Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com. Publicado originalmente em inglês em 11/12/2020
As ações ao redor do mundo não pararam de subir desde março. Trata-se de um rali impulsionado pela liquidez, responsável por fazer as empresas com as maiores taxas de crescimento de lucro atingirem as mais elevadas avaliações de mercado em décadas. Até mesmo o S&P 500 viu sua relação P/L disparar acima de 20, com base nas estimativas de resultado de 2021.
Quem é responsável por isso são os juros superbaixos gerados pela agressiva política monetária para enfrentar a pandemia de coronavírus. Isso fez com que os investidores buscassem novas formas de avaliar as ações e o mercado de forma geral. Mas, apesar de essas métricas criativas terem ajudado a impulsionar o mercado, elas não mudam a realidade da situação: as ações estão historicamente supervalorizadas.
S&P 500 ante o PIB dos EUA
Perceba que o S&P 500 está sendo negociado bem acima de 150% do PIB dos EUA, seu nível mais alto de todos os tempos. E sim, o PIB americano se recuperará forte nos próximos anos, superando as máximas de 2019 de quase US$ 20 trilhões. Mas deve levar algum tempo para ultrapassar US$ 30 trilhões, que é a capitalização de mercado de todo o S&P 500 atualmente.
Sendo criativo
Sem dúvida, se recorrermos à criatividade, seria possível defender que o S&P 500 irá mais do que dobrar em relação ao seu nível atual de 3.700 neste mundo de juros baixos. Considere, por exemplo, o dividend yield do S&P em torno de 1,5%, que está 60 pontos-base acima da taxa do título de 10 anos do Tesouro americano.
Historicamente, essa métrica do S&P 500 apresenta um desconto em relação ao treasury de 10 anos. Apoiando-se nessa lógica, o S&P 500 teria que subir muito mais para fazer seu dividend yield ficar a 90 pontos-base ou abaixo disso. Nos últimos doze meses, o S&P 500 tem um dividendo em dinheiro de cerca de US$ 58,85, ou seja, esse índice de mercado precisaria subir até cerca de 6.500.
O outro lado da mesma moeda
Utilizando o método da taxa de rendimento do S&P 500, é possível constatar que o índice é negociado a 4,5% com base em estimativas de resultados de cerca de US$ 165 por ação em 2021. Ou seja, o S&P 500 é negociado a cerca de 22,5 vezes essas estimativas de lucro em 2021. Mas, pegando a taxa de rendimento e comparando-a à taxa do treasury de 10 anos, percebemos que o spread é de cerca de 3,6%. Esse spread está exatamente em linha com o nível em que o S&P 500 se encontrava em janeiro, antes da pandemia de coronavírus.
Mas, ironicamente, mesmo sendo negociado ao mesmo valuation que a taxa do treasury de 10 anos com base no rendimento das ações, se considerarmos sua relação P/L, o S&P 500 está muito mais caro do que em janeiro, quando essa métrica estava a 19 vezes as estimativas de resultados para um ano.
O inverso de 1999
Isso cria um problema interessante e complexo. Se o múltiplo prospectivo de resultados a 22 está muito caro, isso faz com que a taxa de rendimento ajustada a juros baixos seja correta ou sustentável? Será que o mercado criou uma nova forma de avaliar o S&P 500 e as ações, em geral, para justificar essa incrível alta?
Observando o problema de outra perspectiva, a taxa de rendimento de hoje do S&P 500 só ficou igual ou inferior ao seu nível atual em outro período desde 1985. Evidentemente, só faria sentido se esse período tivesse ocorrido em 1999 e 2000.
Ironicamente ou não, esse foi outro período em que os investidores estavam tentando compreender os valores excessivos do mercado de ações. Naquele período, os juros estavam elevados. Mesmo assim, a economia estava a todo valor, com altíssimas taxas de crescimento, novamente justificando as elevadas relações P/L, o que é o inverso da taxa de rendimento.
Chame isso de coincidência se achar melhor. Mas as similaridades são impressionantes. Os mesmos valuations superelevados e uma narrativa exatamente oposta. Usando o inverso da mesma métrica de valuation, com o mundo sem crescimento e juros baixos de hoje, em comparação com o forte crescimento e os juros elevados de 1999.
Não importa o elevado P/L ou a baixa taxa de rendimento, é a mesma coisa, mas dita de forma diferente.