Tivemos mais uma semana agitada.
As investigações da Operação Lava-Jato avançaram ainda mais, agora mais próximas do ex-presidente Lula e da presidente Dilma. A prisão de João Santana, marqueteiro das últimas campanhas do PT, teve “efeito detonador”, por escancarar o recebimento de recursos escusos para as campanhas de Dilma e Lula, mas “explodiu como uma bomba” a delação premiada de Delcídio Amaral, entregando todos os principais quadros do PT. Em seguida, tivemos o ex-presidente Lula sendo “convocado” para prestar depoimento.
Aumentam as apostas de mudança de governo e novas eleições. Sobre esta hipótese, ganha força a tese no TSE sobre o uso de recursos do Petrolão na campanha de 2014, assim como as várias tentativas em barrar as investigações no transcurso da Lava-Jato. Na opinião da Consultoria Arko Advice, especialista em estudos políticos, esta possibilidade de afastamento ganha força, com 50% de chances e em viés de alta. Para ela, “independente dos últimos acontecimentos, da delação do Delcídio Amaral, da possibilidade de delação da Odebrecht, do episódio do depoimento do Lula, aumentam as chances de aprovação do pedido de impeachment”. Fecha-se o cerco contra o governo.
No campo econômico o clima é de “terra arrasada”. Os indicadores, os mais diversos, batem recordes negativos seguidos e a confiança continua em baixa. Como então colocar o Brasil no seu “curso normal”? Pensar na retomada do crescimento, do consumo e dos investimentos?
Difícil responder a esta indagação, enquanto o impasse político atual ainda estiver no radar. Superado, desde que com a saída da presidente, acreditamos num choque favorável de expectativas, a exemplo do acontecido na Argentina, com Maurício Macri. Medidas efetivas, no entanto, precisarão ser adotadas, como avançar o ajuste fiscal e as reformas estruturais, com destaque para da Previdência. Além disto, quem assumir (ainda não se sabe como seria uma transição pós-Dilma, talvez com um governo-ponte, incluindo o PMDB, PSDB e outras forças) terá que adotar uma série de medidas, que sejam um choque favorável de expectativas para os mercados. Entraremos, aos poucos, nos eixos, não voltando a crescer rapidamente, mas sinalizando mudanças que sejam do agrado, gerando retorno da confiança aos vários agentes.
Este ajuste fiscal, no entanto, não será realizado enquanto a crise política não for equacionada. Enquanto isso, a dívida pública estará em trajetória explosiva, o que aumenta o tamanho do superávit primário requerido para a estabilização da dívida. Estudos das agências de rating indicam que a estabilidade da dívida bruta, antes possível com superávit de 2,5% do PIB, precisará agora chegar a 7,8%, algo totalmente fora de cogitação, dado o isolamento do governo e a falta de apoio político no Congresso.
Para o economista José Oreiro, da UNB, “a restrição orçamentária inter-temporal do governo mostra que o tamanho do superávit primário requerido para estabilizar a dívida pública é crescente na relação dívida pública/PIB. Isso significa que quanto mais o Brasil demorar para fazer um ajuste que aumente o superávit primário até o montante requerido para a estabilização da dívida pública maior será o tamanho do ajuste fiscal necessário. Sendo assim, das duas uma. Ou fazemos o ajuste fiscal imediatamente ou usamos algum dispositivo temporário que nos permita comprar tempo até o sistema político ser capaz de realizar o ajuste fiscal.”
Sobre o PIB. Saiu o PIB de 2015 e o que se viu não foi nada bom. Mergulhamos 3,8% no ano passado, só não sendo pior do que o caos instalado em 1990/91, no sequestro da poupança no governo Collor, quando mergulhamos 4,3%.
Analisando com mais acuidade os dados do IBGE, observamos como o tombo foi feio.
Pelo lado da demanda, o maior recuo veio do consumo das famílias e dos investimentos, o primeiro recuando 4,0%, tendo grande peso neste recuo do PIB geral por representar 60% do PIB, e os investimentos 14,1%, indo a 18,2% do PIB, sinalizando um forte impacto no horizonte das empresas, diante de uma crise política que parece não ter fim e da falta de rumos do governo sem um programa consistente de reformas.
Contribuiu também o recuo nos aportes do governo, diante da Operação Lava-Jato, impactando nos projetos de infra-estrutura, como no PAC, minguando seus recursos nas últimas revisões orçamentárias, sem esquecer da crise da Petrobras (SA:PETR4), principal “catalisadora” de investimentos do País, pelo forte arresto existente sobre o setor de petróleo e gás como um todo.
Pelo lado da oferta, o maior tombo acabou com a Indústria, recuando 6,2%, sendo maior o naufrágio da indústria de transformação, despencando 9,2% e da construção civil, grande empregador de mão de obra, 7,6%. Serviços também recuaram forte, -2,7%, dado o consumo da renda das famílias, e o setor Agropecuário acabou “salvando a lavoura”, crescendo 1,8%.
Chama atenção o desempenho no quarto trimestre, contra o mesmo do ano passado, com o PIB recuando 5,9%. Todos os indicadores despencaram forte, com destaque para a Indústria recuando 8,0%, os Serviços 4,4% e pelo lado da demanda, mais uma vez, os investimentos, 18,5% e o consumo das famílias (-6,8%). Pensando sobre como deve ser o PIB de 2016, difícil imaginar uma virada. Na média do mercado trabalha-se com um PIB recuando em torno de 3,5%, com esta Consultoria acreditando mais no recuo de 4%.
Uma virada da economia, só com renovação política. Não tem mais jeito. O esgotamento das políticas econômicas empregadas pelo governo Dilma no primeiro mandato e a teimosia em manter-se na mesma linha de ação tornam esta tese urgente e inadiável.