Analisando os dividendos de uma empresa
Hoje vamos falar um pouco sobre como investir em ações pensando em dividendos.
Olharemos para algumas métricas e critérios e chegaremos a uma conclusão se a empresa é (ou não é) uma boa empresa para se investir com foco em uma estratégia de renda.
O nosso exemplo de hoje será sobre a Itaúsa (SA:ITSA4), holding controladora do banco Itaú (SA:ITUB4).
Lembrando que, quando estamos falando de Itaúsa, estamos basicamente nos referindo ao Itaú. Isso porque a maior parte dos lucros da Itaúsa advém do “bancão” que tanto aparece no nosso dia a dia.
Vamos lá?
Critério 1: Dividend Yield
Antes de tudo, para refrescar a memória, vamos falar sobre o conceito de Dividend Yield, uma métrica muito relevante para quem gosta de investir em dividendos.
Esse importante indicador demonstra, em linhas gerais, a relação em porcentagem dos dividendos distribuídos sobre o preço da ação de uma determinada empresa.
Quer um exemplo? A empresa distribuiu 10 reais em dividendos nos últimos 12 meses e seu preço de tela hoje é de 100 reais. Logo, o Dividend Yield é de 10/100 = 10 por cento.
Olhando agora para a Itaúsa, ela apresentou um Dividend Yield na casa de 3 por cento ao longo dos últimos 12 meses, o que não brilha exatamente aos nossos olhos. No entanto, vale lembrar que o período envolve a situação de pandemia que ainda estamos enfrentando, logo, o número engloba uma distribuição que não reflete uma normalidade.
Para contornar esse ponto, vamos considerar o yield da Companhia em condições normais de temperatura e pressão. Em 2019, por exemplo, o Dividend Yield foi de quase 8,5 por cento, patamar extremamente atrativo.
Essa é uma rentabilidade que, inclusive, pode ser perfeitamente atingida novamente, é tudo uma questão do cenário voltar a ser mais favorável – eu, particularmente, já acredito numa trajetória de retomada em 2021, e 2022 deve ser ainda mais forte.
Isso dito, a minha sugestão é que, para começar a formar uma carteira de dividendos, considerando os níveis atuais de juros, você escolha Ações com um Dividend Yield de, no mínimo, 5 por cento.
Como eu acredito que Itaúsa tem plena capacidade de entregar esse nível considerando um cenário de retomada e normalidade, ela cumpre o critério de exigibilidade de yield que eu acredito ser razoável para uma estratégia de proventos.
Ponto positivo para Itaúsa.
Critério 2: Crescimento de dividendos
A empresa apresenta um crescimento de dividendos? Ou ao menos um comportamento de consistência?

No caso de Itaúsa, apesar de observarmos uma volatilidade na distribuição, a tendência é de dividendos crescentes.
Eu entendo que volatilidade e ciclicidade são coisas que não combinam muito com dividendos, mas isso não elimina a nossa conclusão de que os dividendos crescem. O pior dos mundos seria observar anos em que não há distribuição de dividendos, o que definitivamente não é o caso.
Em 2007, o dividendo foi de 0,09 real por ação. Já em 2019, o dividendo foi de 1,2 real por ação, o que nos mostra um crescimento expressivo – mais uma vez, 2020 não é o parâmetro mais correto de comparação dada a situação de pandemia, por isso comparei com 2019.
Como é possível observar um dividendo que apresentou crescimento, mais um ponto positivo para Itaúsa.
Critério 3: Payout
Também para relembrar, o payout é uma métrica que indica o quanto do lucro está sendo distribuído aos acionistas na forma de proventos (Dividendos e Juros sobre Capital Próprio).
O ideal, no geral, é não ter um payout que supere os lucros distribuídos no período. Ou então, em outras palavras, o ideal é não ter uma ação que pague mais do que ela lucra.
Mas por que isso? Uma das interpretações é de que um payout de 100 por cento (ou mais) pode indicar que a Companhia não está reinvestindo os seus lucros no próprio negócio. E reinvestir no próprio negócio é interessante para crescer, gerar mais resultado e, consequentemente, ter também mais espaço para dividendos.
É claro que isso varia muito de caso a caso: a empresa pode gerar tanto caixa que isso permite que ela distribua acima do seu lucro, mas acho que isso é uma circunstância menos frequente.
Considerando o payout da Itaúsa nos últimos 5 anos, encontramos aproximadamente um número de 65 por cento, ou seja, na média, a instituição distribui 65 por cento do seu lucro aos seus acionistas. A diferença disso (35 por cento) é utilizada para reinvestir os lucros no próprio negócio, o que é positivo para o ROE (rentabilidade ao acionista) em bons níveis.

Com um payout abaixo de 100 por cento, o que de certa forma já é uma característica que mostra uma certa sustentabilidade nos dividendos, entregamos outro ponto positivo para a Itaúsa.
Critério 4: Solidez financeira
Aqui olhamos para a alavancagem, buscando analisar uma certa solidez no balanço.
No caso de bancos, olharemos para o Índice de Basileia, que é um indicador da indústria de bancos que mostra o quanto a instituição está se alavancando, ou então, de forma mais detalhada, é a relação entre o capital próprio da instituição e o capital de terceiros (captações) que será exposto a risco por meio da carteira de crédito.
Quer um exemplo? Se um banco possui um Índice de Basileia de 20 por cento, significa que, para cada 100 reais emprestados, o banco possui patrimônio de 20 reais.

O Itáu tem apresentando um histórico acima do índice mínimo exigido pelo Banco Central do Brasil (11 por cento) e também acima da recomendação mundial (8 por cento). Atualmente, o índice está em 14,5 por cento e, quanto maior, certamente maior a solidez.
Ponto positivo para a Itaúsa.
Forte abraço