O mercado de açúcar em NY fechou a semana praticamente inalterado. As variações ocorridas nos meses com vencimentos mais longos praticamente foram muito pequenas. Nada de novo no mercado físico de exportação, que continua pouco demandado. Pipocaram uma ou outra notícia sobre redução da safra de cana do Centro-Sul mas que foram percebidas pelo mercado com certa reserva. Fora isso, a semana curta devido ao feriado da segunda-feira nos Estados Unidos, teve muito pouco para se reportar além do fato de durante a semana, o julho negociou 16.95 centavos de dólar por libra-peso e logo em seguida se recuperou. Como o açúcar está atrasado em relação a vigorosa reação das outras commodities, é possível que os fundos mantenham suas posições compradas que possuem um preço médio de entrada de 17.14 centavos de dólar por libra-peso, segundo a Futures Analysis.
Desde a safra 2008/2009, quando pela primeira vez a produção de cana no Centro-Sul ultrapassou a marca de 500 milhões de toneladas (foram 504.963, para ser mais preciso), o setor vive uma estagnação. Usando a última previsão da Archer Consulting para a safra 2014/2015, de 575.5 milhões de toneladas (coincidentemente o mesmo número médio obtido pela apuração feita pela Thompson Reuters entre os participantes do Seminário Perspectivas do Agronegócio, promovido pela BM&F Bovespa na última a quinta-feira em São Paulo), o que se viu nos últimos 6 anos foi um crescimento pífio de 2.37% ao ano.
Compare esse crescimento, por exemplo, com o aumento das exportações brasileiras no mesmo período, que pulou de 20.8 milhões de toneladas em 2008/2009 para aproximadamente 27 milhões de toneladas na última safra. Um incremento de 5.4% ao ano. Ora, se a cana cresceu menos e a exportação cresceu duas vezes e meia mais, é óbvio que mais cana foi direcionada para a produção de açúcar pois essa, ao longo desse período, por mais vezes trouxe um retorno melhor para as usinas.
Mas olhe o aspecto principal que é o consumo de combustíveis no Brasil. Este passou de 39 bilhões de litros na safra 2008/2009 e terminou a safra 2013/2014 com um consumo de 53.4 bilhões de litros. Em cinco anos crescemos a uma taxa média anual de 6.49%. Seriam flores sem espinhos se esse crescimento no combustível pudesse ter ocorrido no etanol. Passamos de uma participação de 51.9% de etanol no ciclo Otto para 40.4%. Perdemos o equivalente hoje a uma participação adicional de aproximadamente 6 bilhões de litros no ano. Ou seja, numa conta de padaria, podemos dizer que a safra de cana no Centro-Sul poderia ser hoje, sem grandes atropelos 650 milhões de toneladas tivéssemos mantido aquela paridade inicial.
Essa mesma participação do etanol, no final da safra 2008/2009, atingindo 51.9% tinha sido ainda maior no início da safra seguinte, quando alcançou 54.5%.
Um dos assuntos que levei à discussão a semana passada no painel que participei como palestrante no acima citado Seminário foi de onde podemos chegar, minimamente que seja, no ano 2020. Utilizei para tal exercício os pressupostos de que o Brasil continua mantendo sua fatia de participação no mercado internacional de açúcar. Isto é, nem vislumbro a possibilidade de ganharmos novos mercados. Também, para o mesmo propósito, assumi que a participação dos veículos flex que efetivamente utilizam etanol hidratado se mantenha em 32-35% (não esqueça que essa participação já foi de 62% no passado). E, por fim, assumimos que o crescimento no consumo mundial de açúcar será de 1.76% ao ano.
Com dados da FAO sobre crescimento populacional e consumo per capita de açúcar, apuramos que em 2020, o mundo vai consumir adicionalmente ao que consome hoje, 19 milhões de toneladas de açúcar, com grande parte desse crescimento vindo da Ásia, da melhora de renda da população e o aumento do consumo direto e indireto do produto.
Dessa maneira, estimamos que a parcela que caberá ao Brasil em 2020 contempla um adicional de 3.7 milhões de toneladas a mais na exportação, um consumo doméstico vegetativo que será de 1.2 milhão de toneladas maior do que é hoje e, no que se refere ao etanol, mais de 11 bilhões de litros seriam demandados para atender a crescente frota.
O resumo da ópera é o seguinte: em 2020 vamos precisar de um volume de cana adicional para atender ao mercado (lembrando que fomos conservadores nessa tarefa porque nem aumentamos nossa parcela no mercado internacional e mantivemos o tamanho do mercado consumidor de etanol via carros flex inalterados) de 182 milhões de toneladas de cana. Isso representa 36 usinas com capacidade média de moagem de 5 milhões de toneladas. Para que essas novas usinas estejam em plena capacidade em 2020, novos investimentos teriam que ser feitos a partir de agora, em valor aproximado de 30 bilhões de dólares. Conseguiremos tal proeza?
Particularmente, não acredito. O investidor não acredita nesse governo que está aí. A imagem de falta de planejamento, insegurança jurídica, falta de clareza nas regras do jogo, superexpostas com o evento Copa do Mundo, mostra a total incapacidade de gestão que tem esse governo e deixa os mais otimistas dos investidores ressabiados.
Além do mais, a incompetência de Dilma em lidar com os mercados é assustadora. Ela e seu antecessor conseguiram jogar na lama uma empresa outrora sinônimo de modernidade que era a Petrobras. Por subsidiar a gasolina mantendo seus preços abaixo do mercado internacional objetivando o controle da inflação, Dilma e sua equipe conseguem num só lance derrubar o valor de mercado da estatal do petróleo e colocar o pé no pescoço do setor sucroalcooleiro.
Quanto custa esse descalabro irresponsável? Comecemos pelo preço justo da gasolina que hoje deveria ser de R$ 3.21 o litro, o que faria com que o preço do etanol pudesse chegar a R$ 2.24 o litro, bem longe dos R$ 1.80 atuais. Tomando essa diferença e extrapolando para o tamanho da safra brasileira, podemos num cálculo simplista afirmar que o setor é drenado em quase R$ 12 bilhões. Agora, compare esse valor com o tamanho do endividamento das usinas, estimado em R$ 57 bilhões para ter uma ideia de quanto o descaso e incompetência do governo petista causam ao setor.