A virada
Talvez não haja nenhum insight relevante no M5M de hoje. Estou aqui para lhe alertar sobre o óbvio. Pouco tempo atrás, fomos acusados de terrorismo (e muitas outras coisas mais) por fazer associação entre economia e política. Ainda pior, pela “ousadia” de associar os desdobramentos disso ao movimento dos mercados.
A esta altura do campeonato, creio que já superamos esse debate... Sinto-me livre, portanto, para pular direto ao que interessa:
Se consolidado mesmo um cenário de retomada da situação na corrida eleitoral e a confirmação de um teto para a candidatura de Marina, com sugeriram as últimas pesquisas, a consequência óbvia é a devolução dos ganhos obtidos com o rali eleitoral. Simples assim.
Ora, se a bolsa e principalmente as ações de estatais subiram escoradas na expectativa de mudança na política econômica, qual a reação lógica de não haver mudança?
Binomial
Neste ponto, não parece haver mais um cenário alternativo, aquele de uma promessa de “mudança” sem mudar o governo. A declaração do (ex?) Ministro Mantega traz bastante luz a este ponto: “ela [Dilma] vai levar essa política econômica às últimas consequências”.
Trocando em miúdos, mudar as pessoas da equipe econômica não representa necessariamente mudança na política econômica. Pelo contrário, quando se trata de política econômica de partido e de uma presidente-ministra. Fica ainda mais difícil apostar em mudança com a situação sem um reconhecimento da necessidade de mudança ou correção de rota pela situação.
Em evento em SP na véspera, Dilma negou que o Brasil sofra de instabilidade econômica. Justo ontem, dia em que o rating foi posto em observação negativa em face à deterioração fiscal, e do alto da recessão técnica, da inflação oficial acima do teto da meta em 12 meses.
O pior melhor dos mundos
Não quero ser acusado de alarmismo, mas mesmo no melhor dos cenários o prognóstico é um tanto desalentador. Mais uma vez: há preços represados, crise no suprimento de energia, repasses de recursos a instituições públicas atrasados (falamos recentemente sobre os casos de CEF e BB), crescimento baixo com aumento de gastos públicos e mercado de trabalho em piora, uma imagem artificial das contas públicas, inflada por itens não-recorrentes e expediente de contabilidade criativa...
O ajuste, naturalmente, fica para depois das eleições. Para não ser acusado sozinho de alarmismo, recorro a algumas cabeças brilhantes, como a do ex-diretor do Banco Central no governo Lula Alexandre Schwartsman, e o renomado gestor Luis Stuhlberger.
Em evento ontem, Schwartsman afirmou que “se tudo der certo e houver um gestor sério, 2015 será um ano que fará com que tenhamos saudades de 2014”.
Por sua vez, na última carta do fundo Verde, Stuhlberger ressalta que “a herança econômica por si só já seria bastante difícil de lidar”, e questiona: “fazer isso [um ajuste com medidas impopulares] sem maioria no Congresso é algo ainda não testado. Pode dar certo; mas, se fosse fácil, por que ainda não foi feito?”
Amor de inverno
Nesta não tão longa estrada da vida, foram 37,6% de ganhos acumulados pelo Ibovespa do piso de 14 de março (divulgação da primeira pesquisa eleitoral apontando queda nas intenções de voto da situação) até o topo atingido na semana passada. De lá para cá, com a suposta virada no jogo eleitoral, já são cinco quedas seguidas para o índice, rumando para a sexta hoje...
Se a Bolsa parou para assistir ao rali eleitoral, tornando-se um “monotema”, os fundamentos das empresas e da economia seguiram variando (muito embora a atividade econômica em si esteja parada). Hora ou outra há de se cobrar um lastro, uma convergência entre esses dois universos não muito distantes.
Em um mundo de opcionalidades, quanto mais tempo, mais chance uma opção tem de chegar ao preço de exercício. Portanto, sob a ótica do comprador do rali, o risco é inversamente proporcional ao tempo. Ou, quanto mais próximo da urna, o Ibovespa se vê mais perto do juízo final.
A bunda da mosca
Sim, ainda tem água para rolar na corrida eleitoral. É praticamente impossível prever os próximos desdobramentos dessa corrida, mas a ideia não é mesmo tentar acertar a bunda da mosca, ou o timing exato da eventual virada do rali eleitoral.
"A complicação de bater o Ibovespa hoje é que as ações de empresas em que os fundamentos não são os melhores têm se desempenhado muito bem", resumiu ao Valor Econômico o gestor Fabio Motta, da Western Asset.
Você até pode tentar adivinhar o que vai acontecer e o que o novo “velho” quadro econômico pode mudar, ou pode simplesmente comprar uma carteira de ações boas. Nessa segunda opção, você pode até perder a pernada do Ibovespa e deixar de surfar o rali eleitoral, mas estará tranquilo no juízo final.
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.