Entre 2014 e 2024, a economia da Turquia passou por uma transformação significativa, caracterizada por desafios macroeconômicos, políticas monetárias controversas e choques externos. Embora tenha havido avanços em alguns indicadores, como a queda do desemprego e a relativa estabilidade da dívida pública, a inflação elevada e a desvalorização da lira turca comprometeram a confiança dos mercados e a estabilidade econômica do país.
Em 2014, a Turquia apresentava uma economia com fundamentos fiscais sólidos, com a dívida pública representando 28,3% do PIB e uma taxa de desemprego de 10%. No entanto, a inflação de 8,17% já era um problema, superando a meta do banco central. Durante a década seguinte, a economia enfrentou um cenário cada vez mais desafiador, impulsionado por uma combinação de políticas econômicas heterodoxas e eventos externos que pressionaram os preços e desvalorizaram a moeda nacional em termos nominais na ordem de mais de 1.600% no período.
Um dos fatores centrais para o aumento da inflação, que atingiu 44,38% em 2024, foi a interferência política na condução da política monetária. O governo turco, liderado por Recep Tayyip Erdoğan, pressionou o banco central a reduzir as taxas de juros, contrariando os fundamentos da teoria econômica. Essa interferência resultou na perda de credibilidade do banco central e na desvalorização acentuada da lira turca. A moeda mais fraca elevou os custos das importações, especialmente de energia, intensificando ainda mais as pressões inflacionárias.
Além das políticas internas, fatores externos também agravaram a situação econômica do país. A guerra na Ucrânia, que elevou os preços globais de energia, e o devastador terremoto de 2023 foram eventos que aumentaram a incerteza econômica. O desastre natural exigiu um aumento nos gastos públicos para a reconstrução, adicionando mais pressão sobre a inflação. Para tentar conter esses impactos, o banco central elevou a taxa de juros para 47,5% em 2024, um nível extremamente alto que, embora necessário para controlar a inflação, trouxe efeitos colaterais como o encarecimento do crédito e potenciais riscos para a atividade econômica.
Em meio a esses desafios, a economia turca demonstrou certa resiliência, mantendo a dívida pública relativamente estável, reduzindo o desemprego para 8,6% e impulsionando setores como construção e serviços. No entanto, a qualidade do emprego e o aumento da informalidade são preocupações crescentes. Assim, embora a Turquia tenha conseguido evitar uma crise fiscal, os desafios estruturais persistem, e a sustentabilidade do crescimento econômico dependerá de uma abordagem mais equilibrada na condução da política monetária e da implementação de reformas que reduzam a vulnerabilidade externa do país.