A expectativa cada vez maior de uma desaceleração nas duas maiores economias do mundo deve pesar sobre o petróleo novamente nesta semana, aumentando sua volatilidade, enquanto o ouro tenta se firmar no patamar de US$ 1800, apesar da sua vulnerabilidade ao todo-poderoso dólar.
A grande surpresa da semana ocorreu no trigo, que atingiu a máxima de 14 anos diante da notícia de que a Índia havia proibido a exportação de grãos, por causa da restrição de oferta interna.
Os mercados petrolíferos iniciaram o pregão de segunda-feira na Ásia com força, antes de virarem para o negativo horas depois, por causa de dados decepcionantes na China, incluindo vendas no varejo, produção industrial e desemprego.
Os preços do petróleo recuaram 10% no início da semana passada, por conta de temores de uma possível recessão nos EUA, antes de encerrarem a semana praticamente estáveis.
Uma recuperação similar nesta semana pode ser mais complicada diante da situação na China, maior país importador de petróleo.
“Os atuais bloqueios sanitários foram um problema terrível para muitas economias em 2020 e 2021”, disse o economista Eamonn Sheridan, em um fórum da ForexLive.
“É uma pena que a China não tenha conseguido lidar com os surtos de Covid-19, quando já avançamos para meados de 2022.”
As vendas no varejo da China caíram 11,1% em abril em relação ao ano anterior, mais do que o declínio de 6,1% previsto em uma pesquisa. A produção industrial recuou 2,9% em abril em relação ao ano anterior, em contraste com as expectativas de um leve aumento de 0,4%. O desemprego nas 31 maiores cidades do país atingiu uma nova máxima de 6,1% em abril, segundo dados que remontam pelo menos a 2018.
Os dados assumiram novo contorno no petróleo quando a China anunciou que houve uma redução de 11% no processamento do produto em abril ante mesmo período do ano passado, com a produção diária caindo para o menor patamar desde março de 2020, já que as refinarias diminuíram as operações por conta da demanda mais fraca provocada pelos bloqueios sanitários.
O “ambiente internacional cada vez mais incerto e complexo, aliado ao maior choque da pandemia da Covid-19 internamente, gerou novas pressões de baixa sobre a economia”, declarou o departamento de estatísticas da China, em comunicado.
O órgão disse que o impacto da Covid era temporário e que a expectativa era de estabilização e recuperação da economia.
Os preços do petróleo subiam 1% antes de se reverterem para uma baixa de 1,5% no início desta madrugada em Nova York.
O barril de Brent, negociado em Londres e que serve de referência mundial para o petróleo, fechou a US$ 111,55 na semana passada e disparou para US$ 112,68 no início das negociações, antes de despencar até a mínima da sessão a US$ 109,51.
Já o barril de West Texas Intermediate (WTI), negociado em Nova York e que serve de referência nos EUA, fechou a sexta-feira a US$ 110,49. Durante o pregão asiático, atingiu a mínima de US$ 106,72, depois de testar a máxima de US$ 109,80.
“Até agora, o nível de US$ 98 vem atuando como piso sólido para o WTI, enquanto a região de US$ 104-106 serve de resistência", explicou o analista técnico Sunil Kumar Dixit ao Investing.com.
“A consolidação com volatilidade na região de US$ 106 a 104 atrairá compradores, ao passo que uma fraqueza abaixo de US$ 104 pressionará o petróleo até US$ 101-99.”
Dixit acrescentou que um rompimento decisivo abaixo de US$ 98 invalidaria o viés de alta.
“Isso pode desencadear uma correção de US$ 18 a 20, expondo o WTI a US$ 88 e 75 no curto prazo”.
A gasolina atingiu preços recordes acima de US$ 4,50 por galão nos Estados Unidos, onde o diesel girava em torno de US$ 6. A disparada de preços, a pior dos últimos quarenta anos no país, fez o Fed empreender uma agressiva elevação de juros, ao mesmo tempo em que as cadeias de suprimentos globais enfrentam restrições, criando uma extraordinária dinâmica para o petróleo americano.
