Tem sido objeto de nossas abordagens o fato do BC ter gerado excessiva liquidez ao mercado de câmbio, num momento em que o mercado financeiro especulava com as tendências mais favoráveis as suas ambições políticas e colocava, sem fundamentos sustentáveis e muita especulação, o preço da moeda americana em linha de depreciação frente ao real.
Os motivos do BC vão desde erro estratégico, passando por foco nas pressões inflacionárias e também objetivo de não permitir até movimentos de forte desvalorização do real considerada a situação política econômica deteriorada do país, que faria mais senso do que a valorização porque mensurável do que hipóteses políticas complexas que não sugerem, se consumadas, repercussão imediata na formação do preço da moeda americana, pois não se vislumbraria aumento de fluxo cambial positivo imediato, intensificação de atratividade e nem desafios menores na gestão do governo.
A situação política brasileira é de altíssima complexidade e não menor no campo econômico onde prevalece extraordinária deterioração, com queda continua de atividade, desemprego, queda de renda e consumo.
Mas agindo da forma que o fez o BC incitou o mercado a acreditar que, embora por motivos diferentes, também desejava o preço da moeda americana em depreciação.
O BC manteve a rolagem dos contratos de swaps cambiais vincendos tornando excessiva a liquidez no mercado futuro e ainda adicionou o fornecimento de linhas de financiamentos em moeda estrangeira para agregar liquidez no mercado a vista, somente esta fazendo sentido.
O Brasil teve este ano a saída até a semana passada, dia 18, de US$ 14,0 Bi líquidos no segmento financeiro, que se supõe estivesse com hedge em swaps cambiais, equivalente a algo em torno de 280.000 contratos, mas o BC manteve a rolagem inalterada, fazendo-o tão somente a partir da semana passada redução do volume da rolagem, mas o mercado de câmbio futuro já estava excessivamente liquido.
O mercado financeiro, por seus “players”, percebeu a ação do BC e a criação de ambiente propicio para depreciar o preço da moeda americana e assim o fez num processo dinâmico incrementando o acumulo de posições vendidas em dólar num processo de depreciação crescente do dólar a níveis totalmente incompatíveis com a realidade.
Até que o BC concluiu ser excessiva a extraordinária dimensão da depreciação do preço da moeda americana e de criação de posições vendidas.
Então, modestamente, após ter reduzido a rolagem dos contratos de swaps cambiais vincendos em abril, fato que não sensibilizou o comportamento especulador do mercado financeiro, o BC decidiu intervir com oferta de contratos de swaps cambiais reversos, que seria uma forma de enxugar a excessiva liquidez.
O volume inicial da oferta, 20.000 contratos, nos pareceu absolutamente dispare em relação a dimensão da liquidez presente, só tendo colocado no dia inicial 5.500 contratos e no dia seguinte 10.000 contratos.
Os “players” do mercado financeiro em posição especulativa exigiram ao que se sabe, prêmio para que assumissem os contratos ofertados, reduzindo suas posições especulativas, provavelmente surpreendendo o BC que aparentemente tencionava dar uma saída para os vendidos especuladores, mas não desejava pagar prêmio.
O BC dispõe de poucas alternativas para reverter um quadro especulativo da natureza instalada e os “players” o colocaram em cheque mate, dando sequência a depreciação do preço da moeda americana, buscando encurralar a autoridade monetária a pagar o que desejavam.
Para hoje o BC anunciou oferta de mais 20.000 contratos.
É importante destacar que demanda há, porém a especulação se propagou também para as condições de saída ofertadas pelo BC.
Contudo, as ocorrências de fatos políticos relevantes e impactantes nas expectativas do mercado financeiro mudaram totalmente o comportamento, havendo agora pressa por parte dos especuladores “vendidos” de sair das posições vendidas, zerando-as e consumando os ganhos.
Naturalmente vão ter que deixar no “caminho reversivo” uma parte do lucro que havia, em tese, realizado.
Desta forma, o BC sai do cheque mate, fica em vantagem operacional, não por seus méritos, mas, pelas circunstâncias que envolvem fatores políticos relevantes contrários às perspectivas do mercado financeiro e seus “players”.
Na realidade esta era quase a única possibilidade de desmonte da especulação instalada e para a qual o BC não dispunha de instrumentos eficazes.
Os “players” vendidos, experiente que são, deverão procurar sair de forma a não proporcionar a exacerbação incontrolável da alta, sendo, contudo, a apreciação firme do preço da moeda americana inevitável. Resta saber qual será o comportamento do Banco Central do Brasil, agora que se livrou do “cheque mate” do mercado por razões circunstanciais. Manterá a oferta de swaps cambiais reversos em doses extremamente modestas ou a acentuará?