A resposta depende muito, senão totalmente, de cálculos políticos. Em outras palavras, tentar prever como será o tortuoso caminho que temos pela frente é um pouco mais fácil do que tentar pegar peixes em um barril.
O presidente da Câmara dos Deputados, Kevin McCarthy, deu algumas pistas do que está por vir. Em um discurso na Bolsa de Valores de Nova York na segunda-feira e em entrevistas mais tarde no dia, ele esclareceu, pelo menos em sua mente, o que pode esperar a partir de agora. Em suas palavras:
“Permitam-me ser claro: um aumento do teto da dívida sem condições não será aprovado".
Os democratas, no entanto, rechaçaram a ideia, sugerindo que o caminho para um acordo político em Washington é tão difícil como sempre foi. O governo Biden continua pedindo que o Congresso americano aprove a legislação que aumenta o teto da dívida, deixando os detalhes orçamentários em projetos de lei separados. McCarthy, por outro lado, esboçou um plano alternativo.
O presidente da Casa disse que os republicanos na Câmara votarão "nas próximas semanas" em uma legislação que aumentará o teto da dívida até o próximo ano, ao mesmo tempo em que congela os gastos nos níveis do ano passado e corta gastos em algumas áreas que contam com o apoio dos democratas. Se promulgado, o plano de McCarthy só adiaria o debate atual para a próxima primavera, quando a campanha presidencial estará em pleno andamento e os fatores políticos serão muito mais influentes.
De qualquer forma, é pouco provável que essa ideia passe no Senado, onde Chuck Schumer, líder da maioria democrata, respondeu:
"O mais incrível é que McCarthy novamente forneceu poucos detalhes sobre sua terrível ideia de adiar a crise por apenas um ano. Por que alguém iria querer passar por essa crise novamente?”
Em vez de tentar analisar todos os comentários de ambos os lados do espectro político para avaliar o risco futuro, creio ser mais adequado me concentrar em dois eventos que ajudam a estimar a probabilidade de que os EUA atinjam seu teto da dívida, o que pode desencadear um default em títulos do Tesouro dos EUA.
Em primeiro lugar, vamos ver se o Partido Republicano na Câmara consegue aprovar a legislação que, segundo os comentários de McCarthy ontem, elevará o teto da dívida, ainda que temporariamente. Embora isso, por si só, dificilmente será uma solução, a menos que os democratas no Senado e depois na Câmara concordem com os detalhes. Mas se o Partido Republicano puder aprovar o projeto de lei, pelo menos indicaria que é possível manejar as divisões internas do partido em torno da questão do teto da dívida.
Um sinal maior de que a bancada republicana da Câmara pode ter mais disciplina do que parece seria a apresentação de um orçamento público formal, como a Casa Branca fez recentemente. Mas isso é um desafio muito grande, dadas as divisões internas extremadas dentro da Câmara.
Especialistas dizem que, em meados do ano, o Tesouro dos EUA ficará sem dinheiro para pagar as contas do governo. Se chegarmos a esse ponto, sem aprovar um novo orçamento, os EUA poderão deixar de fazer pagamentos em títulos do Tesouro, o que por sua vez poderia desestabilizar os mercados financeiros globais e a economia.
Quanto mais tempo o partido republicano demorar em apresentar um projeto de lei que aumente temporariamente o teto da dívida ou divulgar uma proposta de orçamento, maiores serão as chances de que uma crise do teto da dívida esteja se aproximando.