Eu Te Dou a Minha Palavra

Publicado 03.08.2018, 12:31
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Palavras não pagam dívidas.

Se Shakespeare está certo, como faço para pagar-lhe a promessa feita ontem de que hoje escreveria um pouco sobre legado? Só me restam as palavras para equacionar a dívida. Apenas elas possuo para defender-me de minhas próprias acusações.

Chorar sobre as desgraças passadas é a maneira mais segura de atrair outras. Precisamos avançar, cientes de que, de todas as paixões baixas, o medo é a mais amaldiçoada, como resumiu a personagem de Henrique VI.

Riobaldo, de “Grande Sertão: Veredas”, é a versão brasileira, Herbert Richards, da proposta: o que esta vida quer da gente é coragem.

Sempre classifiquei as palavras como as armas mais poderosas. Enquanto as facas ferem os corpos, os vocábulos rasgam as almas. E o espírito ninguém nunca vai conseguir quebrar – esse dura para sempre.

Talvez por isso tenha batizado nossa série mais popular de Palavra do Estrategista. Palavra de homem, no sentido de hombridade e não de gênero, precisa valer, e sempre.

Antes de cumprir o prometido e explicar com precisão o que quis dizer ao me referir a um legado, sinto a obrigação de atualizá-lo sobre algumas teses explicitadas no Palavra do Estrategista – se você ainda não assina essa publicação e mantém algum apreço por esta newsletter gratuita diária, eu recomendo fortemente que o faça. Sim, isso me ajudaria financeiramente, mas o valor é quase simbólico. E eu te dou a minha palavra de que vai valer muito mais para você. Por favor, me cobre por isso.

Há algum tempo, minha principal tese macro/sistêmica é de que estamos num grande ciclo de alta para os ativos de risco brasileiros. Iniciada em janeiro de 2016, a tendência ascendente duraria por vários anos, levando a multiplicações do capital semelhantes a apenas outros quatro ou cinco momentos da história do mercado de capitais local. Claro, teríamos grandes correções no meio do caminho, capazes de assustar qualquer um — é da natureza mesmo dos bull markets mais intensos e longevos enfrentar percalços amedrontadores. Ao final, porém, observaríamos valorizações que parecem impossíveis a priori, mas se tornam óbvias em retrospectiva.

Um dos pilares fundamentais dessa tese era de que o pêndulo do espectro político migraria da esquerda estatizante, tal como observado nos governos petistas — exceção feita ao liberal início do Lula 1 — para a direita reformista e com gestão ortodoxa na economia.

Diante das dificuldades de crescimento nas pesquisas de intenção de voto de um candidato reformista claro, esse pilar vinha sendo muito questionado nos últimos meses. Mantive-me fiel à tese, sem tergiversar. Mais uma vez, entendia que confundíamos ausência de evidência com evidência de ausência. Não é porque um candidato liberal clássico não estava crescendo que ele não poderia crescer à frente.

É disso que quero falar hoje, sobre o quanto o mercado ainda parece subestimar o espaço de evolução de um candidato de centro, cuja eleição agradaria muito a Faria Lima e o Leblon.

Deixo claro, de imediato, que meu voto é de João Amoêdo, de tal sorte que os comentários abaixo não refletem qualquer inclinação pessoal. Posso estar certo ou errado, mas não há aqui qualquer intenção de promover “meu candidato”. Sei da minha insignificância, mas também da responsabilidade ao escrever isso aqui. Para desespero da turma, os números mostram que o Grupo Acta, do qual a Empiricus faz parte, é hoje uma das maiores empresas de comunicação do país.

Esclarecimento feito, preciso falar de Geraldo Alckmin. Embora seja inquestionável sua posição desconfortável nas pesquisas de intenção de voto, sua atuação política nas últimas semanas tem sido simplesmente impecável. Conseguiu muito tempo de TV e toda a máquina para rodar a seu favor a partir do acordo com o Centrão; foi o único a crescer nas pesquisas XP/Ipespe e DataPoder360; teve um bom desempenho ontem em sabatina na GloboNews mesmo sendo bastante atacado pelos jornalistas; e acaba de marcar um golaço com a confirmação da senadora Ana Amélia como vice de sua chapa.

Com esse passo, a chapa do tucano se firma um pouco mais como uma posição de antagonismo claro com o PT, dividindo com Bolsonaro a figura do “anti-Lula”— Ana Amélia vinha sendo bastante combativa à figura do ex-presidente.

Além disso, Alckmin se aproxima ainda mais do setor rural (a senadora compõe a bancada ruralista), de setores conservadores da sociedade, podendo fazer com que parte da direita encontre uma alternativa a Bolsonaro, e de movimentos importantes nas redes sociais (Ana Amélia tem a simpatia do MBL).

Por fim, numa linda cesta de trás da linha dos três pontos, apontaria: i) presença marcante no Sul, onde Alvaro Dias está/estava bem forte; ii) possibilidade de angariar bom espaço do voto feminino, com parcela relevante dele ainda muito indeciso; e iii) associação a uma imagem forte anticorrupção.

