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Desconfiança com déficit fiscal zero leva à volatilidade do mercado

Publicado 19.01.2024, 14:00
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A palavra que deve permear toda gestão de política econômica é uma só: confiança. Independente do governo que assume, é preciso que seu discurso esteja alinhado com a realidade dos fatos. A tese das expectativas racionais data da década de 70, mas parece que o governo atual tem dificuldade em aplicá-la quando olhamos a expectativa versus realidade sobre os gastos governamentais.

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Ora, a economia é composta de pessoas e empresas que tentam antecipar o que os formuladores de políticas econômicas irão fazer e que reagem não apenas à política vigente, mas que também têm expectativas sobre as políticas futuras.

Assim, não adianta o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmar que o rombo das contas públicas ficará em algo próximo a R$ 100 bilhões em 2023 e que o governo persegue o déficit fiscal zero para 2024, se o próprio presidente da República manda publicamente os ministros gastarem e os resultados fiscais deixam claro que não há comprometimento para tal. Zerar o déficit fiscal é claramente uma obra de ficção. Pior é o governo achar que o mercado acredita nele.

Os últimos dados demonstram exatamente este paradoxo. O Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas elevou para R$ 203,4 bilhões a estimativa de déficit primário para 2023 (1,9% do PIB). No relatório anterior, divulgado em setembro pelos Ministérios da Fazenda e do Planejamento, a previsão de déficit primário estava em R$ 141,4 bilhões. Enquanto isso, Haddad pede que haja esforços mais efetivos para desafogar o orçamento e há a pressão para que o Banco Central reduza a taxa de juros. Pedidos que não são sequer levados a sério pelo Executivo. Só podemos agradecer termos um Banco Central independente, pois é ele que nos fará ficar longe de casos de insucesso extremo como os que existem na América Latina.

Vimos uma revisão bem negativa do resultado primário do governo. As despesas alcançaram 19,4% do PIB, o que corresponde a uma expansão fiscal de 1,2 pp em apenas quase 12 meses, algo inédito para um primeiro ano de governo. Ainda mais preocupante é que a maior parte dos gastos são permanentes. Ao mesmo tempo, não há como aumentar a arrecadação nessa proporção sem impactar negativamente a economia.

Mas qual a implicação de tudo isso? A expansão dos gastos públicos leva ao aumento do endividamento do governo e portanto, o governo terá que pagar mais para o mercado financiá-lo.

No curto prazo, este tipo de política provoca uma falsa ideia de expansão da economia, pois o governo toma dinheiro cada vez mais caro do mercado para distribuir para as pessoas e virar consumo. Com juros mais altos, empresários não investem, pois é melhor emprestar para o governo e portanto, quando o Executivo estimula o consumo, sem a contrapartida de mais produção, os preços sobem gerando inflação. Preços mais altos consomem os recursos distribuídos cada vez mais rápido, esterilizando o efeito na economia, o que retroalimenta os juros mais altos e menos os empresários investem. É a espiral da morte onde ricos vão ficando cada vez mais ricos emprestando para um governo que vai empobrecendo os mais pobres a uma velocidade cada vez maior. Os juros mais altos desaceleram a economia mais ainda e estimulam os mais ricos a emprestar mais para o governo, que erradamente acha que o problema é mais “bolsas” para os pobres, e por aí vai.

Melhor dizendo, mais gastos públicos injetam recursos na economia que se expande no curto prazo com pressão inflacionária e desequilíbrio estrutural. As consequências são desastrosas, como acontece ao longo de toda a história no final de ciclos de governos socialistas, como as que vivenciamos na segunda fase do governo Dilma. Apesar de ter sido retirada do cargo, a maior parte dos problemas que ela enfrentou foram causados pelo 2o mandato de Lula e o primeiro mandato dela. Neste ponto, por pior que seja, foi bom ela ter ganhado um segundo mandato pois arcou com as consequências de suas próprias decisões. Elevados déficits do governo, mantidos por muitos anos sem crescimento econômico, resultam no risco de crises fiscais, elevam taxas de juros que provocam déficits ainda maiores e novos incrementos das taxas de juros.Na esteira vem inflação, desemprego e pobreza.

No limite, se os desequilíbrios fiscais forem suficientemente grandes, a política monetária se torna subserviente aos aspectos fiscais (dominância fiscal) e o regime de metas de inflação terá que ser modificado. O comprometimento do controle inflacionário pelo Banco Central, seu mandato, torna mais difícil para o Executivo advogar em prol da perda de responsabilidade fiscal porque isso é claramente inconsistente com o sistema de metas.

Voltando para as expectativas racionais, o que o mercado financeiro procura fazer é encontrar a melhor relação risco e retorno para suas operações. As taxas de juros estão caindo porque as condições não só no Brasil permitem isto, contudo com o descontrole fiscal e esta forma errada de resolvê-lo através de mais impostos, dificilmente os juros cairão muito mais, conforme explicado acima. É uma conta de risco versus retorno e não algo mágico ou falta de interesse dos agentes em ter um país melhor com mais igualdade. O governo operando desta forma é uma máquina de criar desigualdade social e o mercado precifica isto, pois o risco está aumentando. Isto sem falarmos que os impostos no Brasil são regressivos e por isto impactam muito mais os pobres do que os ricos, causando mais pobreza ainda.

Neste cenário, é complicado olharmos para as empresas e vermos um ambiente propício para seu crescimento robusto ao longo dos anos. Vale (BVMF:VALE3) sempre lembrar o que Warren Buffet fala sobre os EUA, onde o ambiente sempre o favoreceu. No Brasil é o contrário, pois o empresário precisa lutar contra o governo que tenta esmagá-lo com regulações, impostos e uma máquina pública muito maior do que deveria ser e que consome 90% de tudo que o governo arrecada.

Neste início de 2024 nos parece que estamos vivendo momentos similares aos que tivemos no primeiro semestre de 2023, com muita incerteza e volatilidade, como em março de 2023 por exemplo. Volatilidade e incerteza geram ótimas oportunidades de comprar boas empresas que saibam pilotar este ambiente brasileiro. Investir em ações e em negócios em um ambiente hostil costuma pagar muito bem, pois de forma geral, as pessoas não conseguem fazer corretamente a conta mental de risco versus retorno.

Tal situação faz com que investidores mal preparados realizem rapidamente seus prejuízos. Quando o otimismo retorna, e ele sempre retorna, estão fora do mercado. De novo entram na segunda espiral da morte: vendem quando o mercado cai e recompram quando o mercado sobe. Até quebrarem. Afinal, resgatar quando o mercado corrige e aportar quando o mercado sobe está entre as atitudes que mais destroem patrimônio das pessoas.

Este movimento é comum tanto em investidores que aplicam diretamente na bolsa quanto aqueles que fazem por um fundo de investimentos, pois aportam quando a cota está alta e resgatam na baixa, esquecendo de conceitos básicos de alocação, como retorno composto no tempo e retorno à média. Saber quando aportar pode mudar muito seu retorno no tempo.

A volatilidade no preço dos ativos é algo comum quando se investe em ações e estratégias correlatas. E, dito isso, a melhor forma de fazê-lo é não tentar adivinhar cenários. A economia e os governos, por piores ou melhores que sejam, estão sempre presentes e por isto, esperar o cenário melhorar para tomar decisões de investimento gera somente o efeito de se pagar mais caro por bons ativos, que em uma situação de mais incerteza, estariam valendo uma fração do que deveriam.

*Fernando Camargo Luiz é gestor da Trópico Investimentos

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