Câmbio: Contradições Inquietantes!

Publicado 23.07.2014, 13:11
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Este é um quadro bastante desconfortante para o país, visto que o montante de posições vendidas carregadas pelos bancos correspondem efetivamente à carência de fluxos de recursos externos suficientes para fazer face ao compromissos brasileiros, e que vem sendo acumulado como negativo desde o ano de 2012 (US$.6,069 Bi), 2013 (US$ 12,055 Bi) e este ano a despeito de ingressos brutos no país de US$ 395,665 Bi (US$. 124,8 Bi de exportações e US$ 270,8 Bi de financeiros ) só foi obtido saldo positivo liquido de US$ 108,0 M (US$2,468 Bi positivos de fluxo liquido comercial menos US$ 2,361 Bi negativos de fluxo liquido financeiro).

A curva dos fluxos é acentuadamente tendente ao aumento negativo, acentuando-se no financeiro que já está negativo e revertendo o comercial que tem se mantido positivo com as exportações agrícolas que estão praticamente encerrando a performance no ano.

O fluxo cambial de julho está negativo em US$ 4,039 Bi (US$ 422,0 M negativos no comercial e US$ 3,617 Bi negativos no financeiro), após melhora na ultima semana de 14 a 18 quando revelou-se positivo em US$ 1,387 Bi (US$ 890,0 M no comercial e US$ 497,0 M no financeiro) reduzindo o fluxo que estava negativo até o final das duas semanas iniciais do mês em US$ 5,427 Bi)

Os bancos estão com posições vendidas de US$ 17,785 Bi, com base nos dados do BC, que corresponde ao montante de liquidez gerada pelos mesmos ante a insuficiência de fluxos favoráveis acumulados.

A rigor o agravamento da insuficiência de fluxos cambiais positivos que tem se revelado com baixíssima propensão à reversão ocorre desde agosto de 2013, quando o BC passou então a intervir no mercado de câmbio para conter a presumível apreciação do preço da moeda americana, ofertando “hedge” com colocação massiva de contratos de “swaps cambiais” para que as empresas com passivos em moeda estrangeira as protegessem e com isto atenuou a pressão que certamente viria do mercado futuro de câmbio.

Por outro lado, O BC evitou intervir diretamente com oferta de moeda efetiva no mercado à vista de câmbio, preferindo preservar o estoque das reservas cambiais e utilizá-las para financiar o lastro às posições vendidas dos bancos, que assim repassaram a necessária liquidez ao mercado, tendo em vista que esta estratégia operacional lhes proporcionava ganho com arbitragem entre rendimento do cupom cambial e custo total das linhas de financiamentos). Esta estratégia persiste, porém os bancos têm atualmente como financiadores do lastro das posições vendidas banqueiros externos.

O montante atual que os bancos carregam com posições vendidas e que, a rigor, deveria ter sido fornecida ao mercado pelo BC equivalem a aproximadamente 4,7% das reservas cambiais, o que é expressivo, num ambiente que não sugere que possa vir a ser reposto cobrindo as posições vendidas dos bancos pelo próprio mercado no curto/médio prazo, e então poderá ser exigido do BC, caso desapareçam as vantagens ainda presentes de arbitragens por parte dos bancos.

O quadro do setor externo brasileiro poderia estar revelando dados muito mais agressivos negativos não houvesse ocorrido expressivo volume de ingresso de capitais especulativos, forjados a partir de operações de “carry trade”, cujos investidores se valeram da expectativa de retardamento maior, à época, nas mudanças de política monetária americana por parte do FED.

Com um contexto cambial “pisando em ovos” e com preço da moeda americana fortemente induzida à depreciação em prol do controle da inflação, é extremamente preocupante observar-se o mercado de juros formando preço com a perspectiva de que possa haver um corte na taxa SELIC, que tenderia a tornar desinteressantes operações com o real, podendo desestruturar a estratégia presente praticada pelo BC, com a participação dos bancos.

A perspectiva de corte na taxa SELIC poderia passar a impressão de um afrouxamento monetário inoportuno no momento com a inflação, ainda que a fraqueza da economia venha se acentuando fortemente e recomende esta atitude pelo COPOM, havendo previsões de PIB negativos no 2º tri e amplas possibilidades de repetir-se também no 3º tri.

A inflação continua com expectativas resistentes, embora tenda a ficar próxima do ponto de pico alto arrefecendo como decorrência da própria perda de atividade econômica, e esta resistência decorre diretamente do fato da política fiscal não ser contracionista.

O fluxo cambial líquido negativo deve se consolidar como tendência e ir aumentando até o final do ano, assim como o déficit em transações correntes.

Ainda há um expressivo montante de capitais especulativos presentes no país e que poderá entrar em processo de reversão no curto prazo ( só a BOVESPA tem ainda, segundo dados da imprensa, R$ 13,7 Bi de recursos estrangeiros líquidos ingressados neste ano).

As pesquisas eleitorais estão influenciando muito o comportamento da BOVESPA e isto pode deixá-la extremamente vulnerável.

O câmbio tem um severo desafio nestes meses que faltam do ano, em especial o período até as eleições, pois num ambiente adverso o BC certamente continuará tentando administrar a formação do preço da moeda americana focando a não expansão da inflação.

A inflação, mesmo que quase rompendo o pico da meta, continua sendo considerada sob controle pelo governo, e juntamente com o emprego, apesar de estar em processo de decadência de geração de vagas, são trunfos relevantes para o debate político que se vislumbra para o período até a eleição.

Por isso, não esperamos afrouxamento monetário por parte do BC/COPOM e, embora com ferramentas que tendem a se revelar frágeis no enfrentamento das pressões de demanda, certamente o BC procurará mitigar os riscos de uma alta abrupta no preço da moeda estrangeira, pelo menos até as eleições, mas acreditamos que terá dificuldades, principalmente se ocorrer perda de atratividade de arbitragem por parte dos bancos que vem carregando as posições vendidas no câmbio.

Vemos um quadro bastante perturbador no câmbio neste período até o final do ano, com a fragilização dos instrumentos de intervenção do BC no mercado ante acentuada evolução da demanda no mercado à vista.

Esta taxa cambial presente em torno de R$ 2,22 está com o real fortemente apreciado o que a faz incompatível com a realidade da economia brasileira, por isso deve se elevar gradualmente mesmo havendo a intervenção do BC. Enfim, é absolutamente contraditória com o “status quo” da economia e do comportamento de fluxos líquidos do setor externo que é ruim e pode ser agravado.

A questão envolvendo suposta influencia das pesquisas na formação do preço devem ser vistas com insignificante influência, já que as dificuldades a serem enfrentadas com o câmbio devem ocorrer no presente semestre, ou seja, no curtíssimo prazo.

Esta situação com o real excessivamente apreciado é um risco efetivo para a economia, face à possibilidade de ocorrência de abrupta mudança de patamar de preço, com forte impacto inflacionário. Se o BC intervier sendo o gerador da liquidez pode fomentar movimento especulativo sobre o real ao deixar evidente a retração de fluxos de recursos para o país passando a afetar as reservas cambiais.

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