*Com Matheus Cola
No contexto do mercado financeiro, dinâmico e por vezes incerto, é percebido, e justo, que o principal objetivo de quem investe é: maximizar seus retornos. Entre as diversas estratégias disponíveis no mercado, as operações conhecidas como "long & short" se destacam por sua capacidade de explorar ineficiências relativas entre ativos, reduzindo a exposição à direção geral do mercado. Essa abordagem consiste em comprar (posição long) um ativo que acreditamos estar subavaliado, ao mesmo tempo em que vendemos (posição short) outro ativo que consideramos superavaliado. Isso permite obter ganhos mesmo em cenários de baixa.
Mas como funciona esse tipo de operação?
A estratégia “long & short” pode parecer sofisticada, mas parte de uma premissa simples, que é operar comprado ou vendido em ativos. Estar "long" é adquirir um ativo com a expectativa de que ele se valorize no futuro. Já estar "short” em um investimento, significa vender um ativo que ainda não se possui, esperando que seu preço caia para recomprá-lo mais barato futuramente.
Para operar em short é preciso tomar emprestado o ativo de outro investidor, por meio de uma corretora ou distribuidora de valores mobiliários. Em seguida, esse ativo é vendido no mercado secundário. Se o preço cair, ele é recomprado por um valor mais baixo e devolvido a quem emprestou. A diferença entre os valores representa o lucro da operação. No entanto, essa é uma operação considerada arriscada pois se o preço do ativo subir, em vez de cair, o investidor terá que arcar com o prejuízo, que pode ser bastante elevado em alguns casos. Por isso, as corretoras exigem garantias (margem) para autorizar esse tipo de operação.
Para escolher os ativos que melhor atendem a essa estratégia podemos usar fundamentos econômicos, modelos quantitativos, análises setoriais ou então em comparações históricas de desempenho entre ativos correlacionados. Isso depende do analista, do investidor e do que está sendo buscado no mercado naquele momento.
A essência da estratégia long & short está em lucrar com a diferença de desempenho entre dois ativos. Assim, não precisamos prever se o mercado vai subir ou cair, mas sim identificar dois ativos com relação histórica e considerar que essa relação será mantida ou restaurada.
Por exemplo, se acredito que a ação de uma empresa do setor bancário está subavaliada em relação à de outra do mesmo setor, posso comprar a primeira (posição long) e vender a segunda (posição short). Se estiver certo e a ação comprada tiver desempenho superior, mesmo que ambas desvalorizem, a operação pode gerar lucro.
Esse tipo de estratégia busca a chamada neutralidade direcional, ou seja, reduzir a influência do mercado como um todo no resultado da operação. Mas ela exige atenção, a escolha dos ativos deve ser cuidadosa e a gestão de risco precisa ser constante, visto que a diferença esperada entre os preços pode não se confirmar.
Além de investidores mais arrojados, os fundos multimercado e fundos quantitativos são grandes adeptos dessa estratégia. Eles a utilizam para tentar entregar retornos consistentes e independentes da direção do mercado, utilizando análise estatística e ferramentas tecnológicas para selecionar pares de ativos com alto potencial de convergência.
Um exemplo prático do uso dessa estratégia pode ser encontrado em fundos fictícios, que aqui chamaremos de Lobo Long short FIC FIM, que combinam diferentes metodologias analíticas, por exemplo, fundamentos econômicos, modelos estatísticos e análise técnica para identificar distorções entre ativos correlacionados. Esses fundos visam capturar ganhos relativos, independentemente da direção do mercado, aplicando o conceito de long & short em pares de ações, índices ou até mesmo em operações envolvendo moedas e juros. Outro exemplo poderia ser o Quantia Delta FIC FIM, que adota uma forte base quantitativa e automatizada, permitindo maior agilidade na identificação e execução dessas oportunidades. A utilização da estratégia em fundos dessa natureza mostra como ela pode ser adaptada a diferentes estilos de gestão, desde os mais discricionários até os puramente sistemáticos, reforçando sua versatilidade e potencial de geração de alfa.
Howard Marks, CEO e fundador da gestora americana Oaktree Capital Management, descreve em seu livro The Most Important Thing o conceito do "pêndulo do investidor". Segundo Marks, o comportamento do mercado oscila como um pêndulo, variando, nesse caso, entre otimismo e medo, influenciando diretamente o preço dos ativos. Em períodos de euforia, investidores tendem a supervalorizar determinados ativos, enquanto outros são negligenciados em períodos de pessimismo. Essa dinâmica emocional cria distorções temporárias de preço, que, no curto prazo, podem ser aproveitadas com a estratégia long & short.
Ao identificar pares de ativos que costumam andar juntos, mas que se distanciaram por razões comportamentais, é possível se posicionar com a expectativa de que a relação volte à média. A estratégia se apoia justamente na ideia de que os exageros do mercado tendem a se corrigir com o tempo. Saber reconhecer essas oportunidades permite ao investidor buscar retornos consistentes com menor exposição ao risco de mercado.
Resumindo, a estratégia long & short é uma ferramenta poderosa para quem deseja explorar as relações relativas entre ativos e reduzir a dependência do comportamento do mercado como um todo, contudo é uma estratégia arrojada.
Apesar de exigir conhecimento técnico, gestão de risco e disciplina, o uso consciente dessa abordagem pode oferecer vantagens competitivas importantes. Seja para profissionais, seja para quem está começando a explorar o mundo dos investimentos, entender e aplicar o conceito de long & short amplia a visão e as possibilidades dentro do mercado financeiro, mas sempre lembrando que toda estratégia de investimentos possui riscos que não devem ser ignorados.
*Acadêmico de Ciências econômicas do Ibmec Rio e ex-membro da liga de mercado financeiro do Ibmec Rio (Cemec)