Brasil: Certezas em Excesso Onde Só Prevalecem Consistentes Incertezas

Publicado 31.03.2016, 07:30
IBOV
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Temos a desconfortável sensação de que o mercado financeiro procura transparecer certezas sobre as quais não há, em absoluto, quaisquer convicções criveis neste momento.

Há uma manifesta postura de euforia sob os escombros de um governo que tende a cair pelos mais recentes indicativos, mas que não deveria fazer emergir certezas de que tudo será superado, nem mesmo o consenso político a respeito de eventuais nomes e programas num novo governo que poderá surgir buscando superar um “status quo” político econômico de altíssima complexidade e que, para realinhar minimamente o país em linha recuperatória, terá que utilizar medidas extremamente duras de ajuste, que poderão na largada causar profundo desapontamento a quem acredita em soluções mágicas e rápidas.

Parece estar faltando sensatez ou tudo que constatamos faz parte de movimentos oportunistas não sustentáveis, mas que estimulam o credo de que tudo será diferente e precifica os ativos absolutamente fora do tempo, já que inquestionavelmente será necessário não se ter expectativas tão positivas no curto/médio prazos, porque o insucesso também é um fator que deve estar na perspectiva.

Havendo a mudança no governo, não será tarefa fácil para ser duradoura e construir a convergência das oposições as questões políticas inerentes, estabelecendo afinal quem vai mandar e quem vai obedecer, para que se construa uma base de sustentação política ao novo governo constituído. Este já será um desafio enorme, pois certamente haverá choques de interesses.

Afora este fator, haverá a inevitável adoção de medidas impopulares que tenderão a afetar toda a população, construindo a sensação inicial de desapontamento, porém inevitável para o realinhamento do país na trilha da recuperação. Primeiro, a situação poderá piorar um pouco mais pela estagnação consequente do novo.

Então projeções prevalecentes, pelo menos na mídia, dos nossos parceiros economistas induzindo que as da inflação e do dólar serão mais baixas em 2016 são anseios e consequentes do estado deletério da nossa economia, mas quem pode, neste momento eivado de incertezas, projetar que o cenário prospectivo nestes quesitos não venha a piorar, a menos que a recessão piore muito e mesmo assim não se pode descartar que a inflação inercial continue prevalecendo insensível ao juro já que não há pressão de demanda e o país não venha a sofrer a intensificação da saída de dólares que já vem sendo sinalizada?

O BC que aparentemente atuou de forma errática com a sua intervenção encontra agora dificuldades de reverter a tendência forte de apreciação do real ancorada em posições especulativas vendidas em dólar no mercado futuro.

O país perdeu US$ 16,5 Bi líquidos de natureza financeira, que, em tese, deviam estar ancorados em hedge e que ao deixarem o país naturalmente provocaram um excedente de liquidez do instrumento contrato de swap cambial no mercado futuro, que deveria ter sido enxugado concomitantemente pelo BC com a interrupção da rolagem dos contratos vincendos e complementando com os contratos de swaps cambiais reversos, o que não fez na oportunidade. O BC com a atitude buscou segurar possível tendência de apreciação da moeda americana dada as tensões em torno das questões políticas e sinalizando opção pela excessiva liquidez motivou movimento especulativo consistente construído com a expansão de posições vendidas de dólar no próprio mercado futuro que agora estão resistentes à reversão pretendida e sinalizada pela autoridade monetária.

Por outro lado, o BC manteve a liquidez do mercado à vista, na ausência de auto solução com fluxos do próprio mercado, concedendo linhas de financiamentos e operações de venda a vista conjugadas com compra futura aos bancos, uma forma sutil de utilizar as reservas cambiais sem dar notoriedade ao fato e nem destaque, principalmente se considerarmos que o fluxo cambial é negativo, considerado o comercial e o financeiro, até o dia 24 em US$ 10,392 Bi, e havendo baixíssima probabilidade de que se altere ao longo do ano.

As posições vendidas dos bancos atingem US$ 30,482 Bi, dimensão do fluxo cambial faltante para atender a demanda do mercado, e que vem sendo financiada pelo BC, que, até então, consegue utilizar desta forma indireta de utilização das reservas cambiais brasileiras.

A balança comercial, a qual se atribui uma projeção de saldo positivo ao final do ano de US$ 43,5 Bi, chega quase ao final do 1º trimestre com saldo positivo de quase US$ 8,0 Bi, sugerindo que poderá ficar na faixa de US$ 30,0 Bi algo entre US$ 10,0 a US$ 15,0 Bi aquém da projeção. Devemos considerar que até o dia 24 haviam ocorrido pagamentos antecipados de exportações de US$ 9,8 Bi.

O Instituto de Finanças Internacionais (IIF) concluiu estudos que apontam que estrangeiros devem ter injetado US$ 36,8 Bi nos mercados acionários e de títulos dos países emergentes em março. Salientou que a América Latina, que tem sido rejeitada pelos investidores nos últimos meses, recebeu US$ 13,4 Bi, com as ações brasileiras recebendo mais de US$ 2,0 Bi “ajudadas pelos preços atrativos e pelo aumento das esperanças de mudança política”. Constata-se que o Brasil, que em fevereiro teve perda de recursos aplicados em ações e renda fixa algo que não acontecia desde 2009, já não atrai como antigamente, por isso é descabida a euforia que se verifica na Bovespa. A contração do volume direcionado para o país acaba por refletir no comportamento do fluxo cambial que tende a ficar negativo.

Não acreditamos que o novo possa atrair recursos estrangeiros sem conhecer composição e projetos focando a recuperação do país. É bem provável a ocorrência de um hiato no direcionamento de recursos ao Brasil.

O expressivo déficit primário já alcançado pelo país logo nos meses iniciais do ano deve agregar preocupações nos investidores estrangeiros e não se descarta novas manifestações das agências de rating.

Há, portanto, atipicidades sem fundamentos sustentáveis na Bovespa e no dólar, onde o mercado por seus “players” ao ver o BC um tanto confuso em suas ações de intervenção abusa da especulação e da resistência em fazê-lo, que está muito evidente face à situação política econômica do país.

Portanto, o contexto atual não sugere e nem dá suporte ao grau de certezas que vem sendo evidenciadas pelo mercado financeiro, já que prevalecem consistentes e relevantes incertezas no momento que não permitem se vislumbrem quais são as efetivas perspectivas.

O desemprego está aquecido inibindo renda e consumo, a perda de atividade industrial é persistente, a inflação, embora cadente, continua resistindo aos efeitos da recessão, enfim a perda de atividade econômica sugere aprofundamento da recessão, até mesmo com um novo governo, o que leva o governo a continuar arrecadando menos e ampliando o déficit primário.

Afinal, que certezas há? A rigor, nenhuma, só anseios e esperanças, mas a trajetória se configura amplamente dura.

Por isso é extremamente vulnerável a projeção de dólar mais baixo e inflação menor.

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