Publicado originalmente em inglês em 31/08/2021
Uma constante no mundo dos investimentos é que, não importa o que aconteça, sempre há uma forte demanda por títulos públicos americanos, os chamados “treasuries”. E isso mantém os preços em alta e os rendimentos em queda.
Inflação alta? Os investidores podem se reconfortar com as repetidas garantias de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, de que ela é transitória, apesar das enormes evidências em contrário.
Dados econômicos positivos? Compre treasuries. Dados econômicos ruins? Compre treasuries. O Fed começará a reduzir suas compras de títulos no fim do ano? Pelo menos não será em outubro, então compre treasuries.
Powell fez um discurso virtual na sexta-feira para a versão online do simpósio de Jackson Hole, e os investidores de ações ficaram aliviados com o fato de que a alta de juros não vai acontecer em breve nos EUA. Os investidores de títulos públicos também ficaram aliviados com a notícia.
Inclusive com as garantias de Powell de que, mesmo quando o Fed começar a reduzir as compras de títulos, manterá “posses elevadas de ativos de longo prazo”, garantindo a continuidade da política monetária acomodatícia.
O rendimento da nota referencial de 10 anos caiu abaixo de 1,31% na sexta-feira, de mais de 1,34% na quinta-feira. O retorno da nota de 5 anos caiu ainda mais no início do discurso de Powell, saindo de mais de 0,86% para abaixo de 0,80% na sexta-feira. Caiu ainda mais no pregão de segunda-feira, chegando a ficar abaixo de 0,77% em determinado momento, enquanto o retorno de 10 anos perdeu a marca de 1,285%.
Os dados de emprego de agosto serão divulgados na sexta-feira, e os investidores acompanharão de perto sinais de como está a força a recuperação. Mas o feriado prolongado do Dia do Trabalho nos EUA deve reduzir o volume de negociações.
Benchmark alemão de olho na inflação, e não na política
Depois subir na véspera dos dados locais de inflação, os rendimentos dos títulos alemães caíram quando a taxa ano a ano ficou dentro das expectativas de 3,4%. O retorno da nota de 10 anos caiu cerca de 2 pontos-base para -0,44%.
O efeito-base – em parte devido à taxa de valor adicionado temporariamente reduzida em 2020 – reforçou a opinião dos investidores de que a inflação mais alta de fato é temporária. Com as preocupações inflacionárias de lado, os investidores se contentaram em seguir o exemplo dos treasuries e derrubar os retornos dos títulos públicos alemães.
Assim como nos EUA, a situação política na Alemanha pareceu ter pouco efeito nos títulos. O movimento a favor do candidato social-democrata a chanceler, Olaf Scholz, está crescendo, após uma pesquisa mostrar que ele foi o vencedor do primeiro debate televisionado de candidatos líderes e seu partido continuou à frente das pesquisas antes da eleição de 26 de setembro.
Existe uma chance concreta de que o partido de centro-esquerda encabece um novo governo após 16 anos sob a centro-direitista Angela Merkel como primeira-ministra. Em termos alemães, a ênfase em ambos os casos está no “centro”.
Título de 10 anos do Japão pouco reage à política nacional
A perspectiva de um novo primeiro-ministro também teve pouco efeito sobre os títulos soberanos do Japão, que subiram levemente, na esteira dos treasuries. O rendimento da nota de 10 anos cedeu 0,5 pontos-base para 0,015%.
O apoio ao primeiro-ministro japonês Yoshihide Suga continua caindo, com uma pesquisa mostrando-o na mínima recorde de 26%. Ele enfrenta um voto de liderança no Partido Liberal Democrata (PLD) no fim de setembro, que será seguido de uma eleição geral em outubro, sendo praticamente certo que quem ficar à frente do PLD será o primeiro-ministro.