Parece que as mudanças na pecuária de corte acontecem em um ritmo mais lento na comparação com as demais atividades. E, em grande parte, isto é verdade.
Porém, não podemos nos enganar, elas ocorrem. Os fatores redutores da margem econômica da atividade nos últimos anos compreendem uma lista razoável. E todos eles atuam conjuntamente.
Nesta edição analisamos um importante fator dentro da porteira, a mão de obra.
A análise foi feita considerando as variações da arroba do boi em São Paulo, segundo o levantamento da Scot Consultoria, e do valor do salário mínimo nacional, divulgado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE).
Embora a evolução do salário mínimo não represente necessariamente a variação do custo com os colaboradores na empresa, ela mostra uma tendência de reajuste salarial no período.
Boi x salário
Na figura 1 está a evolução do boi e do salário mínimo, em Reais nominais e em base 100.
A diferença de comportamento entre as duas grandezas nos últimos dezoito anos é nítida.
O salário mínimo saiu de R$64,79 em julho de 1994 para R$622,00 em junho deste ano. A arroba do boi gordo passou de R$21,90 para R$94,00. As variações foram de 860% e 329%, respectivamente.
Através do gráfico de base 100, temos uma ideia da relação entre as duas variáveis. Enquanto o boi teve certo fôlego até 2002-2003, em consequência da fase de alta do ciclo pecuário, em momento posterior a diferença aumentou significativamente.
Para analisar a situação, na tabela 1 temos a relação de troca média entre um salário mínimo e a arroba a cada ano.
Sabemos que a relação de troca tem altos e baixos, reflexo do ciclo de preços do boi gordo, mas os números indicam que a tendência é de que mais arrobas serão necessárias para o pagamento de um salário mínimo ou mais arrobas de boi gordo serão necessárias para a equivalência a um salário.
Em 1994 eram necessárias 2,5 arrobas de boi gordo para o pagamento de um salário mínimo, hoje a relação é de 6,4. Um aumento de 152%, que repercute em redução do poder de pagamento e estreitamento da margem do negócio.
Em 2006, no vale de preços do último ciclo pecuário, a relação de troca superou 6,3 arrobas por salário. Crise brava. Hoje voltamos a este patamar.
Só diluindo mesmo...
O boi não pode ser visto como o patrão. Esta noção perdurou muito anos no Brasil, principalmente na década de 80, com a inflação galopante.
Hoje a situação é outra. Como vimos, se deixarmos por conta da arroba, a responsabilidade da melhoria nas relações de troca, a situação final é, normalmente, desagradável.
A ideia de produção de arroba a baixo custo e de mão de obra barata também já são ideias que, cada vez mais, podem ser jogadas no baú das lembranças. O desenvolvimento da economia também cobra seu preço, com a exigência de maior eficiência dos sistemas.
Isto reforça a teoria de que sem o ganho da escala de produção e da diluição dos custos fixos e variáveis indiretos (que é o caso da mão de obra) por unidade produzida, os resultados econômicos da atividade pecuária tendem a ser mais modestos no decorrer do tempo, em um horizonte de médio e longo prazo.