Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com
- Primeiro ETF baseado em contratos futuros
- SEC monitora e regula mercado futuro
- Custódia e segurança continuam sendo problemas
- Square está trabalhando sobre a questão e minerará criptos
- Performance nos primeiros dias
Um novo marco para as criptomoedas ocorreu na terça-feira, 19 de outubro, quando começaram a ser negociadas na NYSE as cotas do fundo ProShares Bitcoin Strategy (NYSE:BITO). A cotação inicial do BITO foi de US$40,89, com o contrato futuro de bitcoin a US$61.905 na abertura. O ETF permite que os participantes do mercado tenham exposição à criptomoeda líder, sem se aventurar diretamente no mercado futuro, abrir uma carteira digital no espaço cibernético ou confiar em algum custodiante.
O BITO não é um investimento direto no bitcoin, já que rastreia um derivativo, o contrato futuro do bitcoin negociado na Bolsa Mercantil de Chicago. Não há qualquer garantia de que o mercado futuro ou o BITO terão plena correlação com os preços do bitcoin. No entanto, a listagem é o primeiro produto de ETF que chega perto disso.
Outro ETF que também rastreia o bitcoin futuro da CME, o Valkyrie Bitcoin Strategy (NASDAQ:BTF), começou a ser negociado na Nasdaq no fim da mesma semana. No entanto, vamos falar principalmente sobre o BITO neste artigo.
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Os devotos da criptomoeda têm criticado a iniciativa, já que preferem um produto lastreado diretamente em bitcoin, tal como o SPDR® Gold Shares (NYSE:GLD), que detém ouro físico. No entanto, o BITO representa mais um passo para que as criptomoedas ganhem popularidade no mundo dos investimentos.
Em 2017, quando a CME lançou seu primeiro contrato futuro de cripto, o bitcoin atingiu sua máxima recorde. Em 14 de abril, a listagem da Coinbase Global (NASDAQ:COIN) fez com que o preço alcançasse outro pico. O lançamento do primeiro ETF da cripto baseado em contratos futuros, na semana passada, fez o mesmo.
Primeiro ETF baseado em contratos futuros
O resumo do ProShares Bitcoin Strategy diz o seguinte:
"O fundo ProShares Bitcoin Strategy é o primeiro ETF vinculado ao bitcoin nos EUA a oferecer aos investidores a oportunidade de ter exposição aos retornos do bitcoin de forma conveniente, líquida e transparente. O fundo procura gerar valorização de capital principalmente através de uma exposição gerenciada a contratos futuros de bitcoin."
O ETF teve um início impressionante, com US$1,224 bilhão em ativos sob gestão. O BITO cobra uma taxa de administração de 0,95%.
SEC monitora e regula mercado futuro
O Comitê de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês) aprovou a negociação do bitcoin futuro em 2017. Os contratos começaram a ser negociados em dezembro do mesmo ano. Em 2021, a CFTC permitiu que a Bolsa Mercantil de Chicago listasse o ethereum futuro, que começou a ser negociado no último mês de fevereiro.
A supervisão da CFTC permite que os órgãos reguladores monitorem toda a atividade.
Enquanto isso, a SEC, comissão de valores mobiliários dos EUA, vinha revisando as solicitações de abertura de ETFs de bitcoin e ethereum nos últimos anos. Gary Gensler, atual presidente da SEC, foi ex-diretor da CFTC. A SEC decidiu que a melhor rota para supervisionar era aprovar ETFs baseados em contratos futuros, que já estavam no seu âmbito regulatório.
As solicitações de registro de ETFs que desejam investir diretamente no bitcoin e outras criptomoedas representam outro desafio regulatório para a SEC.
Custódia e segurança continuam sendo problemas
Dois problemas principais das criptomoedas são a custódia e a segurança. Ataques de hackers e outros perigos rondando as criptomoedas no ciberespaço são desafios inéditos para os órgãos reguladores.
A opção por um produto baseado em contratos futuros mata dois coelhos com uma cajadada só. O ETF satisfaz a demanda do mercado por um produto que replique a ação dos preços da maior criptomoeda em circulação. Ao mesmo tempo, o BITO permite que os órgãos reguladores adotem uma dupla abordagem para gerenciar possíveis manipulações e outras áreas de preocupação.
A SEC ganhou tempo com a aprovação do BITO. Henry Clay foi senador nos EUA nos anos 1800, conhecido como o “Grande Pacificador”. Ele disse certa vez que um bom acordo ocorre quando ambos os lados de uma disputa saem da mesa de negociação insatisfeitos. Eu considero o BITO como um grande pacificador.
O devotos das criptomoedas prefeririam ver um ETF como o bem-sucedido SPDR Gold Trust, que detém o ouro físico. Os opositores que acreditam que as criptomoedas carecem de valor intrínseco não perderam tempo analisando essa nova oferta do mercado.
Além disso, governos que favorecem o status quo provavelmente estão preocupados com o crescimento dessa emergente classe de ativos, que ameaça seu controle sobre a oferta monetária. Seu maior desejo é que as criptos continuem em segundo plano.
