Há um anseio de que se recoloque tudo em novo reordenamento de forma a tornar factível a recuperação econômica do Brasil, mas a busca de amplas correções leva ao choque conflituoso dos efeitos das medidas entre si, e isto acaba por sugerir que será muito difícil reconquistar tudo de uma vez só e num curto espaço de tempo, provavelmente comprometendo os objetivos perseguidos.
A contenção de gastos do governo é muito baixa já que grande parte é mandatório, então a alternativa tem sido eliminar as benesses concedidas anteriores e aplicar um tarifaço bem acima do imaginado anteriormente e promover-se o ajuste dos preços relativos da economia, que acaba por induzir uma rodada ampla de correção de preços de todos os setores indiscriminadamente, com substantivo adicional impacto inflacionário na economia que já convive com indicadores superando o piso máximo da meta objetivada pelo governo.
Há uma sensação de que tudo voltou a ser remarcado para mais nos seus preços, enquanto os salários excessivamente contemplados até recentemente não devem ser reajustados para corrigir a imperfeição dos aumentos acima da produtividade dos trabalhadores, e até o aumento indireto que poderia vir da correção justa da tabela do IR não foi concedida plenamente.
O dólar que vinha sendo utilizado ao longo da última década como instrumento complementar de contenção inflacionária obteve uma sinalização forte por parte do Ministro da Fazenda de que deve buscar o seu valor efetivo, num ação entendida como focando atrair para o país, pelo menos, capitais especulativos forjados em operações de “carry trade”, e, objetivamente encarecer os produtos importados permitindo que a indústria nacional bastante deteriorada recupere parte perdida do mercado interno e ganhe motivação para focar o mercado externo.
Mas pode ser que a memória do passado neutralize reação que possa se esperar por parte da indústria, de vez que perdura a dúvida sobre o quanto é sustentável o preço justo do dólar num cenário que pode revelar inflação explosiva.
Ademais, o ajuste dos preços da economia de forma tão intensa e do preço da moeda americana agregando pressão são fatores altamente inflacionários, e que garantia há de que o dólar não volte a ser monitorado para controlar a inflação.
Para corrigir então devem ocorrer novas elevações da SELIC, desestimulantes aos investimentos e que provocam retração na demanda financiada.
Esta falta de convicção inibe o investimento e a retomada da atividade da indústria e dos demais setores da economia, podendo levar o país, dado também ao cenário de queda nos preços das commodities e perspectivas de falta de agua e energia, à recessão que acaba por provocar desemprego e perda de renda.
Até onde o governo manterá o rigor das medidas num cenário gerador de desemprego e renda?
Neste ambiente o país não deve crescer, mas sim, retroceder o seu PIB em 2015 como já vem sendo propagado por inúmeras fontes, não alcançando o superávit primário propagado em razão da queda da atividade econômica, e há o risco de um grande imbróglio face aos choques conflitantes das medidas corretivas.
O Brasil tem força motriz própria para fundamentar o preço justo da moeda americana a partir da grandiosidade do seu contexto macroeconômico deteriorado, embora as autoridades tentem sempre exportar as causas para o exterior.
Este cenário em que anseios manifestados encontram fatores adversos nas próprias medidas que precisam ser tomadas, está reconduzindo o sentimento dos componentes da economia nacional a retomarem gradualmente as incertezas e já certo pessimismo.
É importante a observação doravante dos fluxos cambiais líquidos e da redução das importações a partir do contexto com o preço do dólar mais elevado, pois consideramos que a estratégia do BC no mercado de câmbio à vista e futuro, se continuar se elevando, tende a ter afetada a credibilidade, fragilizando-se de forma indesejável, a ponto de motivar movimentos especulativos sobre a moeda nacional.
Nossas projeções continuam sendo as expressadas na virada do ano. Dólar a R$ 2,80 no 1º trimestre e R$ 3,20 ao final do ano.