Temos por hábito mencionar sistematicamente que o mercado de câmbio não é para principiantes, ainda mais na atualidade onde além do mercado a vista existe uma variedade de derivativos interagindo na formação do preço da moeda americana, aos quais os analistas não dedicam grande foco em suas considerações e buscam, quase sempre, atribuir a causas externas como mutantes sentimentos de risco em relação aos emergentes ou diretamente ao Brasil.
Repetidas vezes em nossas abordagens temos destacado a absoluta irrealidade do preço da moeda americana fortemente depreciada no Brasil, quando existem razões inequívocas para que tivesse posicionamento exatamente inverso, tendo em vista o contexto do cenário político econômico amplamente degradado, sequer deixando espaço para reflexos externos.
Abordamos frontalmente de forma objetiva o excessivo otimismo impactando na formação do preço da moeda americana fundado na questão política e sua tendência, como se toda a problemática situação da economia, amplamente deteriorada, encontrasse fácil recuperação após a superação da mesma.
O BC no afã de conter eventual elevação do preço da moeda americana manteve excessiva liquidez no mercado de câmbio, mantendo a rolagem dos contratos de swaps cambiais vincendos, embora o país tivesse perdido liquidamente US$ 12,0 Bi no bimestre janeiro/fevereiro de recursos financeiros, o que sugere liberação de contratos de swaps que se prestavam a hedge, e, além disto, realizou leilões de linha de financiamento em moedas estrangeiras para os bancos lastrearem a expansão de suas posições vendidas. Em tese, quando ocorre saída liquida de recursos do país se entende que a demanda deixou o mercado futuro e passou para o mercado a vista, como movimento natural. Isto sugere diminuição de rolagem de contratos de swaps ou mesmo deixar de rolar ou até mesmo, realizar oferta de contratos de swaps reversos para “enxugar” a liquidez no mercado futuro, na medida em que deseje a redução mais abrupta e imediata.
Entretanto, sinalizando a manutenção das rolagens dos contratos de swaps vincendos, um excesso, e fazendo leilões de linhas de financiamentos deixou claro seu propósito, então o mercado financeiro “criou” e estimulou a ideia de que com uma mudança política o preço da moeda americana sofreria forte depreciação no nosso mercado, uma visão errática mas conveniente, e com isto colocou o preço em linha de baixa, ao mesmo tempo em que especulativamente “players” formavam acumulo deposições vendidas, fator motriz da sequência de queda do preço.
Agora, o BC tenta corrigir o equívoco cometido do excesso de liquidez. Na semana passada anunciou que não rolará a totalidade dos contratos de swaps vincendos, e na sexta-feira divulgou a realização de leilão, nesta segunda feira, de 20.000 contratos de swaps reversos. Com isto, busca corrigir equívoco antecedente, mas precisará deixar de rolar o todo ou parte substantiva dos contratos de swaps vincendos e realizar leilões de swaps reversos de montante muito maior, isto somente para permitir que o preço da moeda americana reassuma a sua realidade, sem fortes distorções.
No câmbio nem tudo que se vê é exatamente o que parece ser, por isso reafirmamos que é um mercado para profissionais. “En passant” gostaríamos de dedicar algumas linhas ao Boletim FOCUS e suas medianas apuradas no mercado financeiro, datado do dia 18 e divulgado hoje.
Considerando que só foram transcorridos 2 meses e meio do 1º trimestre deste ano, e face a grave crise política econômica que assola o país, todas as projeções postas no FOCUS tem baixíssima credibilidade dado o grau de incertezas no horizonte. Algumas projeções que vinham sendo apuradas pelo BC já eram desprovidas de maior consistência fundamentalista e agora mais ainda e bem disseminadas intensificam as probabilidades de erro.