FLRY3: Ações da Fleury viraram Black Friday?
Na semana passada, nossa conversa terminou em um tom de alerta. Falamos sobre como a proposta de isenção do Imposto de Renda, sem uma fonte clara de recursos, havia acendido uma luz vermelha no painel da economia, criando o risco de uma "tempestade perfeita". A expectativa era de alta tensão, com os olhos voltados para a nossa inflação e para as notícias vindas do banco central americano. Mas, como na vida, a economia é cheia de surpresas. A tempestade não veio. Em vez disso, um vento forte e favorável soprou do exterior, trazendo uma trégua bem-vinda e nos ensinando uma lição valiosa.
O que aconteceu foi que os dois maiores focos de preocupação no cenário global diminuíram ao mesmo tempo. Primeiro, o ex-presidente americano, Donald Trump, que costuma ter uma retórica dura, amenizou o tom em relação à China. Depois, o próprio presidente do Federal Reserve, o banco central dos EUA, Jerome Powell, fez um discurso mais suave, sinalizando que a economia dos EUA está firme e que eventuais novos cortes nas taxas de juros serão analisados caso a caso a cada reunião. "Não existe uma trajetória livre de riscos para a política monetária, à medida que navegamos na tensão entre nossas metas de emprego e de inflação", disse ele. Para o mercado financeiro global, essas notícias funcionaram como um calmante. O medo diminuiu, e os investidores, mais tranquilos, saíram em busca de lugares para aplicar seu dinheiro e obter bons retornos.
E é aí que o Brasil entra na história. Quando o pânico global diminui, nosso país, com uma das taxas de juros mais altas do mundo, se torna um destino muito atraente para esse dinheiro. O resultado foi imediato e positivo para os nossos três termômetros econômicos. O dólar, que estava em alta, perdeu força e caiu consistentemente ao longo da semana, aliviando a pressão sobre a inflação. A Bolsa de Valores (Ibovespa), que vinha sofrendo, recuperou o fôlego e subiu, com os investidores aproveitando o bom humor para comprar ações. E até mesmo as taxas de juros de curto prazo sentiram o alívio e recuaram.
Contudo, a semana também nos ensinou uma lição fundamental sobre a diferença entre um analgésico e a cura. Enquanto o bom humor externo aliviava a dor do momento, o nosso problema interno, a questão fiscal, não desapareceu. E a prova disso estava escondida em um detalhe técnico, mas muito importante: o comportamento dos juros de longo prazo. Pense nos juros como um contrato. Os contratos de curto prazo ficaram mais baratos, refletindo o otimismo do momento. Mas os contratos de longo prazo, para daqui a cinco ou dez anos, continuaram pressionados e até subiram em alguns dias. É o mercado dizendo: "Ok, o sol apareceu hoje e estamos aliviados, mas ainda estamos preocupados com a saúde das contas do governo no futuro".
Essa trégua, portanto, foi uma lufada de ar fresco, mas não uma solução definitiva. Ela nos mostrou o quão sensível nossa economia está ao cenário externo. Um vento a favor lá de fora pode nos ajudar muito, mas a nossa estabilidade de longo prazo depende de arrumarmos a casa por dentro. A questão de como o governo vai equilibrar suas contas continua sendo a principal tarefa a ser resolvida.
E o que esperar da próxima semana? O foco agora se desloca para a saúde real da nossa economia e dos principais players mundiais. Teremos um calendário cheio de "check-ups" importantes que nos darão pistas sobre os próximos passos.
Aqui no Brasil, os holofotes se voltam para um dos dados mais sensíveis do momento: o IPCA-15, que funciona como uma prévia da nossa inflação oficial. Depois de toda a tensão das últimas semanas com a questão fiscal, este número é a primeira fotografia real de como os preços estão se comportando em meio à incerteza. Um resultado acima do esperado pode funcionar como um alarme de incêndio, confirmando os temores de que o desequilíbrio nas contas do governo já está contaminando a economia e colocando uma enorme pressão sobre o Banco Central para ser mais duro com os juros. Por outro lado, um número comportado seria um grande alívio, sugerindo que, apesar do barulho, a febre inflacionária ainda está sob controle e dando mais espaço para o comitê de política monetária trabalhar.
Lá fora, a maior expectativa da semana está guardada para a sexta-feira, com a divulgação dos dados de inflação nos Estados Unidos. Pense no seguinte: a tranquilidade que sentimos na semana que passou veio, em grande parte, da percepção de que o banco central americano não teria pressa para antecipar os novos cortes nos juros. O dado de inflação desta semana é o grande teste para essa teoria. Funciona assim: juros altos nos EUA são como um ímã superpoderoso, atraindo dinheiro do mundo todo e fortalecendo o dólar. Se a inflação por lá vier mais alta que o esperado, o mercado pode voltar a temer que o Fed tenha que ser mais duro, o que ligaria esse "ímã" na potência máxima. Para nós, aqui no Brasil, isso adicionaria uma pressão extra sobre o nosso câmbio, podendo anular parte do alívio que comemoramos.
Portanto, a semana que se inicia será de observação. O alívio externo nos deu um respiro importante e mostrou que o cenário não é feito apenas de más notícias. Agora, os dados concretos da economia, tanto aqui quanto nos EUA, nos ajudarão a entender se essa melhora no humor tem bases sólidas para continuar ou se foi apenas uma pausa bem-vinda em meio a desafios que ainda precisam ser enfrentados. Vamos continuar acompanhando com atenção e serenidade.
É hora de entrar em AÇÃO!