Dólar: Alvos atingidos e perspectivas em um cenário de transformação

Publicado 16.09.2025, 17:11

Em nossa última análise, projetamos alvos e possíveis suportes para o dólar, e, de maneira significativa, a cotação da moeda americana rompeu uma importante região de preço, reforçando a tendência de queda e abrindo caminho para novos patamares. O cenário atual, impulsionado por eventos macroeconômicos de grande envergadura e por movimentos de mercado que refletem uma mudança de paradigma global, sugere uma continuação dessa trajetória, mas com complexidades que merecem ser exploradas em detalhes. Este artigo visa aprofundar essa discussão, conectando a análise técnica com o cenário fundamental e macroeconômico global.

O Rompimento do Suporte de R$ 5,40 e a Abertura de um Novo Horizonte Técnico

Como havíamos destacado em nossa análise gráfica, o dólar furou o suporte na região dos R$ 5,40, um movimento que validou a força da tendência de baixa que se vinha consolidando. É crucial reiterar, para quem acompanha a análise técnica, que observamos regiões de preço, e não valores únicos e absolutos. Preços redondos como R$ 5,40 servem como referências das áreas onde suportes e resistências são testados e, eventualmente, rompidos. O rompimento dessa barreira foi mais do que um simples evento técnico; ele sinalizou uma quebra de paradigma na percepção de valor do dólar no curto e médio prazo, em um contexto de alta volatilidade e incertezas.

Com o rompimento consolidado, o foco se move para os próximos suportes, que passamos a tratar como alvos potenciais da atual onda de baixa. É fundamental entender que cada um desses níveis representa um ponto de atenção, onde o mercado pode encontrar uma zona de equilíbrio temporário ou até mesmo uma reversão de curto prazo.

  1. R$ 5,22: Este patamar representa a máxima de 2023, um nível histórico que, ao ser revisitado, pode atuar como um forte suporte psicológico e técnico. A superação desse ponto em 2023 exigiu um esforço considerável do mercado e, agora, sua reconquista pode representar uma barreira natural para a continuidade da queda.
  2. R$ 5,15: Este nível possui um significado técnico ainda mais profundo, pois representa um antigo suporte e resistência, e, crucialmente, coincide com a projeção de 161,8% de Fibo (Fibonacci) na projeção da onda C. Em termos de teoria de Elliott Waves, esse seria um ponto excelente para a formação de uma possível mínima do ano, marcando o fim de um ciclo de queda e o início de um novo movimento de preço.
  3. Região de Inflexão (entre R$ 4,40 e R$ 4,50): Esta é uma micro região de inflexão extremamente importante, que historicamente serviu tanto de suporte quanto de resistência. Ela é formada por topos e fundos anteriores recentes e relevantes. Se a tendência de baixa continuar, essa região se configura como um alvo de longo prazo para uma grande onda de queda, mas também deve ser vista como a máxima do próximo movimento de alta, conhecido como "repique". Dificilmente o mercado buscará os alvos em um movimento linear e contínuo de queda; novas tentativas de alta são esperadas e fazem parte da dinâmica natural do mercado.

Fonte: Gabriel Hartt CNPI-T - Terra Investimentos, Dados TradingView

A Super Quarta e a Dinâmica Global da Taxa de Juros

O principal motor do movimento atual do dólar é, sem dúvida, o cenário macroeconômico, especialmente a dinâmica da taxa de juros nos Estados Unidos. A próxima "Super Quarta", com as definições de política monetária do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) e do Comitê de Política Monetária (COPOM) no Brasil, se configura como um evento de alta relevância. A expectativa do mercado, segundo o Observatório do FOMC da CME Group, é de um corte de 0,25% na taxa do FED, que passaria do patamar de 4,25%-4,50% para 4,00%-4,25%.

Se confirmada, essa seria a primeira redução dos juros nos EUA após uma longa e agressiva escalada para combater a inflação. Esse movimento não é apenas simbólico; ele sinaliza o início de um novo ciclo de política monetária nos EUA, com o FED se movendo de uma postura de combate inflacionário para uma de estímulo econômico, ainda que cauteloso.

Imagem 1 reunião de Quarta feira dia 17-08-2025.

Imagem 2 última reunião do FED do ano, 10-12-2025.

