Dólar: movimento pontual, mas não uma reversão sustentável da tendência

Publicado 09.12.2013, 10:29

Os números da ADP, processadora de folhas de pagamento nos Estados Unidos, anteciparam a melhora do cenário do mercado de trabalho americano ao indicar a criação de 215 mil novas vagas de emprego ante projeção de 185 mil, e isto ocorreu no momento em que o preço da moeda americana sinalizava no nosso mercado de câmbio que atingiria o preço de R$ 2,40.

Este cenário precipitando a alta forte do preço da moeda americana levou o Presidente Tombini a anunciar que o BC dará continuidade ao programa de suprimento de liquidez para os mercados futuro e a vista, este de forma indireta como vem sendo praticada com triangulação pelos bancos.

Tombini o fez informalmente no almoço com membros da Febraban e ressalvou que o programa terá ajustes. Foi uma ação providencial, antecipando-se ao anúncio oficial do Ministério do Trabalho sobre o “payroll” que ocorreria no dia seguinte, e que ocorreu indicando a criação oficial de 203 mil novos cargos, acima das projeções de 180 mil, mas trazendo uma surpreendente queda de 7,3% para 7,0% no desemprego, nível mais baixo desde 2008, quando a expectativa era estabilidade ou uma pequena redução para 7,2%.

O anúncio da continuidade do programa de oferta de liquidez foi claramente antecipado, dada às circunstâncias do mercado, sendo que esta manifestação da autoridade monetária era prevista nas nossas considerações diárias para ocorrer próximo ou na ultima semana do ano, quando também imaginávamos que a taxa cambial estivesse em R$ 2,40, e então provocaria o impacto fazendo-a recuar para o entorno de R$ 2,30.


A alta precipitada do dólar provocou ação na mesma linha do BC anunciando a continuidade do programa.


Desta forma, ocorreu o impacto antecipado que prevíamos para o final do ano, mas a dúvida neste momento é se a apreciação do real ocorrida tempestivamente terá sustentabilidade até o fechamento do mês, visto que a tendência do dólar é consistentemente de alta no nosso mercado de câmbio, como consequência da carência de fluxo liquido de recursos externos positivos.

Os dados do emprego americano colocam em perspectiva até uma possível decisão sobre a continuidade do programa de incentivo monetário, já na próxima reunião do FED no dia 18 deste mês.

O mercado financeiro americano está empolgado com os dados mais recentes da economia revelando forte recuperação da atividade, em especial com os dados do emprego se revelando muito melhor que o esperado, e, embora convivam com a perspectiva de queda da liquidez decorrente de uma decisão do FED acerca do programa de incentivo monetário, atenuaram os efeitos negativos desta possibilidade ante a nova realidade da economia.

O mercado global, contudo, sinaliza preocupação com o fim do programa americano, e até por isto, repercute menos intensamente os dados econômicos favoráveis da China que alcançou um superávit comercial de US$ 33,8 Bi em novembro, o maior em quase 5 anos. As exportações chinesas cresceram 12,7% na comparação anual. A inflação desacelerou em novembro para 3,0% ante 3,2% em outubro e projeção de 3,1%.

O fato é que o inicio da redução do programa impactará fortemente provocando fluxos adversos de recursos nos mercados emergentes, e, agora o mercado americano em sí passa a concorrer com a atratividade maior estimulando, também, o deslocamento de recursos ora locados nos emergentes.

A ação providencial do Presidente Tombini trouxe, como destacamos, o efeito previsto para o fim do ano no preço da moeda americana para o inicio do mês de dezembro, mas como os fatores que poderão impulsionar a saída de recursos até se intensificam e perduram presentes, face até ao crescimento americano apurado a partir dos dados do 3º trimestre, há o risco de não sustentabilidade para o fechamento do ano do preço da moeda americano entorno de R$ 2,30, como prevíamos, pois já foi feito uso do fator de impacto redutor por parte do BC.

Previdentemente o BC inicia hoje a rolagem da posição vincenda em 2 de janeiro de 2014 de “swaps cambiais” de US$ 9.930 Bi, que no nosso entendimento deverá ser objeto de rolagem no seu todo, caso contrário será mais um fator de impacto de alta no preço da moeda americana. Hoje o BC oferta lote para rolagem de 20.000 contratos, quase US$ 1,0 Bi, e dá sequência a oferta de 10.000 contratos dentro do programa de liquidez.

No nosso entender, as perspectivas pouco favorável para o Brasil em 2014 não sofreram mudanças, os fatores que determinam a baixa atratividade externa persistem, e, até o fato da necessidade do BC dar continuidade ao programa de fornecimento de liquidez ao mercado de câmbio deixa evidente a vulnerabilidade da moeda e carência de fluxos em perspectiva, o que torna necessária a presença da autoridade monetária.

Não vemos em 2014 perspectivas que possam reverter o contexto que vem determinando a perda de atração externa do Brasil, mas em contraposição não nos foge à percepção que outros emergentes despertam maior atratividade do que o Brasil e que a economia americana com seu desempenho pode determinar o retorno de considerável volume de investimentos em poder dos emergentes, e não rigorosamente atrelado e consequente do fim do programa do FED, que é outro fator de saída de recursos dos emergentes.

Continuamos com percepção bastante negativa para os fluxos de recursos para o Brasil em 2014 e em especial no 1º trimestre, o que nos leva a continuar com a perspectiva de que a taxa cambial poderá atingir R$ 2,50 ao final deste período.

O Boletim FOCUS editado dia 6 e divulgado hoje pelo BC, contendo as projeções medianas de indicadores econômicos, promove expressiva revisão no IPCA-2013 reduzindo-o de 5,81% para 5,70%, porém reduz o crescimento do PIB de 2,50% para 2,35% e a produção industrial de 1,69% para 1,63%. Mantém inalterado o dólar em R$ 2,30. Deixamos de considerar as projeções para 2014 por considerarmos ser meros indicativos sem grande fundamentação dado os inúmeros fatores de influência e as incertezas predominantes no contexto interno e global.

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