O mau desempenho apresentado pelas ações das empresas do setor imobiliário na bolsa nos últimos anos não surpreende. Espremidas entre custos em alta, queda na demanda e aperto na concessão de financiamentos pelos bancos, os dias vividos pelas principais empresas do setor não andam nada fáceis.
O boom ocorrido a partir de 2006 com as reformas que possibilitaram um aumento substancial no crédito imobiliário, seguido pelos IPOs de mais de uma dezena de empresas na bolsa, fez com que muitas se lançassem em planos de expansão por todo o território nacional sem o devido planejamento para tal empreitada. O aumento no volume de vendas fez as cotações das ações dispararem e uma euforia tomar conta do setor. No entanto os problemas típicos de um crescimento desordenado começaram a aparecer, com deficiências na gestão os custos das obras explodiram e no momento da entrega dos apartamentos muitos compradores não conseguiram atender as exigências dos bancos e ficaram sem financiamento, sendo forçados a devolver os imóveis. Aliado aos problemas estruturais a bolha imobiliária nos Estados Unidos passou a deixar todos por aqui com o pé atrás, se perguntando se não estaríamos seguindo o mesmo caminho.
Construir para a baixa renda mostrou-se um desafio, empresas sem o expertise necessário que se enveredaram por este caminho, empolgadas com os subsídios do Minha Casa Minha Vida, enfrentaram dificuldades sérias e o prejuízo não demorou a aparecer, forçando a maioria delas a recuarem e se voltarem para seus antigos nichos de mercado. A expansão para outras praças do território nacional também foi abortada e o foco deixou de ser o crescimento, com a busca por eficiência tornando-se prioridade.
Com a desaceleração da economia e a queda dos índices de confiança da população o setor vive hoje um ciclo difícil, seus custos continuam subindo devido às consecutivas altas nos salários dos operários acima da inflação, com sindicatos fortes e que jogam pesado, os empregados do setor conseguiram todos os anos aumentos significativos nas negociações dos acordos coletivos. A isto junta-se o fato de que os donos de terrenos no Brasil tradicionalmente são conservadores e dificilmente aceitam redução nos preços de seus imóveis nas negociações, ou seja, construir está caro, porém a baixa demanda faz os preços dos imóveis usados se manterem estáveis ou até recuarem, o que impede as empresas de repassarem o aumento dos custos para seus preços de venda de imóveis novos.
Aliado a isto está a nova postura dos bancos na concessão de financiamentos, o que tem levado a um número cada vez maior de distratos. A construtora que em geral recebe apenas 20% do valor de um apartamento durante as obras e os 80% restantes na entrega, tem sérias dificuldades para se financiar quando no momento em que receberia o grosso de suas receitas, tem de pegar o apartamento de volta para então sair atrás de um novo comprador para este.
Todas as empresas do setor apresentam clara tendência de baixa na bolsa hoje, e o momento atual tem fundamentos de sobra para suportar este cenário. Sem o País voltar a crescer vai ser difícil virar este jogo.