Jerome Powell, na reunião de Jackson Hole conhecida por dar sinais do rumo da política econômica americana para o fim de cada ano – desde a recessão de 2008 – foi cauteloso sobre a situação dos Estados Unidos, citando o arrefecimento da atividade de manufaturados, as baixas despesas de capital e o impacto da guerra comercial com a China – entre outros temas.
O mercado estava gostando, dada a probabilidade maior de um novo corte de juros na reunião do FED de setembro, até a China ameaçar taxar um total de US$ 75 bilhões de importações vindas da América – prontamente sendo respondida por Trump com a promessa de aumentar as atuais alíquotas em adicionais 5% para todos os produtos chineses.
O receio dos investidores tem se provado mais negativo para os mercados emergentes, conforme comentei na semana passada, e desta forma nem mesmo a queda do índice do dólar conseguiu impedir com a desvalorização do Real, que bateu R$ 4.13 na sexta-feira.
Em Nova Iorque o contrato de café arábica para o vencimento de dezembro de 2019 fez uma nova mínima no começo da semana, reagindo positivamente nos dias seguintes, mas não aguentando a pressão de vendas com a firmeza do câmbio contra a moeda brasileira.
Muitas casas corretoras disseram ter havido um bom volume de vendas de origens no terminal, assim como comerciantes notaram um aumento no fluxo de negócios na principal origem, pontualmente ajudado pelas oscilações do dólar.
Relatórios mencionando a abertura de flores no cinturão de café brasileiro com abrangência relativamente grande, assim como o prognóstico climático favorável, pode ter influenciado parcialmente a decisão de venda de alguns produtores.
As agências de notícias informaram o desejo de lideranças do café no Brasil em desenhar um plano de opções para distribuir um prêmio aos produtores que vendam seus cafés entre R$ 438.15 e 488.15 a saca – com a tentativa de abranger até 10 milhões de sacas. Mais detalhes são necessários serem explicados para ajudar a leitura dos agentes, e até algo eventualmente ser feito (por um governo liberal?), o foco fica no potencial da safra 20/21.
O fim do verão marcado extraoficialmente pelo feriado bancário na segunda-feira dia 26 de agosto em Londres, e no dia 2 de setembro nos Estados Unidos, deve promover um interesse de compra maior por parte dos torradores que precisam se cobrir para (pelo menos) o outono e inverno no hemisfério norte.
Ainda que a percepção transpirada por muitos seja de haver uma disponibilidade de inventário confortável, o comportamento dos diferenciais nos diz que os estoques no destinos não são comercialmente tão interessantes.
Talvez com a chegada das safras dos suaves, dentro de dois meses, o quadro se altere, entretanto o sentimento neste momento vindo do campo da América Central e até mesmo da Ásia é de uma firmeza impressionante.
Aqueles que apostam em um enfraquecimento do basis, imaginam que floradas sadias seguidas de chuvas “confirmarão” a tão alardeada safra recorde no Brasil no ano que vem, fazendo desencadear então uma pressão vendedora da maior origem e empurrando os demais países produtores a se movimentar para não sofrerem o risco de vender “por último”.
Eu pessoalmente não acredito nisto e me parece difícil termos uma janela de diferenciais fracos em um cenário destes, haja vista o que tem acontecido nos últimos anos.
Os produtores do Brasil, da Colômbia e do Vietnã têm sido disciplinados em suas vendas, relutantes em entregar seus cafés a qualquer preço e, portanto, encarecendo os diferenciais. Nas altas de mercado muitos preferem negociar suas safras futuras, dosando a oferta do que há disponível e frustrando os que foram mais agressivamente vendidos a descoberto.
Em algum momento estes diferenciais firmes serão refletidos no terminal, a questão (além de, quando) é quanto mais o quadro macroeconômico pode deteriorar.
Não haverá comentário na próxima semana, voltaremos no dia 7 de setembro.
Uma ótima semana e bons negócios a todos.