em aumento das posições vendidas dos bancos, que poderão estar dispostos a isto desde que as condições de arbitragens estejam favoráveis.

Mas a questão central e mais importante parece distante de ter perspectivas de solução. O fluxo cambial transposto de 2013 foi negativo em US$ 18,124 Bi e a melhora deste ano ainda é absolutamente insuficiente tendo reduzido esta insuficiência de ingressos para US$ 14,264 Bi, mas o fato é que as perspectivas que se vislumbram a partir dos mais recentes dados do setor externo pelo BC não sugerem recuperação de fluxos, mas sim piora, principalmente quando analisados de forma mais rigorosa se distanciando do otimismo com que ainda foram postos pela autoridade monetária.

A manutenção de uma oferta diária de contratos de “swaps cambiais”, como já salientamos, é importante para dar garantia a eventuais investidores estrangeiros, empresas nacionais que realizarem captações de empréstimos no exterior, bancos que incrementarem volumes de posições vendidas no mercado à vista, etc.., algo que não teria a mesma consistência se o BC tivesse optado por suprir eventual demanda existente com a “calibragem” das ofertas de rolagens de posições vincendas de contratos antigos.

No nosso entendimento, os contratos de “swaps cambiais” tendem a perder força de apreciação do real frente ao dólar, pois acreditamos que haverá ao longo do 2º semestre um movimento de transição da demanda mais intensa do mercado futuro (proteção) para o mercado à vista (saída), o que levará ao declínio da demanda destes instrumentos de “hedge” passando a exigir, caso se confirme a continuidade da insuficiência de fluxo cambial favorável como se presume, dólares efetivos ofertados diretamente pelo BC ou pelos bancos através a ampliação de suas posições vendidas, no todo ou em parte lastreadas por financiamentos da própria autoridade monetária.

É inegável que a manutenção de oferta de contratos de “swaps cambiais” novos de certa forma evita que à pressão de apreciação do real advinda do mercado à vista, venha a se agregar pressão adicional advinda do mercado futuro.

O movimento de transição que destacamos como presumível levará o mercado à vista à condição de formador do preço da moeda americana, o que atualmente ocorre a partir do mercado futuro.

Portanto, consideramos absolutamente assimétrica em relação à realidade presente a cotação da moeda americana em torno de R$ 2,20, agravado por cenário para o 2º semestre com perspectivas bastante desfavoráveis para o país no setor externo que sugere um déficit em transações correntes entre US$ 85,0/90,0 Bi e, mais uma vez, com IED´s insuficientes para financiá-lo e considerando que o fluxo positivo ocorrido no 1º semestre, insuficiente para resgatar as posições vendidas dos bancos advindas de 2013, teve parcela relevante de capitais especulativos que tendem à reversão no 2º semestre.

No nosso entendimento, o 2º semestre será bem diferente em relação ao 1º semestre no câmbio, prevalecendo a reversão de recursos externos ingressados ao longo do 1º semestre, que foi considerável e com grande participação de capitais especulativos.

Aliás, se observarmos detidamente os dados do fluxo cambial do ano já há sinais de reversão no fluxo cambial financeiro de forma mais acentuada visto que até o dia 20 último o saldo positivo do ano deste segmento era de tão somente US$ 345,0 M, apesar de terem ingressado no país ao longo do ano até aquela data US$ 233,4 Bi e muito provavelmente no período que resta para fechar o mês deve acabar consolidando-se em fluxo negativo. O saldo positivo do fluxo cambial total do ano até o dia 20 aponta US$ 4,106 Bi, dos quais US$ 3,761 Bi de origem comercial, claramente consequente das exportações das safras agrícolas.

Portanto, nem os dados do setor externo divulgado pelo BC na terça-feira e nem os dados do fluxo cambial até 20 de junho divulgado ontem suscitam otimismos, muito pelo contrário, que possam justificar otimismos e notoriamente a apreciação do real que esta sendo induzida ainda com o que resta de influência do mercado futuro, que, contudo, acreditamos tenda a perder supremacia para o mercado à vista, que passará a ser a base de formação do preço.

Nem mesmo o anuncio da retração do PIB americano anualizado em 2,9% no 1º trimestre do ano justificaria apreciação nos níveis atuais do real, visto que é um dado passado e justificável por circunstâncias pontuais que afetaram a economia do país, que, contudo, já tem dado mostras de recuperação neste 2º trimestre.

Todavia, como o anuncio pelo BC da continuidade do programa de oferta de “swaps cambiais” e sua forma ocorreu antes do final do mês, é inegável que se tornou interessante oportunidade para os “players” reverem posicionamentos comprados e vendidos dada inúmeras conveniências presentes, tais como final de semestre e apuração de resultados nos balanços semestrais, readequação de posicionamentos tendo em vista à perspectiva de apreciação da ordem de 10% a 15% no preço da moeda americana, etc., que podem sugerir pressão por uma PTax mais baixa na virada do mês.

Mas este momento é algo pontual, o 2º semestre poderá ter muitas perturbações no mercado de câmbio e tudo sugere ocorrência de volatilidade com viés de apreciação do preço da moeda americana, a despeito da intervenção do BC.

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