Fonte: CME Group

O impacto desse corte de juros vai muito além das fronteiras americanas. Ao reduzir o "rendimento" dos ativos atrelados ao dólar, o FED torna a moeda menos atrativa para investidores globais. Isso desincentiva o capital a permanecer nos EUA e o direciona para mercados que oferecem um retorno real mais alto, como os mercados emergentes, incluindo o Brasil. A expectativa de que este seja o primeiro de uma série de cortes, com projeções de novas reduções em outubro e dezembro, apenas reforça a tese de enfraquecimento do dólar em relação a outras moedas.

O Efeito "Carry Trade" e a Entrada de Capital Estrangeiro no Brasil

A diferença entre a taxa de juros do Brasil e a dos Estados Unidos (o chamado "diferencial de juros") é um dos fatores mais importantes para o fluxo de capital. Com uma taxa Selic em 15% e a taxa do FED possivelmente caindo para menos de 4,50%, a diferença se torna extremamente atrativa para o que o mercado financeiro chama de "carry trade". Nesse tipo de operação, investidores tomam dinheiro emprestado em países com juros baixos (como os EUA) para investir em países com juros altos (como o Brasil), embolsando a diferença.

Essa entrada massiva de capital estrangeiro para o Brasil contribui diretamente para a queda da cotação do dólar perante o real. A demanda por reais para que esse capital seja investido no mercado doméstico (seja em renda fixa, bolsa de valores ou outros ativos) aumenta, enquanto a oferta de dólares no país também cresce, pressionando a cotação do câmbio para baixo. Este movimento se intensificaria ainda mais se os EUA iniciarem um ciclo de corte de juros mais acentuado.

As Remessas de Capital de Final de Ano e a Volatilidade Sazonal

Além das grandes tendências macroeconômicas, o mercado de câmbio também é influenciado por movimentos sazonais e de fluxo de caixa. Um desses efeitos, conhecido no Brasil e em outros países em desenvolvimento, são as remessas de capital de final de ano. Empresas multinacionais e investidores estrangeiros, em geral, realizam nos últimos meses do ano o envio de lucros e dividendos para suas sedes no exterior. Esse movimento de saída de dólares do país aumenta a procura pela moeda americana, o que tradicionalmente gera uma pressão de alta no câmbio.

Embora esse seja um fator de pressão, a magnitude da entrada de capital para aproveitar o diferencial de juros pode ser tão grande a ponto de anular ou, pelo menos, suavizar esse efeito sazonal. A interação entre esses dois movimentos opostos (fluxo de entrada por "carry trade" e fluxo de saída por remessas) será um ponto crucial de atenção para os analistas e traders nas próximas semanas.

O Impacto no Mercado de Ações e a Atração por Ativos de Risco

A queda do dólar e o influxo de capital estrangeiro não afetam apenas o mercado de câmbio; eles têm um efeito direto e poderoso sobre a Bolsa brasileira. Com o capital externo buscando retornos mais altos, a compra de ações de empresas brasileiras se torna uma das principais vias de investimento. Essa alta demanda por ativos de risco contribui para a valorização do Ibovespa, que tem trabalhado em suas máximas históricas.

O rompimento da máxima do ano e a manutenção acima dos 143 mil pontos não são apenas resultados de uma perspectiva otimista interna, mas também um reflexo da atração de capital externo impulsionada pela desvalorização do dólar e pelo ciclo de juros nos EUA. Para o investidor em ações, esse cenário é favorável, pois o capital que entra no país busca liquidez e rentabilidade, impulsionando os preços dos ativos.

Um Olhar para o Futuro: Riscos e Perspectivas

Apesar da narrativa dominante de queda do dólar, é vital considerar os riscos e as variáveis que podem alterar essa trajetória. Uma inesperada mudança na política do FED, talvez motivada por um novo surto inflacionário ou por uma desaceleração econômica mais forte do que a esperada nos EUA, poderia reverter as expectativas e fortalecer o dólar. Da mesma forma, fatores internos como a incerteza fiscal no Brasil, mudanças na política econômica ou eventos políticos inesperados poderiam afugentar o capital estrangeiro e pressionar a cotação do dólar para cima.

A análise do dólar, portanto, não se resume a um gráfico de preços, mas a uma complexa teia de fatores globais e locais, técnicos e fundamentais. O momento atual parece favorável a uma continuação da queda, mas a prudência e a constante análise dos dados e eventos são a chave para navegar neste mercado em constante transformação.

Deixe no seu radar as seguintes estratégias:

  • Venda tática de dólar (hedge reverso);
  • Diversificação internacional com janela cambial favorável;
  • Travamento inteligente de câmbio para exportadores.

Bons investimentos.

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