Como Diferenciar Preço e Valor de Uma Ação

Publicado 06.06.2019, 13:41

Na semana passada, trouxe à discussão a relação entre geração de valor e crescimento. Depois de escrever tal texto, refleti que seria interessante abordar a relação entre dois outros parâmetros importantíssimos no que diz respeito ao investimento em valor (ou Value Investing): preço e valor.

A grande máxima do mercado de ações, repetida por muitos, é: “compre na baixa e venda na alta”.

Esta frase pode fazer sentido, mas não nos dá uma direção bem estabelecida, de modo que o investidor iniciante pode ficar confuso, afinal, o que é alta e o que é baixa?

Há uma frase de Buffett, na qual ele diz que “preço é o que você paga, valor é o que você leva”. Este pensamento de Warren Buffett é a explicação mais sutil possível acerca da diferença entre preço e valor. Deste modo, podemos dizer que “comprar na baixa e vender na alta” é o mesmo que “comprar barato e vender caro”. Porém, isso ainda carece de melhores esclarecimentos.

Para o bom entendimento do conceito de valor no âmbito do mercado de ações, assim como trazido pelo Oráculo de Omaha em sua fala, citada acima, é necessário estar ciente do conceito de valor intrínseco.

Abordei este assunto em um artigo meu há algumas semanas. No entanto, para esta discussão, basta entender que o valor intrínseco está relacionado com o “verdadeiro valor” de um ativo financeiro, neste caso, uma ação.

Os investidores de valor possuem como uma das premissas mais básicas a intenção de comprar ativos abaixo do seu valor intrínseco. Isso pode ser entendido como “comprar barato”.

Já no que diz respeito à parte da venda, na minha visão de investimentos, acredito que esta deve ser realizada, geralmente, sob três circunstâncias:

  1. Surgimento de melhores oportunidades;

  2. Preço sobrevalorizado e valuation caro, diminuindo a margem de segurança e reduzindo a capacidade de entrega de bons dividendos; e

  3. Perda de fundamentos e deterioração.

A segunda circunstância é justamente “vender caro”, isto é, acima do valor intrínseco, num patamar que há vantagens significativas em realizar o lucro.

Neste ponto, eventualmente nos questionaremos sobre qual é o real valor de uma empresa ou ação, isto é, seu valor intrínseco. Não é suficiente realizar um investimento com base numa boa ideia, ou na crença de ser um bom negócio, é preciso comprá-lo a um preço justo.

O valor intrínseco não é uma informação conhecida, de modo que cabe ao investidor analisar uma série de fatores “fundamentais” e como eles influenciam na capacidade da companhia de gerar lucros e caixa. No caso do investimento em valor, geralmente se dá ênfase aos fatores tangíveis, incluindo o fluxo de caixa.

Após realizar a estimativa do valor intrínseco com base nas premissas consideradas, o investidor deve operar com margem de segurança, para proteger o investimento de eventuais erros em sua estimativa. Além disso, segundo Benjamin Graham, o potencial de retorno é maior quando se realiza um investimento adotando grandes margens de segurança.

Diante de uma estimativa do valor intrínseco, é necessário comprar o ativo no preço certo, mas para isso, é preciso saber em que os preços se baseiam.

No longo prazo, o preço tende a oscilar em torno do valor intrínseco, se referindo à capacidade da companhia de utilizar o capital dos acionistas para gerar retorno.

Já no curto prazo, os preços são amplamente afetados por diversos fatores “não-fundamentais” (não relacionados aos fundamentos da empresa). Dentre estes fatores, podemos destacar o psicológico, que é capaz de gerar flutuações suficientes para que bolhas econômicas sejam estabelecidas, levando o preço a patamares que se desconectam do valor.

Os fatores psicológicos influenciam as atitudes de outros investidores, consequentemente, influenciando as nossas próprias atitudes. Por isso, é importante buscar entender a “psicologia do mercado”, além de tentar manter nosso próprio psicológico alinhado com os fatores fundamentais durante as tomadas de decisão, evitando armadilhas psicológicas que comprometem o desempenho do investidor.

Por fim, aproveito para ressaltar a importância de estar ciente de que comprar barato não é garantia de um bom investimento. Eventualmente, os investidores podem se enganar sobre o valor intrínseco de uma companhia, eventos externos podem reduzir seu valor, ou também, o preço pode permanecer por longos períodos sem convergir para o valor. Além disso, deve-se analisar caso a caso, ainda que se observe um grande desconto no preço em relação ao valor intrínseco.

Segundo Howard Marks: “Tentar comprar um ativo por preços abaixo do valor intrínseco não é infalível, mas é a melhor chance que se pode ter”.

Valor pode ser crítico, mas não tem sentido sem a perspectiva de preço.

 

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