Na medida em que nos aproximamos da temporada de decisões de bancos centrais de julho, aumenta de forma significativa a opcionalidade das taxas de juros para cima ao final do ano. Como pano de fundo, permanece o delicado cenário inflacionário global.
Somente para exemplificar o cenário delicado para as autoridades monetárias, vale mencionar que o Banco Central do Canadá elevou a taxa de juros em 1 ponto percentual nesta semana, enquanto a Autoridade Monetária de Singapura e o Banco Central das Filipinas tiveram reuniões extraordinárias para apertar a política monetária. Ou seja, o momento não somente é de retirada de estímulo, mas também de retirada em ritmos crescentes.
O cenário inflacionário não dá sinais de alívio. Os preços de commodities estão em queda em todas as suas aberturas, com petróleo recuando cerca de 20% desde sua alta mais recente em meados de junho. No entanto, este recuo já não alivia as pressões advindas de outros componentes do índice de preços ao consumidor dos EUA.
A abertura da inflação divulgada nesta última quarta-feira mostrou um avanço impressionante de 0,6% na inflação de moradia, puxando a inflação de serviços subjacentes para 0,7% no mês (ou 5,5% no ano). Assim, torna-se mais complexa a tarefa do Fed, que terá de apertar ainda mais a taxa de juros para provocar a desejada convergência da inflação em direção à meta.
O mercado passou a precificar altas chances do próximo movimento da autoridade monetária mais observada no mundo ser de 100 pontos base. Na sexta-feira, logo após a divulgação dos dados de vendas no varejo referentes a junho, o mercado indicava cerca de 25% de chance de o movimento ser desta magnitude, versus 75% de chance de o movimento ser de 75 pontos base.
Nosso cenário base ainda contempla maior chance de alta de 75 pontos base em vez de 100 pontos base, mas parece inegável que os riscos em torno de um ciclo mais intenso de juros e extenso nos EUA, como pontuamos já há algum tempo, estão aumentando.
Neste cenário, a primeira variável a sofrer é o crescimento. Portanto, não é por acaso que o mercado já penaliza commodities, tradicionalmente vinculadas ao ciclo do PIB em detrimento de outras classes de ativos. O risco, no entanto, é que essa amenização de commodities não traga alívio tão intenso e rápido quanto necessário para provocar uma alta menor de juros.
Fora isso, outra notável consequência de mais juros nos EUA e menos crescimento global é o fortalecimento do dólar. Nos últimos cinco dias, o dólar index (DXY) mostra valorização de mais de 1%, enquanto o ganho no ano já se encontra em ordem superior a 13%. Para o real brasileiro, isso é mais um elemento que dificulta uma reversão da tendência de desvalorização observada nos últimos três meses.
Assim, antevemos um ciclo complicado para bancos centrais ao final de julho, com chance de o Fed surpreender pelo lado mais agressivo, enquanto o Banco Central do Brasil pode ser impossibilitado de encerrar o ciclo de alta da Selic em sua reunião no começo de agosto. Em conjunto, essas informações sugerem que precisaremos esperar até setembro para ter mais clareza sobre a dinâmica das taxas de política monetária.