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E no Entanto, Ela se Move...

Publicado 10.09.2018, 09:17
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O astrônomo Galileu Galilei foi condenado pelo Papa Urbano VIII por ousar afirmar que a Terra não era o centro do Universo. Embora seu livro acerca do tema tenha sido publicado com a autorização da Santa Igreja, em 1632, Galileu foi chamado pela segunda vez para que explicasse tamanha heresia já que a fé dos católicos, baseada na própria Bíblia, assegurava ser a Terra o centro de tudo.

Galileu foi considerado culpado e, com 70 anos, já doente, ameaçado pela prisão iminente e tortura, voltou atrás. Diz a lenda que, ajoelhado, teria dito perante o tribunal de cardeais: “abjuro, amaldiçoo e detesto os citados erros e heresias que cometi, juro que no futuro nunca mais direi nem afirmarei, verbalmente nem por escrito, nada que proporcione motivo para tal suspeita a meu respeito”, ao se levantar, bateu no chão e disse baixinho: “e, no entanto, ela se move”

O mercado futuro de açúcar, também se move. E dessa vez, para cima, coisa rara nesses tempos difíceis. E os fundos não são o centro do universo, como veremos abaixo. A semana encurtada pelo feriado americano na segunda-feira e pelo dia da Independência do Brasil, na sexta-feira, encerrou a 11.01 centavos de dólar por libra-peso para o vencimento outubro de 2018. Todos os vencimentos encerraram com alta entre 32 e 46 pontos, equivalentes a 7 e 10 dólares por tonelada, respectivamente. Curiosamente, os contratos com vencimentos mais longos subiram mais.

A posição dos fundos não-indexados pegou todo mundo de surpresa. Como a posição em aberto estava se reduzindo dia após dia, todo o mercado estava convencido de que havia cobertura de posições vendidas por parte dos fundos. No entanto, ao invés de reduzirem, eles aumentaram a exposição para um recorde de 188,738 contratos vendidos a descoberto (equivalentes a 9.6 milhões de toneladas de açúcar). Originalmente, acreditava-se que os fundos estavam recomprando café e açúcar e tomando lucro do petróleo (que estavam comprados) pois neste mês, café e açúcar subiram levemente enquanto o petróleo caíra cerca de 4%. Parece que não foi isso que ocorreu. De onde veio, então, a redução de posição em aberto se os fundos nada liquidaram?

Uma possível explicação pode ser a liquidação de spreads (aqueles mesmos usados pelas usinas para rolar a posição de outubro para março) que agora (em função de NY melhor em centavos de dólar por libra-peso e com os repiques do real) podem ter decidido finalmente fixar seus açúcares. Se isso for verdade, a enorme posição carregada pelos fundos não-indexados pode ser explosiva em algum momento, em especial se fatores exógenos contribuírem para isso. Ainda pesam, evidentemente, as notícias de que a Índia pode exportar de 4 a 6 milhões de toneladas de açúcar no ano safra que se inicia em 1º de outubro.

As usinas começam a fazer contas e, aos poucos, fixam contratos para 2019/2020. A Archer Consulting deverá divulgar em breve a primeira estimativa de fixação das usinas. O mercado acredita que ela esteja entre 10-12%, número considerado ligeiramente baixo se olharmos os anos anteriores em que, na média, nessa época do ano, estaríamos próximos de 14% fixados. As cotações para 19/20 estão na média, usando NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira) R$ 1,186 por tonelada. Para a safra seguinte, R$ 1,300 por tonelada.

Numa conferência da indústria em São Paulo, o diretor de comercialização de etanol da Bioagência, Tarcilo Rodrigues, declarou que as usinas do Centro-Sul deverão aumentar a capacidade na produção de etanol para a safra 2019/2020. Se isso ocorrer, e somos da mesma opinião, o ano que vem teremos ainda menor disponibilidade de açúcar para o mundo. Acreditamos que, independentemente do crescimento da safra indiana e tailandesa, o enxugamento da disponibilidade de açúcar brasileiro no espaço de dois anos (a safra corrente e aproxima) pode contrabalancear o excesso de produto na Ásia. Os meses futuros estão subindo mais rapidamente.

Na Índia, em outro evento, Marcus Jank, CEO da Asia-Brazil Agro Alliance, uma organização que reúne três importantes associações brasileiras do agronegócio, entre elas a ÚNICA, mencionou que o potencial de consumo de etanol em mercados chaves na Ásia, com as metas de mistura de biocombustível em discussão nos principais países, pode elevar o atual consumo de 7.5 bilhões de litros para 26.9 bilhões de litros, um filão a ser preenchido de 19.4 bilhões de litros.

Peguem essas duas observações desses ilustres e profundos conhecedores do mercado de etanol e adicionem uma largamente anunciada redução na disponibilidade de açúcar o ano que vem por parte do Centro-Sul e um enorme potencial de consumo de etanol em nível mundial nos próximos anos. Os preços atuais (abaixo do custo de produção) não se sustentam.

Uma boa notícia nesta semana veio da Petrobras (SA:PETR4). A estatal brasileira aprovou um mecanismo de hedge complementar, visando dar flexibilidade adicional à gestão da política de preços da gasolina. Com a ajuda de derivativos a empresa pode dilatar a frequência dos ajustes do preço da gasolina no mercado interno, ou mesmo deixa-lo estável por curtos períodos de tempo, de até 15 dias, conciliando seus interesses empresariais com as demandas de seus clientes e agentes de mercado em geral. Para o setor a perspectiva é que a defasagem atual (6-8% em relação ao preço de paridade internacional) se estreite melhorando a competitividade do etanol e abrindo espaço para uma recuperação do preço do açúcar no mercado internacional.

O Brasil está um verdadeiro barril de pólvora. O atentado contra o candidato a Presidência da República, Jair Bolsonaro mostra a extrema polarização que tomou conta do país nos últimos anos. O Brasil teve raríssimos casos de atentados, o primeiro em 8 de setembro 1915 quando o Senador gaúcho Pinheiro Machado foi assassinado no Rio (então Capital do país) com uma facada nas costas. O crime gerou enorme comoção nacional. Em 5 agosto de 1954, Carlos Lacerda, jornalista e opositor ferrenho do então presidente Getúlio Vargas, sofreu atentado a bala, na rua Tonelero, no Rio de Janeiro. O jornalista sobreviveu, mas as investigações apontaram para a guarda pessoal de Vargas. Menos de três semanas após, com o agravamento da crise política, Getúlio suicidou-se.

Muito cedo para dizer as consequências do atentado contra Bolsonaro. Num primeiro momento é muito provável que os ataques contra o candidato desapareçam no primeiro turno em virtude de comoção. As esquerdas perdem espaço com a radicalização, já que o autor da facada foi filiado a um partido de esquerda num passado recente, em especial Fernando Haddad (fantoche do criminoso Lula da Silva) e Ciro Gomes. Ganham Alckmin e Amoedo. Muita água vai rolar ainda. Não esquecendo que em 2014, após o acidente aéreo que tirou Eduardo Campos da campanha, sua vice Marina herdou os votos, que não foram suficientes para leva-la ao segundo turno.

O Brasil, definitivamente, não é um país para cardíacos.

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