Ainda não está claro se os EUA já estão em recessão ou se ela ocorrerá em breve no país e no mundo. Mas, diante do aumento dos rumores a respeito dessa possibilidade, os investidores precisam estar preparados para suas repercussões na cotação do petróleo.
Ainda não se sabe ao certo se, de fato, teremos uma recessão pela frente. O CEO do JPMorgan (NYSE:JPM) Chase, Jamie Dimon, vê uma possibilidade real de que isso ocorra, principalmente se o Federal Reserve continuar elevando as taxas de juros. Na visão de Dimon, há uma chance em três de haver uma “leve” recessão daqui a seis ou nove meses, com boas possibilidades de ser mais intensa.
O ex-presidente do banco central dos EUA e professor de Princeton, Alan Blinder, defende que uma recessão é “bastante factível”, estabelecendo uma probabilidade de 50 a 60%.
Nos últimos dias, muito se discute como os preços altos do petróleo poderiam contribuir para uma contração econômica, mas pouco se fala a respeito de como a cotação do barril pode reagir em caso de uma recessão global. O economista Kevin L. Kliesen, da sucursal do Federal Reserve em St. Louis, escreveu, em 2001, que, durante o período inicial do pós-Segunda Guerra Mundial, os ciclos de contração econômica não foram precedidos de preços altos para o petróleo. Nos quatro trimestres anteriores às contrações de 1948-49, 1953-54, 1957-58, 1960-61 e 1969-70, os preços relativos de energia só subiram cerca de 1,5% em média.
Desde o início da década de 1970, no entanto, os preços de energia aumentaram em média 17,5% antes das recessões econômicas. Lembre-se de que esse período corresponde à época em que os Estados Unidos ainda dependiam muito das importações de petróleo para satisfazer o crescimento da demanda interna. Também coincide com a emergência da Opep como importante influenciadora do mercado petrolífero.
Os preços altos do petróleo são geralmente citados como a causa de uma recessão. O mais correto, entretanto, seria dizer que os preços elevados do barril ou um choque petrolífero devem ser descritos como um catalisador ou contribuidor de uma recessão. Raramente o petróleo em si é a razão para um fenômeno econômico desse tipo.
Uma recessão econômica é um evento multifacetado, e os preços dos combustíveis em si não são sua causa. Contudo, a Opep e alguns dos maiores produtores petrolíferos, como Arábia Saudita, geralmente afirmam que procuram evitar preços muito elevados, no intuito de evitar uma recessão global.
Outra questão de maior relevância para os investidores é determinar como uma recessão pode acabar impactando a cotação do barril.
Impactos de uma recessão nos preços
Uma recessão pode jogar os preços do petróleo para baixo com força. Durante a crise financeira de 2008 e a “Grande Recessão” que se seguiu, a cotação do barril caiu de US$ 134, em junho, para US$ 39 em fevereiro do ano seguinte.
No entanto, os preços não continuaram deprimidos por muito tempo, já que a Opep implementou cortes de produção, e os estímulos governamentais, juntamente com o temor da inflação, aumentaram as compras de commodities. Os preços do petróleo tendem a cair durante recessões, a menos que haja algo artificial dando-lhes suporte, como durante a década de 1970, quando a Opep conseguia definir o valor de mercado do produto.
Mas, hoje, a Opep não está diretamente envolvida na definição direta dos preços. Se houvesse uma recessão neste momento, a cotação do barril provavelmente cairia em razão do recuo de demanda, juntamente com a desaceleração da atividade econômica, deixando os especuladores nervosos.
Não está claro se a alta da inflação, dos preços dos combustíveis e a desaceleração da atividade econômica afetarão o sentimento dos consumidores neste meio de ano. De acordo com uma pesquisa da GasBuddy sobre as viagens anuais de verão nos EUA, 58% dos norte-americanos planejam pegar a estrada, apesar dos preços mais altos da gasolina.
Os participantes da pesquisa ficaram preocupados com a inflação e os preços nas bombas, mas disseram que manteriam seus planos de viagem no verão. No entanto, de acordo com dados da agência de informações energéticas dos EUA, a demanda está começando a “mostrar sinais de rachaduras” devido aos preços mais elevados.
Com exceção de 2020, a demanda de gasolina está em seu patamar mais baixo para esta época do ano desde 2013 e cerca de 5% abaixo do registrado no mesmo período do ano passado. Esses dados podem indicar que os consumidores estão mudando seu comportamento devido às condições econômicas, embora ainda seja muito cedo para dizer se essa tendência persistirá no verão.
Uma recessão nos próximos meses constituiria uma situação sem precedentes em vários aspectos. Ainda estamos nos recuperando de mais de dois anos de restrições ao comércio e à atividade social.
De fato, as viagens aéreas ainda não retornaram plenamente aos patamares de 2019. Toda a indústria de viagens sofreu um grande baque.
Uma recessão neste momento atrasaria a recuperação plena e possivelmente estabeleceria uma base menor para os níveis comerciais, com menos movimentação global e menos produção em geral. Mesmo assim, a maioria das recessões têm vida curta, dando lugar a fortes retomadas. A crise financeira de 2008 foi uma espécie de anomalia, com um gráfico estranho, na forma de um V alargado. Ainda assim, a cotação do barril se recuperou forte.
A questão, no entanto, é saber se o recuo dos preços do petróleo permitiria um repique de volta à cotação atual acima de US$ 100 ou aos níveis pós-pandemia aos quais nos acostumamos em 2021, de cerca de US$ 80. Essa é a grande incerteza.