Uma vez mais os fundos não-indexados aumentaram a já inacreditavelmente enorme posição vendida a descoberto que possuem no contrato de açúcar em NY, estabelecendo um novo recorde de quase 219,000 lotes, adicionando mais 30,000 lotes na semana considerada pelo CFTC de terça a terça.
Curiosamente, em outra soft commodity – o café -, os fundos reduziram a posição vendida fazendo com que as cotações do café no mercado futuro de NY subissem quase 6%. Naquela commodity a redução foi de apenas 1,500 cerca de 3% de sua posição short total, enquanto que no açúcar eles aumentaram a posição em 16%, como o valor nocional do café é quase 4 vezes mais do que o açúcar, ouso elaborar que está havendo uma migração por parte dos fundos, liquidando a posição vendida em café (recomprando) e aumentando a posição vendida em açúcar (adicionando mais venda). Diga-se que nada disso é validado pelos fundamentos de ambas as commodities. Trata-se apenas de uma operação de troca de riscos por parte dos fundos.
Vejam o que aconteceu em Londres, uma alta nos preços do açúcar branco desassociada do mercado físico e comandada pelos fundos. Uma entrega cujo recebedor é uma trading que tem refinarias na Ásia recebendo açúcar refinado. Sinal amarelo piscando.
Muitos sinais estão sendo dados pelo mercado que, na nossa opinião, coloca mais gasolina na fogueira. Um número considerável de washouts ocorreram recentemente. Segundo um trader atuante no mercado, as operações de washout estimularam algumas tradings a manterem long que possuíam em futuros (que seriam absorvidos pela fixação das usinas, se o washout não tivessem ocorrido). De acordo com ele, algumas tradings estão menos preocupadas em ficar long nos níveis em que os washouts foram feitos. Apostam numa recuperação do mercado.
Então vejamos: tradings longs com pequeno e gerenciável risco de baixa, menos pressão por parte de usinas para vender futuros dada a redução de disponibilidade de açúcar no Centro-Sul, rolagem dos contratos cuja fixação original era para outubro ou anterior a esse vencimento para o março, perspectiva de estoque de passagem reduzido de etanol, este ainda negociando a saudável prêmio sobre o açúcar. A enorme posição vendida dos fundos não-indexados é vulnerável, em especial porque a pergunta que os tradings se fazem é sobre quem vai dar liquidez para os fundos se estes resolverem sair de suas posições ?
O que aconteceu em Londres pode se repetir em NY com muito mais força e intensidade. Acreditamos que a entrega de outubro em NY – cuja expiração acontece em duas semanas – vai seguir passos semelhantes aos de Londres. Claro que podemos queimar a nossa língua (e não terá sido a primeira vez), mas a possiblidade de termos o mesmo recebedor (trading ligada a produtor) pode fazer com a luz amarela se torne laranja.
Não há um trader nesse mercado que não esteja vislumbrando uma recuperação de preços antes do final do ano. Até aqueles que estavam bem negativos agora viraram neutro e aproveitaram para se posicionar com algumas calls (opções de compra) ora do dinheiro bem baratas já que a volatilidade tem sido benevolente com os compradores.
São tempos difíceis para a tomada de decisão. Aspectos que não existiam há quinze ou vinte anos hoje afetam sobremaneira o comportamento errático do mercado. De um lado traders, CEOs, CFOs, gestores de varias filosofias e matizes e do outro físicos e seus modelos matemáticos que alimentam algoritmos e robôs. Uma luta difícil, sem dúvida. No entanto, raríssimas vezes vimos no mercado de commodities os fundamentos não prevalecerem. Não acreditamos que esta será a vez.
O gatilho para que os fundos liquidem a posição vendida no açúcar, recomprando-a, pode vir de algumas maneiras: um choque na disponibilidade de açúcar no mundo, seja por uma redução extraordinária na disponibilidade do produto para o mercado livre, seja pela percepção de modesta recuperação/expansão do Centro-Sul para o próximo ano, ou uma subida repentina nos preços da energia no mercado mundial. Claro que nunca se sabe onde o próximo cisne negro vai aterrissar.