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Câmbio Desvalorizado é Bom para o Agronegócio. Até Quando?

Publicado 27.03.2021, 06:45
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Este texto resume uma oportunidade criada neste Governo Bolsonaro e reflete bem o clima de incerteza que afeta o Brasil. Esta oportunidade, fruto de um desequilíbrio, possivelmente de curto prazo, deve ser e está sendo aproveitada pelo agronegócio do Brasil.

Vou ilustrar esta situação com o negócio de exportação de açúcar e o comércio internacional de etanol.

Taxa de câmbio desvalorizada

Vamos considerar os dois primeiros anos do atual Governo no Brasil, ou seja, o período Janeiro/2019 a Janeiro/2021 e suas consequências para o país.

O Dólar Americano (US$) neste período desvalorizou pouco mais de 5%, em relação a uma cesta de moedas representativas do comércio global. A razão maior disto foi a redução de incertezas em nível global e a redução da aversão ao risco com a retomada da economia, vacinas de Covid-19 e a eleição de Joe Biden nos EUA. A geopolítica não atrapalhou.

Em contrapartida, e em condições normais, as outras moedas deveriam se valorizar e suas taxas de câmbio, expressas em moeda local/US$, deveriam cair.

E foi isto que aconteceu nos principais exportadores mundiais de açúcar. Neste caso, vale citar Tailândia, União Europeia, Austrália, México. Nestes países as reduções nas taxas de câmbio foram entre 0,3% (México) e 9,1% (Austrália), com média simples de 5,7%. Somente no caso da Índia, a taxa de câmbio se desvalorizou e aumentou em 3,9%.

E no caso do Brasil, maior exportador e produtor mundial de açúcar?

Tivemos uma super desvalorização da taxa de câmbio em dois anos. Esta aumentou em cerca de 39% e passou de R$ 3,80 para R$ 5,30 entre 02 janeiro de 2019 e 20 de janeiro de 2021.

Em outras palavras, aumentou muito a competitividade do Brasil nas exportações de açúcar e etanol e aumentou muito a proteção do Brasil contra importações de etanol, principalmente dos EUA e Paraguai.

Efeito nas exportações e importações

Nesta safra atual 2020/21 (Abril20/Mar21) as exportações de açúcar do Brasil serão um recorde e podem superar 32 milhões de toneladas. Na safra passada foram pouco abaixo de 20 milhões de toneladas. As exportações de etanol podem oscilar em torno de 3 bilhões de litros . Na safra passada, foram pouco abaixo de 2 bilhões litros.

Em contrapartida, as importações de etanol foram inibidas com o câmbio desvalorizado. Nesta safra podem alcançar a faixa de 0,6 bilhão de litros e na safra passada foram de 1,67 bilhão de litros.

Efeito nos preços e rentabilidade do negócio; Riscos

O efeito nos preços foi o melhor possível. Em outras palavras, “céu de brigadeiro”.

Quem define preços nos mercados de açúcar e etanol no Brasil, que produz ambos os produtos em escala relevante, é o mercado externo de açúcar, quando o petróleo e gasolina estão com preços relativamente baixos,

Desde 2019 o mercado global de açúcar opera em modo de oferta restrita. Desta forma, no período Maio/20-Jan21 os preços do açúcar no mercado externo mostraram tendência de alta. Naquele mês de Maio/20 o preço médio foi 10,60 ¢/lb; em Jan21, foi de 15,90 ¢/lb no mercado de futuros de NY – 1º vcto.

Combinando preços do açúcar em alta no mercado internacional com uma taxa de câmbio média mensal acima de 5,20 R$/US$, tivemos as seguintes consequências:

  • A exportação de açúcar se tornou economicamente viável, remunerando todos os custos e gerando um lucro extranormal para o produto. Isto é válido para Brasil e não vale para os principais exportadores mundiais do produto.
  • A oferta interna de açúcar ficou restrita e garantiu preços também remuneradores;
  • A produção de etanol, menos atrativo para o produtor, foi minimizada e, como consequência, sua oferta foi restrita. Com isto a recuperação dos preços do produto foi rápida com o suporte dos preços da gasolina, também em alta.
  • A receita líquida da agroindústria canavieira será superior a 20% daquela da safra passada e vai ser suficiente para cobrir todos os custos de produção, com lucro normal ou acima. Esta condição não acontecia desde 2016.
  • O Brasil tem uma condição privilegiada como exportador de açúcar graças ao dólar acima de 5,00 R$/US$. E tem aproveitado bem esta situação, com fixações de preços para exportação em 2021 e 2022.

Resumindo: tudo de bom aconteceu para o negócio brasileiro de açúcar e etanol nesta safra 2020/21. O risco que vemos daqui para frente estaria em duas frentes:

  • menor taxa de câmbio, muito dependente de aspectos domésticos de natureza social, política e econômica;
  • Preço do petróleo WTI cair para níveis abaixo de 50 US$/barril.

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