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Fintechs e bancos tradicionais em um ecossistema em transformação

Publicado 21.08.2024, 10:00

Com Guilherme Luiz Rosa*

Com cerca de 1,5 mil fintechs ativas, o Brasil ostenta o maior ecossistema de inovação financeira da América Latina. Essas empresas estão redefinindo o futuro dos serviços financeiros ao introduzir tecnologia de ponta e novos modelos de negócios. Hoje, abrir uma conta e realizar transações pelo smartphone é algo que pode ser feito em minutos, contrastando com as horas que antes eram gastas em uma agência bancária. No entanto, essa revolução tecnológica está apenas começando. Mas será que os bancos tradicionais estão realmente ameaçados? A resposta é mais complexa do que parece.

É inegável a vantagem das fintechs em termos de inovação, agilidade e custos, especialmente para os jovens, que cada vez mais valorizam a conveniência dos smartphones. Segundo a Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária, em 2023, sete em cada dez transações bancárias foram realizadas por dispositivos móveis. Contudo, quando se trata de dinheiro, o que ainda traz segurança e confiança aos clientes são os bancos tradicionais, com sua credibilidade e oferta abrangente de produtos e serviços.

Um estudo da consultoria Oliver Wyman, publicado pelo Valor Econômico, revelou que, em 2023, 77% dos brasileiros tinham mais de uma conta bancária. Entre a Geração Z (14 a 29 anos), 76% possuíam contas em bancos tradicionais e 89% em digitais. Já entre os Baby Boomers (60 a 78 anos), esses números eram 97% e 34%, respectivamente. A verdadeira disputa, porém, está em ser a “conta principal”, já que 72% dos brasileiros utilizam apenas uma conta para a maioria de suas necessidades financeiras, como movimentação, crédito e investimentos.

Embora o sucesso dos bancos tradicionais entre as gerações mais velhas possa parecer um trunfo, a virada de comportamento entre os mais jovens é notável. Ainda assim, os números entre os jovens também mostram uma forte presença dos bancos tradicionais. Mesmo com a diminuição do uso de agências físicas (apenas 12% dos entrevistados frequentam uma agência pelo menos uma vez por semana), os clientes ainda valorizam essa opção. Metade dos correntistas afirmam que a proximidade de uma agência influencia a decisão de manter sua conta, e 52% considerariam mudar de instituição caso o atendimento fosse completamente digitalizado, apesar das filas e deslocamentos necessários.

Os bancos tradicionais, conscientes dessa realidade, estão investindo massivamente em transformação digital para acompanhar as fintechs na corrida por inovação tecnológica. Em seis anos, o orçamento para tecnologia nos grandes bancos duplicou, podendo atingir R$ 47,4 bilhões em 2024.

Os dados mostram que tanto fintechs quanto bancos tradicionais têm seus pontos fortes e desafios. Um não necessariamente significa o fim do outro. Pelo contrário, o futuro dos serviços financeiros no Brasil está sendo moldado por um ecossistema em que inovação, eficiência e experiência do cliente são primordiais. Esse cenário pode levar a uma colaboração entre fintechs e bancos tradicionais, onde um modelo complementa o outro.

Essa colaboração pode se equilibrar através da troca de tecnologia e da base de clientes, ou pela competição, resultando em serviços bancários mais acessíveis, personalizados e econômicos. E, no fim, quem mais ganha com isso é o cliente.

Bancarização: Uma Oportunidade para Reforçar a Competitividade

Nos últimos cinco anos, tanto fintechs quanto bancos tradicionais se beneficiaram significativamente do aumento da bancarização no Brasil. O número de usuários ativos de serviços financeiros cresceu 103,2% nesse período, passando de 77,2 milhões (46,8% da população adulta) para 152 milhões (87,7%), segundo o Relatório de Economia Bancária (REB) do Banco Central.

Esse aumento expressivo na bancarização é atribuído, em grande parte, à abertura de contas pela Caixa Econômica Federal para o pagamento do Auxílio Emergencial durante a pandemia de Covid-19, e ao sucesso do Pix, lançado em 2020.

Apesar do avanço na bancarização, o Brasil ainda não se destacou globalmente no mercado digital. O país caiu no ranking de competitividade digital do International Institute for Management Development (IMD), que avalia a capacidade das economias de adotar e explorar tecnologias digitais para transformação econômica e social. Em 2023, o Brasil ocupava a 57ª posição entre 64 países, ficando atrás de México, Peru e Chile.

Diante de um cenário com cerca de 21 milhões de brasileiros ainda não bancarizados e com potencial de crescimento, fintechs e bancos tradicionais têm uma oportunidade única para liderar projetos que melhorem esses índices de competitividade. Isso inclui a formação de mão de obra qualificada em tecnologia, o aprimoramento da infraestrutura tecnológica e o aumento da capacidade do país de desenvolver inovações de ponta.

*Guilherme Luiz Rosa é mestrando em Administração pela Universidade de Bordeaux e Gerente Nacional de Imprensa da CAIXA

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