Publicado originalmente em inglês em 29/03/2021
A grande questão no petróleo é saber quem irá vencer ao final desta semana: a Opep+ ou aqueles que apostam na queda do mercado?
Os 13 membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo mais 10 aliados no âmbito da Opep+ venceram os dois primeiros rounds deste ano, quando conseguiram surpreender os vendidos a descoberto no petróleo, primeiro com um grande corte de produção em fevereiro-março e depois com a promessa de segurar a oferta até abril.
A aliança de produtores foi a grande vencedora desses dois eventos. O barril de petróleo americano West Texas Intermediate e o do britânico Brent saltaram cerca de 40% entre 4 de janeiro (um dia antes da primeira reunião da Opep+ em 2021) e 8 de março (pico tocado após a segunda reunião de 4 de março).
Mas, desde essas máximas, ambas as referências no petróleo recuaram 10% em apenas 10 dias.
Agora, com a terceira reunião da Opep+ chegando, em 1 de abril, as apostas são que a aliança, mais uma vez, segurará a oferta até maio, talvez reforçando ainda mais o corte.
Se a história servir de guia, o mais provável é que a aliança saia vendedora novamente.
No entanto, se considerarmos toda a volatilidade do petróleo, é possível que seus preços passem por uma correção nesta semana.
Com o Canal de Suez desbloqueado, o petróleo tem uma razão a menos para disparar
Há uma boa razão para suspeitar que as oscilações de preço dos últimos 10 dias no petróleo não acabaram. Com a liberação do navio Evergreen no Canal de Suez, após ter bloqueado uma das passagens mais importantes para transporte petrolífero por quase uma semana, os preços têm uma razão a menos para disparar.
As recentes oscilações no petróleo são incomuns em um mercado que, nos quatro meses anteriores, seguiu praticamente em linha reta para cima. A montanha-russa começou em 18 de março, quando houve uma queda de 7% parcialmente recuperada nos dois pregões seguintes. Desde a terça-feira, no entanto, o mercado ficou girando feito um ioiô, caindo e subindo cerca de 6% na quarta, para em seguida despencar 4% na quinta e recuperar quase tudo na sexta.
Nesta madrugada, entretanto, o WTI estava um pouco abaixo de US$ 60 por barril, em queda de 2,3% no dia. Em 8 de março, ele atingiu a máxima de quase US$ 68 desde a mínima de 30 de outubro um pouco abaixo de US$ 36.
Já o Brent era negociado um pouco acima de US$ 63, em queda de 2,2%. Em 8 de março, ele atingiu o pico acima de US$ 71, desde a mínima de 30 de outubro em torno de US$ 38.
A disparada do fim de outubro a meados de março no petróleo foi impulsionada por cortes de produção da Opep+ e otimismo com as reaberturas econômicas, graças ao avanço das vacinações contra a Covid.
Desde abril a Opep+ retirou do mercado uma oferta entre 9 e 11 milhões de barris por dia (mbpd).
Corte promovido pela Arábia Saudita foi o mais significativo, respondendo por 1 a 2 mbpd.
Em janeiro, quando muitos apostavam que o cartel elevaria a produção em meio a sinais de enfraquecimento da demanda, os sauditas cortaram mais 1 milhão de barris em fevereiro e março, fazendo os preços disparar. O ministro do petróleo saudita, Abdulaziz bin Salman, declarou naquele momento que tornaria "um inferno” a vida dos vendidos a descoberto no petróleo.
Quando a Opep+ se reuniu novamente no início deste mês para decidir sobre os níveis de produção, os sauditas novamente anunciaram um corte de um milhão de barris para o próximo mês, em vez de uma aumento de produção. A diferença, entretanto, foi o tom de Abdulaziz, que transpareceu grande preocupação com a demanda.
Na reunião desta semana para definir as cotas de maio, o dinheiro esperto deve ficar ao lado dos sauditas, que tentarão restringir a oferta novamente.
A Opep+ terá dificuldade para surpreender
Mas alguns analistas, como John Kilduff, sócio do hedge fund de energia Again Capital, acredita que a propensão do reino de surpreender chegou ao fim. Referindo-se às ações de Riad nas últimas duas reuniões da Opep+, Kilduff explicou:
“Na primeira vez, é uma surpresa. Na segunda, talvez. Na terceira? Acho que não. Acho que outro corte já está precificado, e o mercado está começando a não ficar sensibilizado com o show da Opep”.
Jeffrey Halley, diretor de pesquisa para Ásia-Pacífico da OANDA, concorda com Kilduff que a chance de uma elevação de produção pelo cartel é praticamente nula:
“Com os importadores asiáticos em ciclos de manutenção de refinarias, dispostos a usar o estoque, os preços do petróleo não devem sair em disparada nesta semana. Nesse cenário, a Opep+ tem praticamente zero chances de afrouxar as metas de corte de produção. Evidentemente, a aliança já nos surpreendeu antes, mas na direção de dar suporte aos preços, e não forçá-los para baixo”.
Volatilidade no petróleo deve continuar, principalmente para baixo
Halley também considera que as oscilações do mercado vistas nos últimos 10 dias devem continuar, com viés de baixa. Ele baseia sua visão na forma como o mercado afundou na segunda-feira com a notícia de que o navio Evergreen havia sido desencalhado no Canal de Suez.
“Se a situação do Canal de Suez estiver correta, é bem possível que a recuperação do petróleo pré-Opep+. Em razão da volatilidade da última semana, tudo indica que o Brent deve se movimentar até a extremidade inferior da faixa de US$ 60-65 por barril. Da mesma forma, o WTI deve visitar o fundo da consolidação semanal de US$ 57,50-62,50”.
Ouro continua com alvo acima de US$ 1.750
O ouro, enquanto isso, deve continuar sua corrida positiva, mas ainda anêmica, das últimas duas semanas, enquanto os investidores tentam encontrar uma forma de romper o nível intermediário de US$ 1700 e voltar para o nível de US$ 1.800.
No último pregão da semana passada, o ouro oscilou bastante antes de fechar levemente abaixo de onde estava na semana anterior. O mais importante é que o mercado não rompeu o teto de US$ 1.750 por onça, apesar de ter ficado a menos de US$ 4 de testar esse patamar.
Como sempre, o que está no caminho do ouro é o rendimento da nota de 10 anos do Tesouro americano, que deve ultrapassar o nível de 1,75%, além do Índice Dólar que pode registrar novas máximas na faixa de 92.
Tanto o ouro futuro como o à vista estava um pouco abaixo de US$ 1.730.
Associado a rótulos como “porto seguro”, “reserva de valor” e “proteção contra a inflação”, o ouro não fez jus a tais conotações nos últimos seis meses, afundando particularmente quando o mercado esperava uma alta da inflação. Em vez do metal, quem subiu foi o retorno dos treasuries.
O metal amarelo demonstrou a fé depositada em si pelos investidores no auge da pandemia, ao subir das mínimas de março de 2020 abaixo de US$ 1.500 até o recorde de US$ 2.100. Desde então, não para de cair, entrando brevemente em bear market no início do mês, quando se desvalorizou 20% até US$ 1.675.
Desde então, o ouro não demonstra qualquer vigor de que retornará à rota de recuperação.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. A bem da neutralidade, ele apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.