A Copel (BVMF:CPLE6) anunciou que vai distribuir 75% do lucro líquido em dividendos, com pagamentos semestrais. O mercado comemorou com euforia, mas de uma década atuando como consultora independente de investimentos me ensinou a olhar além dos holofotes e a analisar os dados com a frieza que o patrimônio exige. Afinal, quem acompanha o mercado de forma profissional sabe: nem todo dividendo alto é sustentável, e nem toda política nova merece empolgação imediata.
Vamos por partes?
Os resultados do 1T25 da Copel, divulgados em maio de 2025, já mostraram uma receita de R$ 5,9 bilhões, um aumento de 9% em relação ao mesmo período do ano anterior. Um bom sinal, sem dúvida. Mas é importante se atentar à algumas questões. Será que essa visibilidade e desejada previsibilidade nos proventos são suficientes para garantir a segurança e o crescimento do seu capital? Ou há riscos ocultos que a maioria dos investidores, seduzidos pela promessa de rendimentos gordos, simplesmente ignora?
1. Dividend Yield alto nem sempre é bom sinal
Projeções indicam um DY acumulado de mais de 36% até 2027 para CPLE3 (BVMF:CPLE3) e CPLE6. É tentador. Mas vamos com calma: DY alto demais pode estar dizendo mais sobre o preço da ação do que sobre a saúde da empresa.
Quando uma ação cai, o yield sobe. E às vezes ele sobe tanto que parece bônus. Mas pode não ser. Setor regulado, sensível a juros e inflação, margem apertada – nada disso mudou. Dividendos precisam de geração de caixa futura. E isso depende de investimentos, planejamento e, convenhamos, de cenário macro colaborando. Se deixar levar pela euforia do anúncio de dividendos é como comprar um carro apenas pela cor, sem verificar o motor.
2. Previsibilidade para os investidores?
A nova política de dividendos quer passar previsibilidade. E o investidor adora isso, claro. Mas previsibilidade no Brasil? Não existe dividendo garantido. Existe política que pode mudar. Existe receita que pode cair. Existe crise, intervenção, apagão, desastre natural. Existe Selic a 14%.
Inclusive, se a Selic continuar em ciclo de alta, isso pode tornar investimentos de renda fixa mais atraentes, desviando o capital das ações e impactando a valorização da Copel, mesmo com bons dividendos. A previsibilidade é um desejo, não uma garantia.
3. O Risco da Concentração: Não Coloque Todos os Ovos na Mesma Cesta Elétrica
Com a Copel se destacando como uma grande pagadora de dividendos do setor de energia, a tentação de concentrar uma parte significativa do portfólio em CPLE6 é grande – já tem gente querendo colocar 30%, 40% da carteira nela. E isso, francamente, é dar sorte demais para o azar.
Mesmo setores considerados estáveis, como energia, têm seus fantasmas: mudanças na matriz, pressão ambiental, regulação capenga. E uma única ação, por melhor que pareça, nunca merece protagonismo absoluto na sua carteira.
A verdadeira segurança está na distribuição inteligente do capital, ainda mais quando a empolgação coletiva começa a fazer barulho. Não se iluda com a ideia de que uma única ação, por mais brilhante que seja, pode carregar a maior parte do seu portfólio.
É positivo, mas requer sua atenção
No fim das contas, a nova política de dividendos da Copel (CPLE6) é, sim, uma notícia positiva para o mercado. Mas, como em tudo que envolve dinheiro e expectativas, a realidade é mais complexa do que os holofotes querem mostrar.
O mercado financeiro é um campo de batalha onde a informação de qualidade e a estratégia bem definida são suas maiores armas. Confiar cegamente em um único indicador ou na divulgação de um ponto positivo da empresa sem analisar o contexto é o caminho mais curto para a decepção. Pense nisso. A sua independência financeira merece uma análise independente.