Temos observado com extrema sensatez o desenvolvimento do quadro político brasileiro, diferente do que ocorreu em 1964 e em 1982, e que polarizado tem se prestado a encobrir o gravíssimo estado deteriorado da economia brasileira, provavelmente num dos momentos menos favoráveis de sua história, pois não se trata só de reativá-la, mas de estancar o agravamento rápido e severo a que é submetida, no momento sem perspectivas de reversão.
Fala-se em Temer como novo Presidente de forma consumada, sem colocar-se obstáculos que inevitavelmente ocorrerão, e a partir dele se enumeram nomes estrelados os mais diversos para a composição do novo governo, com promessas de reativação da economia sem elevações de tributos, etc., ou seja o melhor dos mundos quando sabe-se de antemão que serão imperativas medidas duras e antipopulares para colocação das diretrizes mínimas da economia em ordem.
No nosso modo de ver não se deve esperar muito de nomes estrelados, normalmente muito personalistas, sendo muito mais relevante o alinhamento disciplinar com planejamento econômico e atitude determinada, que, naturalmente provocará inúmeros ruídos negativo.
Viabilizado o impeachment como se vislumbra no horizonte próximo, não se deve esperar seja passividade na postura do partido atingido que certamente imporá severa resistência e contestação, até mesmo da legitimidade do pretenso próximo Presidente, Temer, parceiro nos últimos anos e com representativo grupo de aliados com massiva participação partidária no governo atingido e que, inegavelmente, tem responsabilidades subjacentes inegáveis perante tudo que ora alega e busca se afastar.
Acreditamos que não será possível esta passagem de um lado para outro de forma incólume, o que sugere uma impertinente questão:
“Será Michel Temer efetivamente o próximo Presidente ou o PT o desejará fora do contexto o PMDB parceiro da mesma forma alijado do poder?”
As insinuações oriundas do governo falam em não promover passagem ordenada para que o Vice assuma caso o impeachment prevaleça, bem como há muito foco em novas eleições o que sugere que tentará legalmente impedir que Michel Temer seja efetivamente o novo Presidente.
Há, em nosso ponto de vista, muito a ocorrer e que demandará tempo, provocará perturbações e o Brasil verá agravar-se ainda mais o seu quadro de atividade econômica, com aumento dos problemas em torno da política fiscal e agravamento do desemprego, queda de renda e de consumo, aumento da inadimplência e queda cada vez mais da demanda por crédito.
Então, quando observamos o mercado financeiro “carimbando” como consolidado contexto que são perspectivas absolutamente incertas, surpreende-nos, pois a economia brasileira pode continuar se agravando e afundar mais, e o país não conseguir conviver com um ambiente político resolvido.
Afinal, quem em sã consciência pode afirmar qual será o Brasil de curto/médio prazo ante tantas duvidas e “ses” presentes em quaisquer análises contextuais que se procure construir?
Evidente que um novo governo com nomes novos melhora a perspectiva, caso se viabilize da forma contida e vista no anseio do mercado financeiro, mas não assegura nada além disto no curto/médio prazos de concreto, salvo de que serão imprescindíveis medidas corretivas duras e precisas que poderão afetar negativamente o humor da população já bastante afetada.
Então, a sensatez nos indica que a BOVESPA deveria manter um alinhamento mais condigno com o “status quo” predominante e não com a euforia fundada em perspectivas ainda muito duvidosas.
E o câmbio?
Preço está bastante desajustado com a realidade brasileira e isto pode determinar o reincremento das importações em detrimento das exportações, provocando reversão de expectativas em relação à balança comercial e déficit em transações correntes.
Por outro lado, num ambiente de severa ambiguidade que pode surgir do quadro atual, não acreditamos seja válido que se espere recuperação de credibilidade e atratividade do país em menos de 2 anos, sendo até relevante observar que o FMI ontem ratificou sua projeção, em linha com as análises nacionais, de queda de 3,8% do PIB em 2016, que acreditamos possa chegar a 5,0%, e 2017 estagnado.
O governo novo que se propaga como provável não terá forma de criar soluções rápidas para o grave problema da política fiscal que tem viés de agravamento dada a baixíssima atividade econômica da indústria, que pode ser ainda mais desestimulada com a manutenção do dólar em preço incompatível que viabiliza o ingresso de produtos importados de consumo final, substituindo o nacional, num ambiente já de consumo interno cadente.
Então, não esperamos que haja nos próximos 2 anos grande fluxo de investimentos em conta capital no Brasil, e dado o agravamento do conceito risco do país, nem mesmo em renda variável e renda fixa.
Investidores deverão buscar outros países emergentes, como Chile e Colômbia, em detrimento do Brasil.
A não rolagem de empréstimos vincendos deve persistir como decorrência do encarecimento e seletividade externa, provocando saída de recursos do país.
Todo o ambiente presente sugere que o preço da moeda americana esteja em torno de R$ 4,00 na atualidade.
Temos os bancos gerando liquidez “por ordem e conta do BC” que os vem financiando para não parecer que está gastando reservas cambiais, e, no momento representam posições vendidas de US$ 30,0 bilhões. Por outro lado, quando observamos o fluxo cambial que está negativo em US$ 6,0 bilhões até o dia 22 deste mês, verificamos que houve um bom saldo de fluxo cambial comercial de US$ 10,0 Bi, nos parecendo que a curva poderá ser agora cadente já que as grandes safras foram exportadas e não há câmbio relativo com saldo a contratar, enquanto do outro lado ocorreu a saída liquida de US$ 16,0 bilhões no fluxo financeiro.
O BC liquidou uma parcela substantiva dos contratos de swaps cambiais que se prestavam a hedge de passivos empresariais em moedas estrangeiras, reduzindo-os, acreditamos, a algo em torno de US$ 70,0 bilhões e buscou recompor o preço da moeda americana agregando a colocação de contratos de swaps cambiais reversos.
Mas, em nosso entender, o BC havia errado anteriormente ao provocar excesso de liquidez no mercado futuro com a manutenção da rolagem de contratos de swaps cambiais quando já ocorria saída expressiva de recursos do pais e que utilizavam hedge, que pode ter sido o fator de desequilíbrio gerador da apreciação do real, movida por especulação.
De concreto, oriunda de uma causa má, mas representando algo de positivo restante há a queda do IPCA decorrente da debilidade da atividade econômica. Já parece cabível a queda da taxa SELIC até pela sua baixa sensibilização da inflação que cai no momento por outras razões.
Nossa percepção é que o mercado financeiro convive com um ambiente absolutamente irreal e vem faltando sensatez, porque o problema Brasil é muito maior do que a questão política e é enganoso imaginar que esta também seja uma questão resolvida sem contratempos e severas perturbações.
Não se vê tempos sombrios para o Brasil até final de 2017, pelo menos.