As cotações do café arábica registraram forte alta em agosto, devido especialmente aos avanços externos e do dólar. O Indicador CEPEA/ESALQ do tipo 6 bebida dura para melhor, posto na capital paulista, teve média de R$ 578,84/saca de 60 kg, avanço de 72,87 Reais por saca (ou 14,4%) em relação à de julho. Frente a agosto/19, o avanço foi de 27,7%, ou 125,48 Reais por saca (valores reais, deflacionados pelo IGP-DI de julho/20). Vale (SA:VALE3) apontar que, no dia 31, o Indicador foi de R$ 610,57/sc, o maior valor nominal de toda a série histórica do Cepea, iniciada em 1996. Em termos reais, no entanto, o maior valor diário foi registrado em 28 de maio de 1997 quando o Indicador foi de R$ 1.720,65/sc (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI de jul/20). A maior média real de um mês foi de R$ 1.443,95/saca também em maio de 1997.
No front externo, os futuros do arábica foram influenciados por fatores técnicos e preocupações com o clima (chuva e frio) no Brasil em meados do mês. A média de todos os contratos negociados na Bolsa de Nova York (ICE Futures) foi de 119,78 centavos de dólar por libra-peso em agosto, elevação acentuada de 13% frente ao mês anterior. Em relação ao dólar, teve média de R$ 5,459, elevação de 3,4% em relação a julho. Quanto aos negócios, foram fechados no físico especialmente nos dias de preços elevados. O alto percentual já comercializado em meses anteriores e o recebimento significativo de café nos armazéns limitaram novas negociações. Segundo agentes, considerando-se as entregas futuras e o que já foi vendido no mercado físico, estima-se que cerca de 50% da safra brasileira 2020/21 de arábica já tenha sido comercializada.
COLHEITA – Os trabalhos foram praticamente finalizados em agosto. Até a última semana do mês, a colheita estava entre 85% e 95% no Sul de Minas, maior região produtora. Em Garça (SP), os trabalhos estavam entre 87% e 95%. No Cerrado Mineiro e na Mogiana (SP), esse percentual era de 80% a 90%. Já na Zona da Mata (MG), cerca de 80% da safra havia sido colhida. No noroeste do Paraná, as atividades foram praticamente finalizadas. Segundo agentes, além da maior produção, a qualidade de bebida, a peneira e o aspecto dos grãos da temporada estão elevados.
Segundo dados da Conab divulgados em janeiro deste ano, o País deve colher entre 57,1 e 62 milhões de sacas de 60 kg de cafés arábica e robusta. Para a maior parte dos agentes consultados pelo Cepea, no entanto, esse volume deve ser superior, entre 62 e 67 milhões de sacas, mais próximo do apontado pelo USDA (de 67,9 sacas, em jun/20). Com a colheita em fase final, as principais influências nos preços do café no restante deste semestre devem ser, além do desenvolvimento da safra 2021/22 e do clima nos próximos meses, o posicionamento dos fundos na Bolsa de Nova York (ICE Futures), movimentações cambiais e a reabertura das economias ao redor do mundo (o que deve influenciar o consumo da bebida).
Os preços domésticos do café robusta continuaram subindo em agosto, influenciados pelas fortes altas do dólar e dos futuros e pela demanda firme. A média do Indicador CEPEA/ESALQ do tipo 6 peneira 13 acima no mês foi de R$ 390,18/sc de 60 kg, avanço de de 36,52 Reais por saca (ou 10,3%) frente a julho. O tipo 7/8 bica corrida teve média de R$ 378,90/sc, elevação de 36,44 Reais/sc (ou 10,6%) no mesmo comparativo. Em relação a agosto/19, as médias subiram 24,8% (ou 77,53 Reais/sc) para o tipo 6 e 25,4% (ou 76,88 Reais/sc) para o 7/8, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI de julho/20). Vale apontar que, no final de agosto, os preços voltaram a operar acima dos R$ 400,00/sc, mesmo patamar real observado em janeiro de 2018.
No cenário externo, os futuros foram impulsionados por fatores técnicos, pela entressafra no Vietnã e pelo aumento da demanda global. Neste caso, ressalta-se que a pandemia de covid-19 elevou o consumo nos lares, aquecendo as vendas de cafés solúveis e comuns. Assim, o contrato Novembro/20 do robusta negociado na Bolsa de Londres (ICE Futures Europe) fechou a US$ 1.429/tonelada no dia 28, elevação de 5% na comparação com o último dia útil de julho.
Além dos futuros, a alta do dólar no período aumentou a competitividade do robusta brasileiro, favorecendo as vendas do grão nacional. Agentes consultados pelo Cepea apontam que cerca de 55% a 65% do volume colhido no Espírito Santo da safra 2020/21 havia sido negociado até o final do mês. Em Rondônia, esse percentual é ainda maior, de 85% a 90%, devido ao alto volume fechado para entregas futuras.
CAMPO – Com a finalização da colheita em julho e o retorno das chuvas ainda no final daquele mês no Espírito Santo, floradas da safra 2021/22 foram induzidas. Agentes apontam que as flores já abriram em cerca de 55% a 75% dos cafezais. O clima mais favorável também tem favorecido o pegamento das flores. Ainda é cedo para estimativas mais precisas, mas colaboradores apontam que as floradas foram boas, cenário que é positivo para a próxima temporada. Além disso, com as vendas antecipadas e os preços elevados, produtores tendem a ter caixa para realizar os tratos nas lavouras. Já em Rondônia, o clima continua seco, e a abertura de uma florada mais significativa deve ocorrer apenas com o retorno das chuvas. Poucas flores abriram no estado no final de julho, especialmente devido à indução por irrigação. A continuidade das chuvas no Espírito Santo e o retorno das precipitações em Rondônia ainda são necessários para o bom desenvolvimento da temporada 2021/22.