Lula pede que Trump reflita sobre importância do Brasil e negocie tarifas
Começamos o comentário desta semana nos solidarizando com as centenas de produtores afetados pela chuva de granizo da última sexta-feira nas regiões entre o Sul de Minas, Zona da Mata e Alto Paranaíba. Segundo a Emater-MG a área afetada foi estimada em aproximadamente 26,60 mil hectares.
Segundo agrônomos experientes a recuperação dessas lavouras levará entre 2-3 anos para voltarem a plena capacidade. Medidas urgentes precisam ser tomadas para mitigar ainda mais o prejuízo.
Atenção ao artigo publicado pelo professor José Donizeti Alves: “Danos potenciais da chuva de granizo ao cafeeiro e o que fazer para mitigar os danos - Prof. José Donizeti Alves”
Considerando uma produtividade média em 30 sacas por hectare o mercado sofrerá um prejuízo estimado em aproximadamente -1.000.000 de sacas/ano durante os próximos 2 anos. Considerando o preço do café arábica “médio” para os próximos 2 anos em R$ 1.500/saca então o prejuízo estimado em receita para esses produtores estará próximo dos 3 bilhões de reais (550 milhões de dólares).
Infelizmente o “mercado” vê esse sinistro como “26,60 mil hectares representam 1,5% da área plantada brasileira”. Porém para o produtor atingido esse sinistro representa 100% da sua lavoura, do seu “ganha pão”, do sustento da sua família, dos seus sonhos sendo prorrogados.
Momento crucial para as lideranças se unirem e destinarem recursos do FUNCAFÉ para socorrer esses produtores afetados.
Novamente chegou o momento para as cooperativas desenvolverem, juntos com as seguradoras, uma apólice de seguros que realmente proteja o produtor rural contra eventos climáticos abrangentes, que proteja o seu cooperado. E “forçar goela abaixo” do produtor a compra/venda do seu produto apenas se ele tiver contratado o seguro”. Infelizmente muitos produtores deixam de contratar o seguro pois, como relatado por muitos, no momento do sinistro as “letras minúsculas do contrato” acabam livrando as seguradoras e o “seguro” não serviu para nada.
O set-25 encerrou a semana @ 297,55 centavos de dólar por libra-peso – caindo -605 pontos contra o fechamento semana anterior (fechamento anterior / máxima / mínima / nova máxima / nova mínima / fechamento atual respectivamente @ 303,60 / 304,55 / 285,75 / 307,20 / 297,25 / 297,55 centavos de dólar por libra-peso).
Já o R$, mesmo com todos os problemas fiscais internos e geopolíticos, chegou a valorizar +1,25% e encerrou @ 5,54 R$/US$.
O mercado interno conseguiu se recuperar e o café arábica tipo 6 voltou a negociar acima dos 1.900 R$/saca e o café arábica “cereja descascado” acima dos 2.000 R$/saca em algumas praças.
Em Londres os próximos vencimentos set-25 e nov-25 encerram respectivamente @ 3.228 e 3.196 US$/tonelada (193,64 e 191,72 US$/saca – aproximadamente 1.070 R$/saca). Mesmo assim o mercado interno continuou negociando abaixo dos 1.000 R$/saca com poucos negócios e com o produtor aguardando por melhores preços.
O spread / ágio entre o café robusta e o café arábica tipo 6 continua acima dos 90% e do café robusta x o café rio acima dos 30%! Esse spread “tem que fechar”! E acredito que irá fechar em breve em função do “CAFÉ FLEX”!
O mercado continua apreensivo com a recente guerra tarifaria entre os EUA e Brasil. Dia 01 de agosto está chegando e, por enquanto, a nova tarifa dos 50% deverá mesmo ser implementada contra o Brasil.
Então aqui vale a reflexão dessa semana...
No Brasil temos hoje os “carros flex” onde o consumidor decide se vai encher o tanque com etanol hidratado ou gasolina (e a gasolina já recebe 30% de etanol anidro na sua composição). Nos momentos de crise, do aumento dos preços do combustível, o que o consumidor faz? Migra do produto mais caro para o mais barato. O consumo do produto “mais caro” sofre uma pequena redução mas não cai 100%. Da mesma forma o consumo do produto “mais barato” aumenta porém não “explode”.
Creio que o mesmo irá acontecer com o consumo do café brasileiro nos Estados Unidos até que tenhamos uma definição clara sobre as novas tarifas.
Como demonstrado no comentário semanal anterior, caso o Brasil for mesmo taxado em 50% e com base no mercado atual (média entre os próximos 7 vencimentos, set-25 até dez-26, em 278,76 centavos de dólar por libra-peso) então o café estará chegando nos portos americanos custando ainda equivalente @ 418 centavos de dólar por libra-peso equivalente (553 US$/saca). Considerando que durante o ano de 2024 – mesmo quando as cotações atingiram preços recordes chegando a negociar @ 438 centavos de dólar por libra-peso (579 US$/saca) - o consumo americano não caiu.
