Num passado não muito distante, os conflitos que ocorrem atualmente no Oriente Médio seriam mais do que suficientes para um choque na oferta de petróleo e os preços se valorizariam a ponto de colocar em cheque o crescimento das principais economias do planeta. Foi assim nos anos 1970. Não há como esquecer, por exemplo, o embargo do petróleo na Guerra do Yom Kippur, quando Egito e Síria atacaram Israel, que provocou a triplicação do preço do barril, em outubro de 1973. Depois, em 1979, a revolução iraniana que depôs o Xá Reza Pahlevi e transformou o Irã numa República Teocrática, culminando na guerra desse país contra o Iraque duplicando o preço do barril na época.
A Guerra do Golfo em 1990, assim como uma série de cortes na produção de petróleo por parte dos países produtores em 1998, não foram suficientes para recuperar os picos de preços ocorridos nos anos 1980 e serviram apenas para elevar os níveis então historicamente baixos dos preços do barril (perto de 11-12 dólares por barril) para 30 e poucos dólares. Com o 11 de setembro os preços pularam de 25 para 60 dólares por barril e praticamente permaneceram nesse patamar até o início de 2007. Aí veio a China com seu vigoroso crescimento.
O crescimento econômico de dois dígitos protagonizado por ela e pela sua vizinha do Sul - a Índia - por uma década elevou o consumo de energia e commodities em geral. O petróleo seguiu esse rumo ascendente e o mundo caminhava acreditando que o barril do petróleo iria para US$ 230, como dizia a finada Lehman Brothers. Nessa época, já se falava numa possível falta de combustível e da necessidade de se buscar energia renovável. A renomada The Economist chegou a publicar duas capas fazendo referência a alta estrondosa do petróleo: numa dizia que o mundo assistia “ao fim da comida barata”, noutra edição mostrava o barril de petróleo a 135 dólares por barril como um “recorde”. Aí que entra o setor sucroalcooleiro em cena acreditando em mais uma das parvoíces de Lula de que o Brasil seria a Arábia Saudita do Etanol. Bem, esta história todo mundo está cansado de saber.
Com o petróleo caindo abaixo dos 70 dólares por barril o problema agora é outro. O Irã, por exemplo, para atender às demandas sociais e orçamentárias do país precisa quase 140 dólares por barril. A Venezuela e Nigéria precisam do petróleo a 120 dólares por barril. A Rússia do Czar Putin demanda 100. A Arábia Saudita pouco mais de 90. Ou seja, está todo mundo em situação dramática. Menos os Estados Unidos que assistem a recuperação econômica e o crescimento na produção de petróleo em mais de 11% sendo hoje o maior produtor mundial. O pré-sal brasileiro, descoberta que fez Lula virar as costas para o setor e dar uma banana para quem investiu tempo, dinheiro, suor e sangue, precisa que o petróleo fique acima de 70 dólares por barril para ser economicamente viável.
O enrosco agora é com os Estados Unidos que é o maior produtor, maior importador e maior consumidor, produzem de 1-2 milhões de barris de petróleo por dia acima do que produziam no ano anterior. E a economia mundial está encolhendo. Vai precisar haver um choque, ou seja, o preço do petróleo vai precisar cair até que seja inviável a produção do mesmo em vários países produtores para realocar a curva de preços novamente no equilíbrio.
E agora, a pergunta de um milhão de dólares: que nível é esse? Há de se lembrar também que muitos dos países produtores tem pesados subsídios no preço da energia. Com o petróleo despencando o custo social vai ser enorme. Para mencionar apenas os primeiros: Venezuela, Arábia Saudita, Irã e Iraque.
Para o setor é uma catástrofe. Petrobrás na lama, perdendo dinheiro no subsídio que dá para os consumidores de gasolina cuja defasagem é hoje em torno de 10%, ainda tem que pegar os cacos no chão espalhados pelos escândalos patrocinado pela bandidagem que se apoderou da empresa, atravessa um período de nuvens pesadas e desconfiança dos investidores e financiadores lá fora.
Por isso, o mercado de açúcar em NY fechou em queda nesta sexta-feira de quase 3.5%, cravando 15.56 centavos de dólar por libra-peso no vencimento março de 2015. Uma queda de 12 dólares por tonelada na semana. Ao longo da curva de três anos apresentada pelo açúcar em NY, as quedas oscilaram entre 8 e 13 dólares por tonelada.
Não custa lembrar o que foi falado aqui na semana passada: “Trazidos a valor presente pelos juros do BC, uma fixação para março de 2016 (a última ponta da safra 2015/2016) ainda está acima de R$ 1.000 por tonelada. Essa parece ser uma boa alternativa de fixação para as usinas pois qualquer espasmo que possa haver no mercado de açúcar em NY por razões fundamentalistas, afetará muito mais os meses com vencimento mais curto do que os com vencimento mais longo”.
Como diria um experiente trader no mercado, “gestão de risco não é tudo mas é 100%”