Às vezes, paro para refletir acerca da interação dos mecanismos do mercado de capitais que geram valor para os investidores.
Assim, acabo caindo num ciclo de pensamentos a respeito de geração de valor e crescimento. Sobre este assunto, cabe encaixar uma passagem interessante de uma carta anual de Warren Buffett aos acionistas da Berkshire Hathaway:
“Nós selecionamos nossos investimentos, majoritariamente do mesmo jeito que avaliamos negócios para aquisição em sua totalidade. Nós queremos negócios que (a) entendemos bem; (b) com expectativas favoráveis para o longo prazo; (c) operados por pessoas honestas e competentes; e (d) disponíveis a um preço atrativo”.
Particularmente, concordo com este trecho integralmente.
No entanto, uma grande dificuldade oriunda deste conceito é definir o que se entende por “atrativo”. Muitos analistas sentem que devem escolher entre as abordagens opostas: a de geração de valor ou a de crescimento. Na verdade, o que alguns não percebem é que elas não são opostas, sendo possível escolher as duas.
Assim, também concordo com o que Buffett diz sobre geração de valor e crescimento: estas duas abordagens são inseparáveis.
Crescimento é sempre uma componente no cálculo da geração de valor, constituindo uma variável cuja importância pode variar de negligenciável a enorme e, cujo impacto pode ser tanto negativo quanto positivo.
Isto é, essencialmente, a geração de valor é determinada pelo retorno no seu investimento inicial.
De certa forma, isso é um pouco óbvio, porém, gostaria de enfatizar algumas possíveis fontes que, quando combinadas, configuram importantes caminhos para o retorno ao investidor.
A primeira fonte de retorno é oriunda do aumento nos múltiplos dos ativos, por exemplo, quando o mercado atribui uma razão de Preço/Lucro maior para a companhia, indicando que pela situação do ativo, ele merece um valuation maior.
Os investidores em valor geralmente investem com base em preços que julgam ser bastante descontados, pela expectativa de, em algum momento, o mercado reavaliar o preço dos ativos, precificando-os em um patamar acima. Benjamin Graham e Walter Schloss são grandes investidores que tiveram bastante sucesso com esta prática.
A segunda fonte possível de retornos vem dos resultados internos do negócio em si. Por exemplo: o mercado pode manter continuamente o preço de um negócio como sendo 10 vezes o seu lucro. Mas se a companhia cresce internamente, ou realiza fusões e aquisições, fazendo com que, consistentemente, seu lucro aumente ao longo do tempo, o preço da ação consequentemente também cresce, mantendo o múltiplo constante no patamar de 10 vezes.
A terceira possível fonte vem das decisões de alocação de capital feitas pelos gestores da companhia. Neste caso, é possível ter retornos positivos em um investimento mesmo sem mudanças no valuation (primeira fonte) e sem melhorias na performance do negócio (segunda fonte). Este resultado pode ser realizado por meio de geração de valor para o acionista, tanto por pagamento de dividendos quanto por recompra de ações, por exemplo.
Valuation e crescimento são duas variáveis para determinar a geração de valor. Usando as três fontes, podemos criar uma “equação” para resumir os tópicos: valuation, crescimento e alocação de capital determinam a geração de valor.
Portanto, nos melhores casos de investimento, existe uma combinação de todos os três fatores, criando um efeito composto que aumenta exponencialmente o retorno para o acionista.
Cabe enfatizar, entretanto, que uma combinação favorável destas características não é suficiente para determinar se o investidor está comprando algo que vale o que está sendo pago. De modo que se faz necessária uma análise mais profunda do investimento.
De acordo com Joel Greenblatt: “Investimento em valor é simplesmente descobrir o quanto alguma coisa vale e pagar muito menos por ela”. É isso que sempre busco, defendo, e desejo ensinar ao próximo.