O Banco Central Americano divulgou em seu comunicado que os juros devem sofrer no máximo dois incrementos durante o ano 2016, menos do que os quatro ajustes previamente programados e em linha alinhado do que parecia ter sido precificado pelos mercados. Digo parecia, pois a reação do índice do dólar foi negativa levando o indicador para o mais baixo nível desde outubro de 2015 estimulando assim a compra de ativos de risco.
A classe mais beneficiada foi a das commodities com os três principais índices subindo acentuadamente para os patamares de dezembro último. Dentre os componentes do CRB os destaques da alta foram o café em Nova Iorque +6.93%, seguido pelo ganho de 6.08% do petróleo WTI, o gás natural +4.84% e o açúcar demerara +3.57%.
O movimento do arábica foi impulsionado pelo surpreso animo dos fundos de não apenas cobrir suas posições vendidas mas também adicionar compras novas fazendo com que os não-comerciais aparecessem no relatório do CFTC com um volume líquido comprado de 5,690 contratos – o que não acontecia desde agosto de 2015.
Chama atenção o volume total comprado pelos fundos de 19,401 lotes entre os dias 9 e 15 de março, resultando em uma alta no terminal de apenas US$ 4.00 centavos por libra. Ao mesmo tempo é verdade que nos últimos três dias os ganhos foram de outros US$ 9 centavos adicionais, provavelmente colocando os especuladores em uma posição líquida comprada de no mínimo 15 mil contratos.
As origens aproveitaram para vender café com uma movimentação bem grande no Brasil aonde o volume que fluiu para os exportadores volta a levantar dúvidas sobre o tamanho da safra atual ou do estoque de passagem trazido para o atual ciclo. As fixações em Nova Iorque se estendem até o contrato de dezembro de 2017, notadas pelo aumento do Open Interest (contratos em aberto) de cada vencimento da tela. Os produtores brasileiros tem ao seu favor a curva dos juros no país permitindo garantir preços em reais elevados para as próximas duas safras – a reversão da posição dos fundos vem em bom momento.
Fundamentalmente o quadro positivo é demasiadamente influenciado pela renovação do apetite de compra de investidores em função principalmente de a moeda americana ter enfraquecido. Na minha leitura este é o motivo da alta da semana, e creio que uma vez ajustada a posição dos agentes precisaremos de algum evento indicando escassez ou receio de perda de produções de café para evitar uma queda do terminal para novas mínimas.
O tom mais cauteloso se deve ao teimoso volume exportado pelas duas principais origens do arábica que abasteceram os países consumidores no pico da entressafra, potencialmente o período aonde os diferenciais deveriam ter encarecido e o fluxo diminuído. Com o Brasil não dando sinais de quedas significativas nos embarques, pelo contrário, a conversa sobre os teóricos estoques baixos a serem carregados para o próximo ano-safra perde a importância diante da chegada da safra.
No encontro em San Diego da National Coffee Association (NCA) as conversas e sentimentos foram mistos, com alguns tendo certeza da grande oportunidade de venda que o contrato “C” está proporcionando e outros crendo em uma continuação da alta. A primeira turma tem a seu favor o que comentei nos parágrafos anteriores sobre as vendas contínuas das origens, a posição dos fundos a também figura técnica do gráfico. Já o time dos altistas comenta muito sobre uma queda mais rápida dos certificados nos próximos meses. Fofocas nos corredores dizem que 400 mil sacas dos certificados já estão vendidas para entrega até o meio do ano – basicamente o volume de café colombiano e hondurenho mantido em portos Europeus nos armazéns cadastrados pela ICE. O papo serviu para acelerar a rolagem de posições e apostas nos spreads, prematuro na minha leitura – a não ser, claro, que a descertificação seja um jogo para causar um squeeze – arriscadíssimo de acontecer à beira da entrada de uma safra de arábica brasileira grande com potencial de levar um bom volume de cafés semi-lavados para serem certificados pela bolsa americana.
Os fundos precisam manter o apetite de compra para o mercado segurar acima das médias rompidas recentemente, tarefa árdua dado o interesse de venda das origens, mas que pode ser facilitada se a moeda americana enfraquecer. No curto-prazo eventualmente até poderíamos ver o dólar escorregar mais, inclusive contra o Real, mas o movimento não deve se sustentar, pois os Estados Unidos fundamentalmente estão com indicadores econômicos muito mais sólidos e positivos do que o resto do mundo, portanto os produtores estão de parabéns em aproveitar e vender o que tenham ainda de estoque e as suas próximas duas safras.
Uma excelente semana e muito bons negócios a todos,