SmartFit (SMFT3): Muita expansão e pouco lucro, a tese que ninguém quer enxergar

Publicado 30.11.2025, 10:06

Lembro como se fosse hoje. Em meados do mês de julho de 2021, a Smart Fit estreava na bolsa com um brilho quase hipnotizante. A empresa levantava cerca de 2,3 bilhões de reais em seu IPO, era tratada como a joia do setor de fitness e carregava a promessa sedutora de transformar academias em um negócio de escala continental, lucrativo e previsível.

O entusiasmo era tão grande que muitos analistas enxergavam ali o início de uma nova era para o mercado de wellness na América Latina. Um case de crescimento rápido, execução impecável e um futuro que parecia ilimitado. Mas o tempo, como sempre, é o juiz mais honesto do mercado. O que antes era interpretado como expansão estratégica hoje levanta dúvidas incômodas, pelo menos para mim.

A velocidade da abertura de novas unidades deixou de ser apenas um símbolo de força e começou a mostrar um lado menos romântico: o custo real de crescer a qualquer preço. A narrativa otimista daquele julho ensolarado se mantém viva nas apresentações corporativas, mas os números, a operação e o próprio comportamento do consumidor contam uma história diferente.

Quando crescimento vira obsessão, a lucratividade tende a ser a primeira vítima. E no caso de SMFT3, o mercado parece disposto a ignorar um conjunto de alertas que não deveria ser ignorado. E é justamente essa história, menos comentada e bem mais dura que quero (na minha visão) contar e que o investidor prudente precisa encarar agora.

A expansão acelerada parece mais um movimento de desespero do que de estratégia

A abertura massiva de unidades é frequentemente interpretada como “confiança no mercado”, mas existem sinais claros de que pode ser o oposto: uma corrida para manter a narrativa viva antes que os números comecem a mostrar perda de fôlego. Abrir centenas de academias por ano não é só caro, é arriscado em múltiplos níveis!

Unidades novas operam com margens fracas, precisam de capital intensivo e demoram a consolidar base de alunos. Em qualquer ambiente econômico desafiador, esse modelo se torna frágil. Metaforicamente falando: a Smart Fit parece que não está construindo musculatura; parece que está inflando rápido demais, correndo o risco de perder a sustentação do próprio peso.

Margens que não refletem o otimismo e uma alavancagem que preocupa

Uma empresa que cresce saudável produz aumento consistente de margens. Não é isso que se vê. O endividamento sobe para financiar expansão, mas o retorno ainda não acompanha. É a receita clássica de uma empresa crescendo mais rápido do que deveria. Com juros altos, a dívida se torna mais cara e exige resultados que as novas unidades não são capazes de entregar imediatamente.

Quando a estrutura financeira estica demais, o risco não é uma simples compressão de margens; o risco é uma reversão brusca de expectativas. O mercado precifica a Smart Fit como se estivesse diante de um case infalível, mas números recentes mostram um cenário muito menos glamuroso.

Experiência ruim do cliente e reputação desgastada: o elefante na sala

O modelo de recorrência só funciona quando a experiência do cliente é sólida. E aqui está um problema que o mercado simplesmente não quer enxergar. Reclamações sobre superlotação, brigas entre alunos, dificuldade para cancelar planos, atendimento inconsistente e manutenção deficiente são frequentes. Não são mais ruídos isolados.

Tornaram-se um padrão! Em redes gigantes, esse tipo de desgaste vira risco sistêmico. O churn sobe silenciosamente; O custo de aquisição cresce; A percepção de valor cai! Ou seja, a Smart Fit pode até abrir mais academias, mas não há expansão geográfica que corrija uma deterioração estrutural na experiência do usuário.

Os cenários de valor justo mostram uma realidade incômoda

Não se empolgue com a alta da empresa em 2025 (aprox. 56%), pois infelizmente, já é passado! Ou seja, mesmo que em condições favoráveis, o upside projetado não é tão empolgante quanto o mercado sugere. Porém, o downside é significativo.

Cenário Pessimista: R$ 18 a R$ 20 por ação

Se a maturação das unidades atrasar, se o churn continuar pressionado e se os problemas operacionais persistirem, a Smart Fit perde margem, perde eficiência e perde tese. Este cenário está longe de ser improvável.

Cenário Base: R$ 22 a R$ 25 por ação

O cenário mais sensato. Mesmo com execução razoável, o espaço de valorização é limitado. A Smart Fit já precifica parte relevante do otimismo. E não entrega, consistentemente, o suficiente para justificar múltiplos muito altos.

Cenário Otimista: R$ 27 a R$ 30 por ação

Este é o cenário que muitos investidores tratam como “base”. E aqui mora o perigo, pois é um erro! Ele exige execução quase perfeita em dezenas de países, centenas de unidades novas e uma economia favorável. É o tipo de projeção que funciona no Excel e em podcast de finanças, mas raramente na vida real.

Minha conclusão

A Smart Fit é uma empresa competente, mas está caminhando perigosamente para um modelo em que o crescimento vira fetiche e o resultado fica em segundo plano. O mercado ainda compra essa narrativa porque vê academias novas abrindo todos os meses (aprox. 1 por dia em 2025), mas esquece que número de portas abertas não paga dívida, não aumenta margem e não reduz churn.

Com expansão agressiva, endividamento crescente, desgaste na experiência do cliente e dependência de um consumidor pressionado economicamente pela economia real, a ação carrega riscos relevantes que muitos investidores parecem ignorar. O investidor que adota postura prudente não deveria se perguntar quanto SMFT3 pode subir, mas sim, quanto pode cair se a realidade bater antes da narrativa.

Um forte abraço!

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