Conforme esperado
Você não está surpreso, pois soube antecipadamente, através de nossas análises.
O Governo Dilma abriu mão do grau de investimento meses atrás, e sacramentou sua derrota oficializando um déficit primário para 2016.
Daí em diante, foi só esperar alguns dias.
“A perda do investment grade não anula a estratégia de virada de mão?” - pergunta o leitor Milton M.
Em absoluto, Milton. Na verdade, é exatamente o contrário.
Ao ler nossa tese na íntegra, você deve ter percebido que o grau especulativo é na verdade uma condição necessária para a Virada de Mão.
Contávamos com essa condição, e com outros problemas que redundarão numa destruição criadora.
Até que não doeu tanto
Quando eu era pequeno, não entendia por que uma música chamada “Alegria, alegria” começava com dura frase: “Caminhando contra o vento”.
Agora eu entendo.
Nas palavras de Warren Buffett:
“Seja medroso quando os outros são gananciosos e seja ganancioso quando os outros estão com medo. Certamente, o medo está generalizado agora".
Investidores ingênuos imaginavam que o Ibovespa derreteria -10% pela manhã, acionando o circuit break da Bolsa brasileira.
Definitivamente, não foi o que aconteceu.
Apesar da abertura particularmente difícil para bancos, estatais e empresas endividadas, o IBOV segurou o tranco com a ajuda de exportadoras.
E, para todos os efeitos práticos, companhias sólidas como Ambev (SA:ABEV3), Cielo (SA:CIEL3), Renner e Ultrapar (SA:UGPA3) continuam precificadas como ativos de investment grade.
Elas demonstram o triunfo da eficiência privada sobre a incompetência do Governo.
As good as it gets
Os gringos também não ficaram tão surpresos com o downgrade brasileiro, elencando-o simplesmente como “mais uma notícia ruim para o país”.
Do ponto de vista estrangeiro, com dólar cada vez mais próximo dos R$ 4,00, a notícia nem é tão ruim assim.
Trata-se de uma chance única de comprar ativos brasileiros a preço de banana, num contexto de ampla liquidez externa e de recuperação da economia americana.
Tanto nas ações quanto nos fundos imobiliários, há verdadeiras barganhas à espera de quem fez caixa em moeda forte para comprar ao som dos canhões.
Ibovespa em dólares (linha branca) está em níveis compatíveis com 2005, quando o país também era muito junk.
Índice de fundos imobiliários (linha amarela) nunca apareceu tão descontado.
E depois de amanhã?
Em termos políticos, quais são as consequências prováveis do downgrade?
Os mais esperançosos entendem que Joaquim Levy sai vencedor do episódio, dando lição de moral àqueles que aceitaram o déficit primário em 2016.
Para os mais reticentes, deixou de existir o motivo para o ministro continuar ocupando a Fazenda.
Sinceramente, eu não sei o que vai acontecer com o status do Levy de agora em diante, mas também não me importo com isso.
A perda do grau de investimento é estampada em todas as capas de jornais, os principais empresários do país estão revoltados.
Imagine só o clima para aumento de impostos…
Só tem uma alíquota em evidência agora, e ela tende a cair.
Aqueles saudosos 7% de aprovação de Dilma tornaram-se um luxo.
Preço cai, yield sobe
Se você assistiu à nossa entrevista com o Schwartsman, entendeu que as grandes crises produzem também enormes oportunidades de lucro com a renda fixa.
Olha só, por exemplo, onde foram parar os títulos de dívida perpétua do Banco do Brasil:
Mediante a queda brutal no preço desses títulos, o investidor se depara com um rendimento recorde, denominado em dólares.