No último sábado, durante uma conversa com um produtor, fui questionado se era possível que a cotação do contrato de Maio/24 do café arábica superasse os 220,00 cents. Minha resposta foi direta: sim.
A diferença de preço - spread - praticado no balcão em NY estava muito grande, cerca de 18 cents, devido à proximidade do vencimento dos contratos de opções e a rolagem de compromissos do contrato de maio/24 para julho/24. Portanto, não nos limitaríamos apenas ao 220,00 cents.
Desde a primeira quinzena do mês passado, observamos um aumento significativo na demanda de café por parte dos europeus e dos americanos, resultando em grandes despachos das compras pelos principais portos brasileiros. Toda essa movimentação foi confirmada através da divulgação do relatório de exportações da Cecafé na última quarta-feira (10/04), trazendo mais detalhes do que vimos acontecer nas praças de café do país.
Para os agentes mais próximos das negociações finais - entenda-se exportação - já era sabido que os volumes tinham sido grandes. Como podem ver no quadro abaixo, trata-se do melhor março de exportação desde 2021 e a segunda maior quantidade de sacas dos últimos doze meses.
São mais de quatro milhões de sacas em apenas um mês! A seguir, o quadro abaixo nos mostra de forma macro os destinos das exportações realizadas no primeiro trimestre:
Podemos fazer muitas afirmações e perguntas sobre os dados acima.
Produtor, você está vendendo seu café para a Europa? Para os Estados Unidos?
Quando vendeu seu café? Por qual motivo?
Nos aprofundando um pouco mais no relatório da Cecafé, temos o quadro abaixo que nos apresenta os principais países de destino do café brasileiro nesse primeiro trimestre:
Dos países que surpreenderam no volume de compra, é preciso destacar a Bélgica, o Reino Unido e o México. Dentre eles, é válido acompanharmos com bastante atenção a evolução da demanda no México, que, em teoria, teria capacidade de expansão no consumo de até 700.000 sacas de arábica por mês.
Vamos vender café brasileiro no México?
Em linha com meu último posicionamento publicado aqui no portal, em que contávamos com uma expansão do preço dos contratos futuros em NY ainda na primeira quinzena de abril, no caso de um cenário macroeconômico externo favorável, continuo bastante otimista em relação ao volume a ser negociado e exportado nas próximas duas semanas desse mês e na primeira quinzena do mês de maio.
Dada a amplitude e volatilidade da movimentação dos preços dos últimos dias, segue no quadro abaixo quais seriam os "topos e fundos" para o contrato de arábica de julho KCN24 a serem enfrentados nos próximos dias:
A situação vivida pelos cafeicultores vietnamitas é bastante parecida com o que os capixabas viveram em 2016. Seca, falta de planejamento comercial e juros altos têm contribuído para uma nova realidade de preços do café robusta em Londres. Os produtores do Vietnã não conseguem honrar compromissos de entrega, contratos com exportadores, fazendo com que o preço no mercado interno deles aumente de tal forma que seja possível viabilizar uma "saída" para o problema.
É óbvio que esse cenário ruim promove o aumento dos preços do café brasileiro, que tem servido para suprir a necessidade da indústria no momento de escassez dos grãos no mundo.
Temos aqui um ponto de inflexão no que diz respeito à legislação ambiental e trabalhista, uma vez que, no Vietnã, na Indonésia e na Colômbia, os custos de produção são muito menores, dado o compromisso menor com o estado. Só podemos considerar essa situação de preços altos como passageira. À medida que esses países se reestabelecerem na produção de café, poderemos ver uma retração expressiva nos preços do café.
Em algumas regiões no Brasil, já temos notícias do início da colheita de arábica, enquanto a colheita do conilon avança e a necessidade de um plano comercial e o gerenciamento de risco ficam a cada dia mais evidentes.
Críticas e comentários são sempre bem-vindos e contribuem para a evolução do nosso trabalho.
A todos, um excelente final de semana e bons negócios!