A diferença neste momento entre os preços do petróleo bruto e refinado é resultado de um exacerbado déficit de oferta, aliado ao retorno da demanda praticamente aos níveis pré-pandemia. Os estoques de diesel na Costa Leste dos EUA atingiram as mínimas de 1990. Fora da China e do Oriente Médio, a capacidade de destilação do petróleo registrou queda de 1,9 milhão de barris por dia desde o fim de 2019 até agora – também o maior declínio em 30 anos. As ofertas de diesel na Europa também estão sendo estranguladas pelas sanções do Ocidente aos produtos energéticos da Rússia.
Os dados econômicos nos EUA nesta semana serão observados de perto pelos investidores, na tentativa de avaliar se o agressivo aperto do Fed para conter a disparada da inflação resultará em um pouso suave ou forçado da economia do país.
A expectativa é que os números das vendas no varejo para abril, na terça-feira, mostrem um sólido avanço, graças às constantes vendas de automóveis. Os economistas estão prevendo um aumento de 0,8% após uma alta de 0,7% em março, apesar da inflação maior.
Os EUA também irão divulgar dados regionais sobre a atividade industrial, além de relatórios de construção de novas casas e vendas de casas existentes. A expectativa é de desaceleração nos dados do mercado imobiliário em razão do aumento das taxas hipotecárias.
O presidente do Fed Jerome Powell irá se pronunciar na terça-feira e deve reiterar que o banco central dos EUA elevará os juros em meio ponto percentual em cada uma das suas próximas duas reuniões.
Entre as outras autoridades do Fed a se pronunciar nesta semana estão: o presidente do Fed de Nova York, John Williams, presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, presidente do Fed de Filadélfia, Patrick Harker e o presidente do Fed de Chicago, Charles Evans.
Enquanto isso, nesta segunda-feira, o ouro avançava depois de atingir a mínima de três meses no pregão anterior, enquanto o menor rendimento dos títulos americanos mantinham a demanda pelo metal acima do importante nível psicológico ao redor de US$ 1800 por onça.
O contrato futuro do ouro para junho na Comex de Nova York girava em torno de US$ 1806 por onça na segunda-feira, após fechar o pregão de sexta a US$ 1808,20, uma queda de US$ 16,40, ou 1%, no dia. A mínima da sessão de sexta-feira foi a US$ 1797,45, nível mais baixo desde 30 de janeiro. O ouro para junho encerrou a semana passada em queda de 4%.
Apesar do repique de sexta-feira desde as mínimas, o ouro pode revisitar o território de US$ 1700 se não conseguir vencer uma sequência de resistências na região de US$ 1836 a 1885, afirmou o analista técnico Dixit.
“Como a atual tendência se tornou baixista, os vendedores devem se mostrar bastante ativos nessas regiões de resistência”, declarou Dixit, que toma como base para suas análises os preços do ouro à vista.
“Como o ouro virou para a baixa no curto prazo, as pressões de queda tentarão jogá-lo para US$ 1800 e depois 1780-1760. Um fechamento decisivamente acima dessa faixa pode estender a recuperação para US$ 1880, mas uma falha pode pressionar o ouro até US$ 1800-1780, ampliando o declínio para 1760 na próxima semana.
Mas se o ouro romper US$ 1848 e se firmar acima dele, sua recuperação pode se estender para US$ 1885 e 1900, acrescentou o analista.
No mercado de trigo, a Índia chegou a anunciar que proibiria a exportação do grão devido ao déficit de oferta interno, porém, mais tarde, disse que manteria a janela aberta para exportação do grão para países com déficit de alimentos em nível governamental.
O contrato futuro do trigo com entrega em julho em Chicago atingiu a máxima de US$ 12,49 por bushel após a proibição, pico mais alto desde a máxima de US$ 12,98 em março de 2008, alguns meses antes da eclosão da crise financeira naquele ano.
“A longa consolidação de US$ 2 no trigo concluiu um firme rompimento acima da faixa US$ 11,50-11,80 e se aproximou do patamar de US$ 12,00, fechando a semana com força”, afirmou Dixit.
“Se um rali consistente avançar acima da marca de US$ 12,00, a expectativa é que os preços entrem na faixa de US$ 13,50-14,00. A formação de rompimento mais amplo pode eventualmente levar a uma alta parabólica até US$ 15,50 no médio prazo”.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.