Square está trabalhando sobre a questão e minerará criptos
A Square (NYSE:SQ) (SA:S2QU34) é uma empresa de pagamentos. Seu fundador e CEO, Jack Dorsey, disse que a companhia está construindo um sistema de mineração de bitcoin que ofereceria um novo software para auxiliar a atividade da cripto líder entre os usuários. No dia 15 de outubro, Jack, que também é fundador e CEO do Twitter, disse o seguinte:
“A Square está avaliando construir um sistema de mineração de bitcoin baseado em silício personalizado e código aberto para pessoas físicas e jurídicas de todo o mundo. Se fizermos isso, seguiremos nosso modelo de carteira de hardware: construir de maneira aberta, em colaboração com a comunidade. Primeiro, alguns pensamentos e dúvidas.”
Dorsey é um grande defensor das criptomoedas, que ele chama de "dinheiro da internet". Uma solução robusta de custódia e segurança contribuiria demais para promover o avanço da classe de ativos e aumentar seu mercado potencial de empresas, indivíduos e até mesmo governos que desejam usar as criptos e moedas digitais.
As criptomoedas são um meio global de troca que podem “unir o mundo”, na visão de Dorsey. Na semana passada, ele alertou que a hiperinflação era um problema claro e presente, ao dizer que “a hiperinflação irá mudar tudo. Ela está acontecendo”.
A oferta restrita de bitcoin faz com que ele seja uma eficiente proteção contra a inflação, desde que ganhe aceitação generalizada, o que parece ser a aposta e motivação de Dorsey.
Se conseguir solucionar o problema da custódia e segurança, a Square pode preparar o palco para um robusto ETF de bitcoin físico, juntamente com produtos para outras criptos e cestas de criptomoedas. Os ETFs oferecem alternativas de investimento para que as pessoas possam usar suas contas normais em corretoras, ampliando seu público.
Dorsey é um globalista, um visionário e um grande líder na tecnologia. Independente de as pessoas aceitarem ou não sua visão global, ele está causando agitação. Os governos provavelmente não são seus maiores amigos, já que seu trabalho vai de encontro com o controle orçamentário governamental no mundo. Dinheiro e poder andam juntos. Devolver o poder da oferta de dinheiro a um conjunto de pessoas através das criptomoedas representa uma ameaça ao status quo. Os governos não vão abrir mão do seu poder sem antes lutar por ele.
Performance nos primeiros dias
O desempenho inicial do BITO é um sinal de que o mercado está sedento por produtos de criptomoedas. A ascensão do bitcoin cria um frenesi especulativo, já que todos querem participar de um bull market. Poucos ativos na história conseguiram disparar como o bitcoin.
O lado ideológico da moeda talvez seja o mais significativo. A ascensão do criptomercado é uma rejeição às moedas fiduciárias respaldadas na fé pública e no crédito dos países que a emitem. Se Dorsey estiver certo, a hiperinflação corroerá rapidamente o valor das moedas fiduciárias.
O bitcoin futuro abriu a US$61.905 em 19 de outubro. Atingiu a máxima de US$67;680, em 20 de outubro, caiu até a mínima de US$60,210, no dia 22, e estava cotado a US$62.000 no dia 26 do mesmo mês. O bitcoin futuro subiu 9,33% desde a abertura do dia 19 de dezembro até a máxima de 20 de outubro. Ele caiu 11,04% desde a máxima até a mínima de 22 de outubro e se recuperou 2,97%, para US$62.000. No momento da publicação, em 28 de outubro, ele estava cotado a US$60.1875.
Fonte: Barchart
O gráfico mostra que o BITO abriu a US$40,88 em 19 de outubro, subiu até a máxima de US$43,95 em 20 de outubro e tocou a mínima de US$38,90 em 22 de outubro. O ETF disparou 7,51% e caiu 11,5%. Ao nível de US$40,06 em 26 de outubro, ele se recuperou 2,98% desde a mínima nos últimos dias. Mas fechou cotado a US$38,09 no pregão de ontem.
Como mostra o gráfico, o volume foi impressionante durante os dois primeiros dias do pregão. O volume vem caindo desde o pico de cerca de 20 milhões de cotas em 20 de outubro, dia em que o bitcoin tocou a máxima histórica.
O BITO seguiu o bitcoin futuro na alta e na baixa, mas houve certo desvio de performance. O bitcoin futuro e o BITO não são o bitcoin, são derivativos da criptomoeda líder.
O bitcoin é negociado de forma ininterrupta, ao passo que o mercado futuro e o ETF são negociados apenas durante o horário de pregão.
Nos primeiros dias, o volume foi robusto, mas vem caindo desde então.
Embora o BITO seja um passo na direção correta, um ETF diretamente lastreado no bitcoin seria o próximo passo para a evolução da classe de ativos. Dorsey tem uma mente revolucionária e está trabalhando na custódia e na segurança dos criptoativos, o que pode permitir que os órgãos reguladores deem um passo nesse sentido. Mas nenhum produto irá solucionar a divisão ideológica referente à oferta monetária.
A batalha entre a tecnologia financeira global e o status quo governamental e das instituições financeiras tradicionais só está começando.