Obviamente, falta ainda um pequeno detalhe: os votos. Como todo mundo sabe, Alckmin precisa crescer nas pesquisas de intenção. No entanto, a campanha ainda sequer começou e todos os acertos recentes visam justamente o crescimento das intenções de voto neste segundo momento – esta é a eleição dos 45 do segundo tempo. O que me parece é que as condições estão finalmente postas para Alckmin ir ao segundo turno. Daí para a frente, é um jogo totalmente novo, em que ele enfrentará um candidato mais extremista. Sendo a opção de centro, teria mais chance de abocanhar os votos de indecisos e mesmo dos outros candidatos que ficarem pelo caminho.

Assim, a tese estrutural em favor do bull market secular ganha um reforço importante.

Com Alckmin eleito, o câmbio volta para algo em torno de 3,40 reais. Se for Bolsonaro, alguma coisa em torno de 3,65. Sem Ciro, Haddad ou Jacques Wagner, não haveria razão para juro subir acima de 9 por cento, de tal modo que dá para encarteirar bastante NTN-B. Bolsa merece uma boa alocação, com espaço para cíclicas domésticas serem uma porrada giga neste segundo semestre.

Essa é minha principal tese macro, que venho repetindo várias e várias vezes no Palavra do Estrategista. Agora, tem outras duas coisas micro que merecem uma atualização.

No relatório de ontem, falei sobre IRB (SA:IRBR3) e sobre a expectativa de um resultado avassalador. Bingo! Balanço saiu na noite da véspera e foi um brilho. Números muito fortes, valuation ainda ok e dividendo gordo. Pegamos na veia o tiro de curto prazo. Zero mérito meu. Max Bohm vinha me alertando há tempos sobre o case e foi mosco nesta, num nome para o qual o smart money local ainda torce o nariz, por conta do “velho IRB”.

E, por fim, lembro do alerta feito há poucos dias sobre Gafisa (SA:GFSA3) e GWI. A gestora acaba de convocar assembleia para destituir todos os membros do conselho atual. É uma bagunça que só. Em todas as situações em que você se vir questionando se “desta vez é diferente”, considere uma chance de 99 por cento de que não é. O mundo sempre foi essa coisa meia boca mesmo e continuará sendo.

Poderia falar ainda sobre Petrobras (SA:PETR4) e a estrutura de opções recomendada no Palavra do Estrategista, após os resultados recém-publicados pela estatal, que simplesmente estouraram a boca do balão. Mas isso é assunto para depois. Tem muita coisa para acontecer aqui ainda – e muito dinheiro pra ganhar.

Finalmente, sobre o legado, cumprindo o prometido…

Desde que o papai morreu, convivo com uma espécie de buraco. Ele já foi maior no passado. Aos poucos, venho o preenchendo, a base de esporte, terapia e Seroquel, além da melhor parte, claro: doses cavalares de João Pedro, meu filho.

O sucesso é apenas parcial. Entre as várias perdas derivadas da sua ausência física, está aquela da referência moral. Não que eu mesmo não disponha da própria reserva ética, psíquica e emocional. Mas o olhar de dentro, sem o benefício da perspectiva externa, é sempre viciado, tomado por vieses cognitivos e preconceitos imperceptíveis que impedem a autoavaliação imparcial. Por mais que me esforce, não consigo ser isento nem justo comigo mesmo.

Logo na sequência do falecimento do meu pai, passei a recorrer à tia Glória, mãe do Gustavo e do Ricão, dois dos meus melhores amigos, como essa espécie de guia intelectual e ética. A lanterna que passaria a me guiar pela escuridão da solidão e do sentimento de abandono. Numa de nossas conversas, ela me cobrou enfaticamente: “Miranda, meu filho, agora você precisa começar a pensar no seu legado. Como já tem muito para si, o que vai deixar para os outros?”.

Desde então, vivo obcecado por essa ideia. Hoje, também a tia Glória se foi, sem que eu pudesse mostrar-lhe os planos desenhados para esse tal legado, infelizmente. E dela sinto falta, quase do mesmo tanto que sinto do papai.

Não vou mudar o mundo, nem o Brasil, nem mesmo o bairro do Alto de Pinheiros. Mas num país em que as pessoas investem tão mal seu dinheiro e são tão roubadas pela indústria financeira, se eu puder transmitir tudo – não menos do que tudo – que aprendi em 20 anos comprando e vendendo ações e outros tipos de aplicação, talvez eu possa curar a mim mesmo.

Empurrados pelo maior ânimo em torno da campanha de Geraldo Alckmin, percebido como a alternativa reformista competitiva, e pelos resultados muito fortes de Petrobras, mercados brasileiros iniciam a sexta-feira de forma positiva.

Há ainda alguma dose de cautela com exterior, principalmente diante da ansiedade com relatório de emprego nos EUA agora pela manhã. Agenda norte-americana traz ainda trade balance, PMI Markit e ISM Serviços.

Na China, setor de serviços recuou de 53,9 pontos para 52,8 em julho, ainda acima da previsão. Depois de caminhar para oitava queda semanal, maior sequência em 10 anos, yuan encontrou recuperação, diante da elevação do compulsório para futuros de moedas a 20 por cento.

Ibovespa Futuro abre em alta de 0,8 por cento, dólar cai contra o real e juros futuros recuam.

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