Então, precisamos desmistificar a narrativa dos eventuais “prejuízos ao mercado brasileiro com redução na importação do café brasileiro”.
Por outro lado, a analogia com o “carro flex” poderá ocorrer no mercado do café.
Os blends/misturas atuais entre o café arábica x café robusta poderão sofrer mudanças rápidas. Na ponta, no consumidor das cafeterias onde o café é vendido com “chantili / caramelo” o gosto do café 100% arábica acaba sendo descartado. Se for utilizado 60/70/80% de café arábica e a diferença em “outros cafés” o consumidor final não notará a diferença. Já existem cápsulas sendo vendidas com “outros aromas”, como por exemplo baunilha...
O que realmente importa no final do dia, no final do ano para as grandes empresas é o “quanto tivemos de lucro” e o que pode ser feito para manter as margens. Duvido que as grandes empresas importadoras, tradings já não tenham se posicionado realizando esse mesmo tipo de análise.
Ora, para o importador, para a torrefadora qual será a perda real na ponta caso o seu mix nos seus cafés aumentar de 30% robusta para 40/50% robusta? Será que o consumidor final vai ter essa percepção?
Considerando “hoje” os cafés robusta em Londres e o café arábica negociando nas bolsas de Londres e Nova Iorque respectivamente @ 198 US$/saca x 367 usd/saca (sem imposto de importação) então, mesmo adicionando 50% de imposto de importação no café robusta então o preço do café robusta passará para 297 US$/saca – ainda assim 19% mais barato que o café arábica. Considerando então que o café arábica, com o imposto adicional de 50%, passará a custar 550 US$/saca, então o café robusta continuara 46% mais barato que o café arábica!
Ou seja, creio que o mercado americano em breve já estará alterando seu mix de importação/blends resultando em uma demanda maior pelo café robusta tanto brasileiro quanto de outras origens. Até quando? Até esse spread/ágio fechar e não fazer mais sentido.
Então, como “vasos comunicantes”, a demanda pelo café robusta brasileiro deverá seguir firme. Provavelmente teremos um repique nos preços no mercado interno.
O café arábica deverá continuar firme tanto no mercado interno quanto para seguir abastecendo os demais destinos – principalmente com as noticias recentes da quebra na safra do café arábica na safra 25/26. Ou seja, café robusta brasileiro e Vietnam/Indonésia indo para os Estados, café arábica brasileiro ficando para consumo no mercado interno e outros destinos (atuais e novos mercados), e o consumo mundial continuará aumentando, por enquanto, entre 1,50/2% ao ano.
O mês de julho-25 praticamente acabou e o risco do inverno “rigoroso”, riscos para novas geadas estão deixando de existir. Eventos climáticos pontuais (como a chuva de granizo na última sexta-feira) continuarão sendo monitorados e “precificados” pelo mercado.
Os principais eventos de curto prazo para monitorar:
- prejuízo real na área afetada pela chuva de granizo e os reflexos já na próxima safra26/27;
- dia 01 de agosto chegando: a nova tarifa será mesmo implementada e em qual percentual?
- a produção final da safra brasileira 25/26: 50-55-65 milhões de sacas?
- próxima florada e seu pegamento;
Se a safra brasileira 25/26 confirmar abaixo dos 55 milhões de sacas então creio que em breve NY irá voltar a negociar acima dos 400 centavos de dólar por libra-peso (pois o déficit mundial entre produção x consumo ficará novamente ao redor dos -17 milhões de sacas e o índice “estoque x consumo” mais uma vez praticamente zerado – indo contra as projeções do USDA).
Segundo a Cecafé, pelas projeções, em julho-25 o Brasil poderá exportar aproximadamente +3,05 milhões de sacas (+17% acima do mês de junho-25 quando exportou apenas +2,60 milhões de sacas porém -19% em comparação ao mês de julho-24 quando exportou +3,78 milhões de sacas|).
No curto prazo o mercado segue nas mãos dos fundos + especuladores. Segundo a última posição do CFTC* a posição encerrou ainda “comprada” em 17.685 lotes. O vencimento set-25 encontra suportes importantes @ 293 / 286 / 277 / 263 e 240 centavos de dólar por libra-peso. E resistências @ 301 / 318 / 325 / 348 e 383 centavos de dólar por libra-peso.
Com tantos “Se”, como sempre, Produtor proteja-se!
Para garantir os preços atuais compre uma estrutura “put-spread*” e segure o seu café para negociar mais para o final do ano.
Se preferir “vender agora” e ainda quiser participar em uma eventual alta do mercado então compra um seguro contra a alta – uma opção de compra “call*” ou uma estrutura “call-spread*”.
Boa semana a todos!