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Como principal moeda do comércio global, o dólar americano influencia diretamente os preços das commodities. Sua valorização encarece essas matérias-primas para detentores de outras moedas, reduzindo a demanda, enquanto sua desvalorização estimula o consumo e impulsiona o mercado.
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Apesar da flexibilização monetária nos Estados Unidos, com cortes consecutivos na taxa de juros no final de 2024, o dólar se valorizou devido à expectativa de políticas protecionistas sob a nova gestão de Donald Trump e um eventual aumento do déficit fiscal. O índice DXY permanece acima de 108 pontos, refletindo essa dinâmica.
Contrariando as expectativas, o último trimestre de 2024 apresentou uma surpreendente valorização do dólar, mesmo diante de um cenário de flexibilização da política monetária nos Estados Unidos, com três cortes consecutivos na taxa de juros entre setembro e dezembro, reduzindo-a de 5,375% para amplitude de 4,25%-4,5%. Esse movimento reflete as expectativas do mercado em relação à nova gestão de Donald Trump, marcada por políticas protecionistas que podem limitar o ciclo de cortes de juros.
Além disso, o aprofundamento do déficit fiscal do país tende a pressionar o Tesouro americano a oferecer prêmios de rendimento mais elevados para atrair investidores. Como resultado, nas últimas semanas, o índice DXY tem se mantido firmemente acima dos 108 pontos, o maior patamar registrado para janeiro nos últimos cinco anos.
DXY (Índice Dólar)
Fonte: Hedgepoint, Bloomberg
Gradualmente, alguns sinais começam a emergir e podem trazer desafios para o mercado de commodities em 2025. Com a manutenção da força do dólar, diversas moedas ao redor do mundo têm se enfraquecido, especialmente no mercado asiático, que durante grande parte de 2024 viu suas divisas se fortalecerem, mesmo com alguns bancos centrais da região reduzindo suas taxas de juros. Agora, o cenário cada vez se mostra mais desafiador para uma expansão monetária, o que poderá impactar o mercado de commodities j[a que juros mais altos tendem reduzir a atividade econômica.
Moedas Asiáticas (%, a.a)
Fonte: Hedgepoint, Bloomberg
O Japão é um desses exemplo, onde a forte depreciação de sua moeda tem dificultado que as autoridades monetárias alcancem a meta de inflação de 2%, o que poderá resultar em um aumento de juros no próximo dia 24 de janeiro. Situação semelhante ocorreu na Coreia do Sul, onde, apesar do impacto da recente crise política na macroeconomia do país, o banco central optou por manter os juros em 3%, oferecendo suporte ao Won que já sentia os efeitos do fortalecimento do dólar.
No entanto, nem todos os países adotaram uma postura mais hawkish. O Banco Central da Indonésia surpreendeu o mercado ao cortar a taxa de juros em 25 pontos-base, reduzindo-a para 5,75%, justificando a decisão com o argumento de que a inflação está sob controle. Da mesma forma, as Filipinas mantêm a inflação dentro da meta de 2-4% e sinalizam a possibilidade de novos cortes na taxa de juros, atualmente em 5,75%, nos próximos meses.
Por fim, essa mudança nos mercados asiáticos pode limitar o espaço para reduções nas taxas de juros, o que pode resultar em menor consumo de commodities. Isso não significa que algumas commodities não possam ter um excelente desempenho. Um exemplo disso são o café e o cacau, que registraram forte apreciação em 2024 devido a quebras de safra.