Os emergentes têm perspectivas desfavoráveis irreversíveis, embora uns possam ter riscos mais acentuados do que outros na intensidade com que serão alcançados nos refluxos de capitais estrangeiros que deverão deixar seus mercados, seja pela queda da liquidez internacional face ao “tapering” dos “QE´s” do FED, seja pela atratividade que passa a despertar a economia americana em fase de recuperação de atividade.
Contudo, dados eventualmente menos favoráveis da economia americana retiram, o que pode ser até enganoso caso sejam desconsiderados pelo FED, as pressões sobre algumas decisões que estão no radar para serem adotadas pelo FED americano, adicionalmente às já deliberadas, envolvendo, em especial, a elevação da taxa de juro.
Os dados desfavoráveis mais recentes da economia americana foram obtidos em ambiente atípico no Estados Unidos, severamente afetados por situação climática desfavorável de grande proporção e com repercussões as mais difusas na atividade da sua economia.
Este comportamento mutante de indicadores acaba por determinar o movimento bipolar do mercado, mas o fato concreto é que o momento de maior pressão ocorrerá, seja no curto ou no médio prazo, por inevitável.
Volatilidade não é bom, mas promove o giro dos negócios e isto, em última análise, é o que interessa aos agentes, pois o lucro vem do giro e não rigorosamente do juro. Por isso, nem tudo que se vê é exatamente o que pode parecer.
Então, o receio maior e imediato passa a ser um receio menor e não tão imediato de que o FED eleve a taxa de juro e ocorre a volatilidade dos preços dos ativos no mercado nacional e internacional.
Fundamentalmente não ocorre mudança sustentável das tendências, todos sabem que os emergentes conviverão com ambientes adversos no curto/médio prazo e que suas moedas sofrerão pressão depreciativa ante o dólar americano.
Este fato já está em processo de ativação com maior intensidade como decorrente da queda de liquidez no mercado internacional e tende a se acentuar fortemente neste mês de fevereiro.
Contudo, se o juro americano for elevado, a atratividade competitiva da economia americana será muito forte e prevalecerá sobre os emergentes, com os movimentos migratórios de recursos em poder dos emergentes fluindo e se intensificando na direção dos mercados americanos provocando o desmonte precipitado das posições de ativos destes países.
Poder-se-ia até fazer uma ilação, acreditando que as moedas que apresentam volatilidade mais intensa frente ao dólar americano quando surgem indicativos menos ou mais favoráveis à intensificação das saídas dos recursos, acabam ordenando os países que poderão ter impactos maiores ou menores.
É importante observar e considerar que afora os problemas externos, os emergentes têm reconhecidamente relevantes problemas de natureza interna e são estes que na realidade os tornam mais ou menos vulneráveis perante o contexto atual do mercado internacional.
Esta realidade é que os faz diferentes entre si.
No caso brasileiro pesam inúmeros fatores não solucionáveis no médio prazo, tais como baixo crescimento, divida publica elevada, politica fiscal deteriorada, baixo investimento, déficit em transações corrente elevadíssimo, baixa atratividade ao capital externo que vem determinando fluxos de recursos cadentes, etc.
Tendo perdido grande parte da credibilidade e da atratividade no mercado internacional face à este quadro que é entendido como consequente de política econômica errática, ao país não bastará comprometer-se com metas mais ousadas visando a plena recuperação dos desgastes, precisará efetivamente entregá-las, o que torna o período da possível recuperação mais longo.
Não podemos contar com o beneficio da dúvida.
Mas é imprescindível que delibere medidas de austeridade na politica monetária, com elevação do juro, meta de superávit primário ousada, mas exequível, e, que haja com maior grau de tolerância em relação ao preço da moeda americana, já que o enfrentamento frontal das pressões altistas poderá conduzir à queima de reservas cambiais que devem ser preservadas pelo país.
Certamente, a reação do mercado financeiro nacional e internacional poderá ser de ceticismo, mas pior será não fazê-lo e persistir na contestação de que o Brasil é diferente, com ar de superioridade, dos demais emergentes.
O ponto diferencial do Brasil é o volume de reservas cambiais que possui e que vem bravamente defendendo evitando vendê-las diretamente ao mercado quando os fluxos se revelam insuficientes, optando pela triangulação via bancos e com a concessão de linhas de financiamento para geração da liquidez, o que “dá um tempo” para ver se as coisas mudam.
Na realidade o Brasil detém as reservas cambiais, mas é evidente que não está tão à vontade para utilizá-las como costumeiramente apontam os membros do governo. As reservas cambiais são a garantia brasileira de solvência, mas se dispor das mesmas por inevitável, o mercado internacional pode aumentar suas preocupações em relação ao país, enquanto os especuladores poderão se animar para impulsionar movimentos especulativos sobre a moeda nacional.
O país não tem muitas alternativas para conter pressões sobre o preço da moeda americana, por isso precisa ser estratégico nas suas intervenções, e, ainda resta uma grande dúvida, qual seja, até onde vai a razoabilidade para venda de “swaps cambiais” e concessão de linhas de financiamentos aos bancos e em que momento esta prática poderá começar a se revelar negativa na percepção do mercado nacional e internacional, acentuando o risco de movimentos especulativos sobre o real.
O anúncio bem antecipado da rolagem da posição vincenda em 5/3/2014 de “swaps cambiais” no montante de US$ 7,378 Bi foi estratégico, com o seu detalhamento em 5/2 e inicio em 6/2/2014, retira pressões fundadas na incerteza, porém o lote é pequeno.