Ao longo de 2023 as preocupações em torno da política monetária americana dominaram muito o debate econômico acerca da economia americana. Juros altos por período prolongado motivaram as expectativas de uma grande parte dos analistas e posições de mercado de que uma recessão estava sendo gestada. Seria apenas uma questão de tempo. Mas a recessão não veio e a atividade econômica mostrou-se incrivelmente resiliente com o PIB crescendo em torno de 2,5%. Mais do que isso, a inflação cedeu consideravelmente e entramos em 2024 aguardando o início do próximo ciclo de cortes nas taxas de juros.
Mas não foi só a macroeconomia que atraiu atenções e gerou emoções no ano passado. Novas tecnologias, capitaneadas pela chamada inteligência artificial generativa (IA Gen), forneceram energia para aumentos expressivos nos preços das ações de grandes empresas do setor que levaram os principais índices para níveis recordes. O S&P500 subiu 24%, atingindo 4.769 pontos no final do ano. A Nasdaq foi além e registrou 43% de crescimento em 2023. Nesse processo o grupo das gigantes de tecnologia deixaram de ser apenas as Big Techs para se tornarem as Magnificent 7 (Mag-7)! Estamos, obviamente, falando de Alphabet (NASDAQ:GOOGL) (Google), Amazon (NASDAQ:AMZN), Apple (NASDAQ:AAPL), Microsoft (NASDAQ:MSFT), Meta (Facebook (NASDAQ:META)), Nvidia (NASDAQ:NVDA) e Tesla (NASDAQ:TSLA). E até pouco tempo a Netflix (NASDAQ:NFLX) fazia parte do grupo (alguns ainda apostam no seu retorno). Na última rodada de divulgação de resultados a Nvidia foi a estrela por ser a única no momento com capacidade de produção de hardware que dê escala para as aplicações de IA Gen.
O entusiasmo com o novo momento dessas empresas está não apenas atraindo altos volumes de investimentos em suas ações mas também é frequentemente parte importante das narrativas que defendem que um novo ciclo de aumento de produtividade está começando e que as Mag-7 representam o núcleo de um processo que se espalhará por diversos setores e empresas. Por outro lado, os mais pessimistas já começam a duvidar sobre a longevidade dessa nova onda, levantando suspeitas sobre a eventual formação de uma nova bolha. No restante deste texto, iremos argumentar por que estamos mais próximos da visão otimista sobre o que vem pela frente. Para tanto, vamos examinar alguns fatores fundamentais que caracterizam contextos de mercado e comparar o momento atual com o final da década de 1990, quando ocorreu a bolha das empresas de internet (as chamadas “ponto com”).
Custo de Capital: Nosso ponto de partida estabelece novamente a conexão com a macroeconomia, observando o custo de capital. Bolhas tendem a se formar quando o dinheiro está barato demais e investidores tendem a ficar menos cuidadosos. Como mencionado no início, estamos longe disso. Com os Fed Funds pagando na casa dos 5% ao ano, muitos pensam várias vezes antes de tomar risco. Já na crise das empresas de internet o custo de capital havia sido reduzido consideravelmente ao longo da primeira metade da década de 1990.
Destino dos investimentos: Em segundo lugar, olhamos para as empresas protagonistas em cada momento. Enquanto na década de 1990 as empresas de internet eram essencialmente startups em início de operação, hoje temos empresas estabelecidas, muito bem estruturadas, se beneficiando de enormes ganhos de escala e com décadas de operação. A consistência na entrega de resultados tem sido a marca das gigantes de tecnologia.
Veículos de investimento e múltiplos de negociação (valuation): Aqui temos um grande contraste uma vez que na década de 1990 os investimentos nas empresas de internet decorreram principalmente de veículos de venture capital que têm como missão operar nos segmentos mais arriscados e aceitam pagar altos múltiplos sobre receita em empresas que ainda não são lucrativas, mas prometem crescimento acelerado e enorme potencial. No momento atual, todas as empresas são listadas e negociadas nos principais mercados de capitais sob forte escrutínio de legiões de analistas. Além disso, os múltiplos com que as ações são negociadas têm sido bastante razoáveis. No auge da bolha de 2000 as seis maiores empresas do índice S&P negociavam a múltiplos de 64x preço/lucro (P/L) contrastando com o cenário atual onde as cinco maiores empresas do S&P negociam múltiplos de 36x P/L. Tivemos naquela época também empresas denominadas de “quatro cavaleiros” compostas por Cisco (NASDAQ:CSCO), Dell (NYSE:DELL), Intel (NASDAQ:INTC) e Microsoft . No auge da bolha, essas empresas em conjunto chegaram a apresentar múltiplos de 80x. Podemos realizar uma comparação com o mercado atual onde as denominadas Mag-7 negociam com múltiplos menores em um intervalo em torno de 30-35x.
Com base nesses três fatores acreditamos que as chances de estarmos inflando uma nova bolha de valorização de empresas de tecnologia não são grandes. Pelo menos ainda não existem elementos concretos para substanciar arroubos muito pessimistas. Sempre existem riscos, claro. Ninguém sabe como a fronteira tecnológica vai evoluir e as promessas de disrupção das aplicações utilizando IA Gen podem decepcionar. Ou, como alertado por muitos, a disseminação de ferramentas de IA Gen talvez mais atrapalhe do que ajude ao potencializar as fragilidades institucionais que estamos vivendo. Finalmente, existe a chance do cenário macroeconômico desandar, a recessão finalmente chegar e o tão aguardado pouso suave não se confirmar. Com impactos negativos na economia e nos mercados. De todo o modo, hoje existem mais elementos para acreditar que temos algo com potencial de ser transformacional e duradouro do que o contrário.
Agora, os preços das ações estão caros ou baratos? Isso é assunto para outro texto.
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