Inegavelmente está ocorrendo uma mudança de humor em relação ao modo de se avaliar as perspectivas para a economia brasileira, muito embora seja notório que o desafio de reversão do estado de ampla deterioração em que foi entregue pelo governo Dilma I para o governo Dilma II, é homérico.
Mas desde o início do novo mandato temos chamado a atenção sobre as péssimas perspectivas para o nosso setor externo, que inexplicavelmente parecia fora do foco das preocupações imediatas da nova equipe econômica, quando na realidade poderia se transformar num relevante empecilho aos planos do governo.
O dólar parecia “largado” e pouco considerado como fator de impulso à inflação.
Porém, ante sinais mais consistentes de oposição política aos propósitos reformadores defendidos pela nova equipe econômica, inclusive acentuadamente da própria base de apoio político do governo, tudo indica que o dólar e o seu preço passaram a ser foco de uma nova estratégia e assim o Ministro Levy de forma sorrateira se manifestou afirmando que o governo não desejava mais o preço da moeda americana artificializado.
Tiro certeiro e o preço do dólar então entrou em franca valorização eliminando a sobrevalorização existente na moeda nacional.
O BC optou pelo silêncio, foco de criticas inclusive nossas, e não dispondo de um farto arsenal de defesa para a moeda nacional, visto já ter ancorado a credibilidade faltante ao real com a colocação para hedge de montante em torno de US$ 115,0 Bi de contratos de swaps cambiais e valendo-se das posições vendidas dos bancos autorizados a operar em câmbio em torno de US$ 20,0 a 25,0 Bi para suprir a liquidez faltante, praticamente assistiu à apreciação do preço do dólar. Mas ao descumprir o seu programa de oferta de swaps em março ao realizar rolagem menor do que a vincenda na virada do mês suscitou a possibilidade de interrupção do programa a partir de abril e este foi um fator prontamente precificado no dólar elevando seu preço.
A taxa fortemente corrigida da moeda americana com comportamento extremamente volátil, havendo mesmo sinais de especulação, não consegue promover o incremento dos negócios e nem promover estímulos aos setores produtivos dependentes.
Todos os sinais do mercado eram para a continuada elevação do preço, absolutamente afastada de qualquer fundamento crível, mas repercutindo a situação de um país sem atratividade para investidores externos, inclusive os com capitais especulativos devido a volatilidade, déficit já expressivo na balança comercial, déficit nas transações em contas correntes, risco cambial elevado, risco de perda do grau de investimento, preocupações com eventual mudança da política monetária americana, etc..
Aos poucos transparecia que a nova equipe econômica havia optado pelo dólar com preço justo como forma de incentivar a retomada da atividade econômica de forma horizontal e direta, sem precisar utilizar práticas antecedente que artificializavam o preço do dólar e concediam benefícios a grupos específicos e cujo resultado foi dispendioso e praticamente nulo para a atividade econômica.
O dólar com preço justo pode devolver à indústria nacional o quinhão que perdeu para os produtos importados beneficiados pela cotação deformada para conter pressões inflacionárias consequentes dos gastos excessivos do governo na fase antecedente. Pode também estimular a exportação do produto industrializado que registra volumes cadentes há 3 anos e perdeu 4 dos 5 maiores mercados para nossas exportações. Naturalmente, os empresários precisarão investir e haverá um trabalho de reconquista dos mercados.
Pode equalizar a remuneração aos produtores de commodities que estão com preços cadentes no exterior.
E, pode atrair investidores especulativos com bom volume de recursos e ainda investimentos direcionados a financiar a reconstrução da infraestrutura brasileira bastante sucateada, quando não existente em setores estratégicos.
Mas, para dar impulso nesta estratégia o governo precisava de credibilidade e o empresariado se mantinha descrente.
A manifestação da agência de rating Standard&Poor´s sancionando a manutenção das notas da divida brasileira de longo prazo tanto em moeda estrangeira quanto nacional e expressando o conceito estável, retirando do radar os medos e receios de eventual perda do grau de investimento no curto prazo, foi extremamente positiva para o país. Um expressivo voto de confiança.
Na sequência o BC resolveu a partir de abril a retomar as rédeas da condução do mercado de câmbio, trazendo para si e não para programas assumidos pela necessidade de angariar credibilidade a nossa moeda.
O BC vai manter a rolagem até o montante de contratos de swaps vincendo a cada vez, ou seja, se não houver demanda plena rolará em conformidade com a demanda existente. Por outro lado, se houver necessidade de oferta adicional a partir da sua percepção a fará.
A rigor, a colocação do fato como término do programa de intervenção é um pouco retórica, o que acontece é que o programa está mantido em sua estrutura que permanecerá com o estoque atual posto no mercado e foi definido um novo “modus operandi” que pode conduzi-lo à contração ou a expansão, mas agora com o BC mais forte no comando e sem comprometimentos absolutos prévios.
Com esta gestão mais presencial do BC e não somente dando curso a um programa com definições claras por um período futuro, o que a autoridade buscará é a contenção da excessiva volatilidade.
Mas, em tese os dois eventos contam a favor do Brasil, mas ainda há um longo percurso para as conquistas almejadas para aliviar as perspectivas ruins para o setor externo.
No momento, ambos os eventos deverão contribuir para que o preço da moeda americana fique mais estável e com baixa volatilidade, mas este quadro para ser mantido dependerá do sucesso dos resultados que o país obtiver nos seus objetivos via dólar.
Acreditamos que de momento o preço da moeda americana flutue entre R$ 3,10 a R$ 3,20 enquanto busca seu ponto de melhor equilíbrio, com redução significativa para movimentos especulativos que ocorreram até recentemente.
Como o final do mês está próximo é natural que ocorra a disputa entre comprados e vendidos e provoque distorções na formação do preço, mas afora isto acreditamos que a tendência será a flutuação entre aqueles extremos.