Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com
- A tecnologia reduz as distâncias do mundo
- Poucos questionam o valor da tecnologia blockchain
- A invasão da Rússia na Ucrânia provocou uma bifurcação no mundo
- Quanto tempo levará para cada lado ter uma moeda?
- Existe alguma cripto candidata a moeda de reserva mundial atualmente?
O globalismo é o plano de adoção de uma política externa e econômica com perspectiva mundial. Essa ideologia acredita que as pessoas, bens e informações devem poder cruzar fronteiras sem restrições. Sua intenção é criar um sistema socioeconômico dedicado a liberar o comércio e o acesso aos mercados. Em essência, é o oposto do nacionalismo.
Mas o globalismo é uma questão complexa. Alguns consideram que ele coloca os interesses de todo o mundo acima dos interesses de países individuais. Outra visão é que ele abre espaço para que um país dominante projete sua influência política sobre todo o mundo.
Eventos recentes sugerem que o mundo está se movendo em uma espécie de globalismo bifurcado, com dois sistemas ideológicos divergentes competindo pela liderança do planeta. Ao mesmo tempo, os avanços tecnológicos nos mercados financeiros ensejaram a criação de uma nova classe de ativos concorrente das moedas fiduciárias.
As criptomoedas são meios de troca ideológicos que rechaçam qualquer controle ou intrusão governamental. As criptos devolvem o poder dos instrumentos de troca aos indivíduos que os compram e vendem em um mercado transparente, com avanços tecnológicos que aumentam a velocidade das transações, melhoram a eficiência e geram registros confiáveis.
O globalismo e as criptomoedas podem andar de mãos dadas em um mundo ideologicamente bifurcado.
A tecnologia reduz as distâncias do mundo
Quem viveu sua infância nos anos 1960 e 1970 testemunhou as grandes mudanças trazidas pela inovação tecnológica. Vimos os computadores surgirem e melhorarem a eficiência nos locais de trabalho.
Os avanços tecnológicos na mídia nos bombardearam com uma enormidade de escolhas possíveis. Com isso, as comunicações evoluíram.
Os smartphones que carregamos no bolso nos permitem entrar em contato e até mesmo ver pessoas em qualquer parte do mundo. Também são poderosos computadores que podem substituir as câmeras e calculadores, colocando uma vastidão de informações na ponta dos nossos dedos ou via comando de voz. Programas de inteligência artificial lembram-se das nossas atividades, colocando nossos computadores, smartphones e outros dispositivos um passo à frente da nossa pesquisa. Os avanços da IA também reduziram bastante a privacidade das nossas vidas.
Ao mesmo tempo em que a população global cresceu de cerca de três bilhões de pessoas, em 1960, para quase oito bilhões em 2022, a tecnologia diminuiu drasticamente as distâncias do mundo.
Poucos questionam o valor da tecnologia blockchain
Em 2008, Satoshi Nakamoto, uma pessoa ou entidade anônima, publicou um documento técnico chamado Bitcoin: Um sistema de dinheiro eletrônico peer-to-peer. Sua criação, o Bitcoin, e as outras criptomoedas que se seguiram dependem da tecnologia blockchain, um banco de dados que armazena informações eletronicamente em formato digital.
A tecnologia blockchain nasceu em 1991, quando os cientistas e pesquisadores Stuart Haber e W. Scott Stornetta buscavam uma solução computacionalmente prática para estampar o horário de documentos digitais, de forma que não pudessem receber uma data anterior ou ser manipulados. Nakamoto aproveitou a teoria da blockchain e colocou em prática com o Bitcoin, mencionando o trabalho de Haber e Stornetta em seu documento técnico.
As blockchains mantêm um registro seguro e descentralizado das transações, garantindo a fidelidade e a segurança de um registro de dados e gerando confiança sem a necessidade de um terceiro confiável.
A diferença entre um banco de dados tradicional e uma blockchain é a estruturação dos dados. Uma blockchain coleta informações em grupos ou blocos que contêm conjuntos de informações.
Os blocos têm capacidades específicas de armazenamento. Quando estão cheios, são fechados e associados aos blocos anteriores preenchidos, criando uma cadeia de dados, ou blocos.
As blockchains descentralizadas são imutáveis; os dados, depois de inseridos, não podem ser revertidos. Nas criptomoedas e outras aplicações, as transações são permanentemente registradas e visualizáveis por qualquer pessoa. As blockchains também são chamadas de tecnologia de registro distribuído.
As criptomoedas causaram muita controvérsia ao longo dos anos. Mesmo assim, quase todos concordam que a tecnologia blockchain subjacente é revolucionária, movendo as finanças e aplicações comerciais na era tecnológica.
A invasão da Rússia na Ucrânia provocou uma bifurcação no mundo
O dólar é uma moeda de reserva mundial. As moedas de reserva mundial são usadas por países ao redor do mundo para o comércio e poupança. O dólar assumiu essa posição, graças à estabilidade política e econômica dos Estados Unidos.
A China e a Rússia, países ideologicamente opostos aos EUA, vêm tentando se afastar do predomínio do dólar nos últimos anos. A China é a maior produtora de ouro do mundo e tem adquirido sua produção doméstica do metal.
O ouro é amplamente considerado como um ativo de reserva. A China também está trabalhando para tornar seu iuane em uma moeda mais aceita internacionalmente.
A Rússia, terceira maior produtora de ouro do planeta, também vem aumentando suas reservas de ouro, adquirindo sua produção doméstica. No entanto, a Rússia tem favorecido o euro ao dólar para a estruturação das suas reservas.
A guerra na Ucrânia começou com a invasão russa em 24 de fevereiro de 2022, evento divisor de águas pode ter ocorrido no início do mês, em 4 de fevereiro.
O presidente russo Vladimir Putin e o mandatário chinês Xi se reuniram na cerimônia de abertura dos Jogos de Inverno de Pequim. Eles concordaram com um pacote comercial de US$117 bilhões, porém, o mais significativo foi que eles selaram um acordo de cooperação “sem limites para reagir aos EUA, Europa e seus aliados ao redor do mundo.
A aliança “sem limites” provavelmente montou o palco para a invasão da Rússia na Ucrânia e pode eventualmente levar a um reunificação forçada entre China e Taiwan.
As potências nucleares do mundo são agora divididas em dois blocos opostos. China, Rússia, Irã, Coreia do Norte e seus aliados de um lado; EUA, Europa Ocidental, Japão, Canadá, Austrália e seus aliados de outro.
Embora alguns países permaneçam neutros, houve uma bifurcação ideológica quanto à base das potências mundiais. A guerra na Ucrânia cria uma ameaça significativa em vista do acordo “sem limites”. Os EUA e as sanções europeias contra a Rússia são muito menos eficientes em razão da sua aliança com a China, segunda maior economia do mundo.
Quanto tempo levará para cada lado ter uma moeda?
A China está mais adiantada no lançamento de uma moeda digital nacional capaz de se tornar uma divisa de reserva mundial. Em 4 de janeiro de 2022, a China lançou seu piloto de iuane digital através de um aplicativo móvel, o e-CNY. O lançamento expande os testes por toda a China. O novo aplicativo permite que os usuários de dez regiões, incluindo Xangai e Pequim, usem a moeda digital.
Em 9 de março, um decreto executivo do presidente dos EUA, Joe Biden, traçou os planos do seu governo para “garantir uma inovação responsável nos ativos digitais”. Uma das iniciativas é:
“Explorar uma moeda digital do banco central dos EUA (CBDC), dando urgência à pesquisa e desenvolvimento de um possível CBDC do Estados Unidos, tópico de interesse nacional”.
O decreto executivo prossegue destacando que o governo deseja:
“Priorizar a participação dos EUA em um experimento multinacional e garantir a liderança do país internacionalmente, promovendo o desenvolvimento do CBDC que é consistente com as prioridades e valores democráticos dos EUA.”
No entanto, o fato é que os EUA estão bem atrás da China em relação ao lançamento de uma moeda digital capaz de se tornar uma divisa de reserva mundial.
O fato é que a mudança para um globalismo bifurcado colocou a China na liderança da corrida por uma moeda digital.
Existe alguma cripto candidata a moeda de reserva mundial atualmente?
O globalismo bifurcado entre aliados de China-Rússia e EUA-UE não é ideologicamente compatível com a libertária classe das criptomoedas. Por essa razão, o Bitcoin, Ethereum e as outras mais de 18.100 criptomoedas atualmente disponíveis provavelmente sobreviverão, a menos que os governos decidam bani-las por completo.
Em 2021, o bilionário gestor de hedge fund Ray Dalio disse que se o bitcoin continuasse tendo sucesso, os órgãos reguladores “o matariam”. O decreto executivo da semana passada mostrou que o governo dos EUA não deseja “matar” o mercado das criptomoedas, mas regulá-lo e evitar que se torne um risco sistêmico.
Eu acredito que a moeda digital da China e dos EUA eventualmente brigarão pelo predomínio do mercado. As chances de o Bitcoin e outras criptos assumirem o papel de liderança são pequenas. Contudo, à medida que cai a credibilidade dos governos ao redor do mundo, as criptomoedas não ligadas a qualquer sistema governamental ou financeiro provavelmente continuarão tendo papel importante no sistema financeiro global.